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sexta-feira, 15 de março de 2013

A despedida


Não se sabe qual é a do gato
Despedidas são sempre difíceis, mas são necessárias na vida de qualquer pessoa. Alguns ciclos são encerrados e outros são iniciados. Mudanças fazem parte do processo natural da vida humana, afinal, somos todos essas metamorfoses ambulantes. O meu texto de despedida do Estopim é um agradecimento a todos que fizeram com que valorizaram a minha estadia no blog. Fazer parte do desse grupo foi e sempre será uma experiência inigualável.

sexta-feira, 8 de março de 2013

O jovem que criou um método para detectar câncer

Jack Andraka, aluno do ensino médio, foi condecorado com o prêmio de primeiro lugar da Feira Internacional de Ciência e Engenharia de Intel, em 2012. Ele desenvolveu um teste para diagnosticar precocemente e com precisão três tipos de câncer, incluindo um dos mais letais: o de pâncreas. 


A Feira Internacional de Ciência e Engenharia é a maior do mundo para pré-universitários. Com prêmios cobiçados e vários concorrentes, quem levou o primeiro lugar foi o garoto de 15 anos Jack Andraka. Filho de pai polonês e mãe americana, Andraka vive no distrito de Maryland, em Washington, onde cursa o ensino médio num colégio chamado North County High School.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Yoñlu: o prodígio músico e as dicas mortais pela Internet

Vinicius Gagueiro Marques era um jovem inteligente que tinha aptidão para a música. Porém, tinha a alma perturbada e decidiu por um fim na sua vida com o auxílio da Internet. É isso mesmo. Casos de suicídio promovidos com o auxílio da rede são mais comuns do que as pessoas imaginam, aqui apresentarei outros exemplos além da história de Yoñlu, pseudônimo de Vinícius.

Vinícius era Yoñlu na Internet. Ele buscou dicas de métodos mais eficientes e indolores de tirar sua própria vida. Um dos primeiros casos e um dos mais conhecidos de suicídio com auxílio virtual. Natural do Rio Grande do Sul, filho de um professor universitário com uma psicanalista. Superdotado, sabia falar francês e lia Kafka aos doze anos de idade.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Grandes discos dos anos 90

Após a semana de Carnaval, nada melhor que indicações musicais para quem quer ouvir algo diferente dos batuques das escolas de samba. Uma das épocas mais interessantes e de variações musicais é a década de 1990. Belas obras foram lançadas e vale a pena dar uma conferida nessas pérolas, pois são ótimos discos de vários estilos recomendados.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Phellipe Petit - O equilibrista do próprio sonho

Existem sonhos que parecem impossíveis por conta de sua complexidade, mas que ao serem realizados, trazem uma sensação de plenitude, pois foram superadas barreiras consideradas intransponíveis. Desistir ou lutar para o impossível se tornar possível é uma questão de escolha e de força de vontade.


Semana passada, assisti um documentário chamado “O Equilibrista (Man on Wire)”, que contava a história de Phellipe Petit. Ele é um equilibrista francês que começou a andar sobre cordas aos dezesseis anos. No início dos anos 1970, ficou conhecido por se equilibrar em cordas esticadas em grandes edifícios e monumentos. Em 1971, ele fez uma performance para o aniversário de 90 anos de Picasso em Vallarius. No mesmo ano, se equilibrou na Catedral de Notre Dame. Em 1973, ele fez uma performance andando em um cabo estendido entre as duas torres do norte da Ponte da Baía de Sydney, na Austrália, de forma ilegal.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

100 características dos brasileiros

Uma visão de um alemão que está vivendo em Curitiba


O texto original foi escrito por Manuel Schneider, um alemão que vive no Brasil. Eu apenas traduzi, pois achei interessante observarmos a visão que estrangeiros, como Schneider, possuem de nós, brasileiros. O texto original (em inglês) está aqui, no blog de Schneider: Ele também colocou alguns links (em inglês) para justificar algumas de suas afirmações com dados de fontes secundárias, acho desnecessário colocá-los. O importante é o que ele escreveu, mas podem ver os links no texto dele se quiserem. Sem mais delongas, o texto: “O que eu sei sobre os brasileiros 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A vida recapitulada nas páginas de papel

Se você tivesse que colocar no papel um resumo da sua vida até agora, como seria? Se fosse uma fábula, o que haveria entre o “Era uma vez” e o desfecho? Seria um final feliz? E se, em vez de um livro, a vida fosse resumida em um único capítulo? 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Dramas do futebol

Clubes menores sem estrutura e jogadores com problemas de saúde 

O esporte favorito do brasileiro é, sem dúvidas, o futebol. As pessoas vivem discutindo sobre os seus times nas mesas de bar. Os esportistas brasileiros são reconhecidos pelo talento e pela veneração da mídia. A “alegria e ousadia” do jovem Neymar é sempre manchete das matérias esportivas. Mas o futebol brasileiro possui um lado bem menos retratado pela mídia: as dificuldades, a falta de condições de trabalho e os problemas de saúde dos jogadores de times menores.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Sessão nostalgia

Todos tivemos uma infância e, às vezes, esquecemos de valorizar e de relembrar por conta dos contratempos atuais. Mas ela sempre teve parte fundamental para que nós sejamos quem somos hoje. O meu primeiro texto de 2013 é apenas um retrospecto das muitas saudades que a infância deixou na memória.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O sono no período estudantil

Um problema comum que observo nos estudantes, principalmente nos universitários, é a falta de uma boa noite de sono. Relatarei os problemas que a insônia pode ocasionar na vida dos jovens. 

Para uma pessoa se sentir disposta, normalmente, ela deve dormir por sete ou oito horas em média. Porém, muitas pessoas acabam reduzindo esse número por uma série de fatores. Os jovens, que necessitam de energia para estarem dispostos para dias de trabalhos e/ou estudos, também, por muitas vezes, acabam não descansando tempo suficiente para usufruir com plenitude de um dia atarefado. 

A insônia pode ter causas orgânicas e psíquicas. A produção inadequada de serotonina pelo organismo e o estresse provocado pelo desgaste diário ou por ansiedade e pressões podem ser consideradas causas da falta de sono. Os estudantes vivenciam muito essas situações-limites de prazo de entrega de trabalhos, pesquisas extensas e apresentações. Ao viver pressões estressantes e cansativas, eles podem se preocupar em excesso a ponto de perderem boas noites de sono em detrimento dessas questões. 

A falta de sono também pode ser causada por outros distúrbios sérios, como SAHOS (Síndrome da Apnéia Hipopnéia Obstrutiva do Sono), Síndrome das Pernas Inquietas e Parassonias. Outras condições como Depressão, Transtorno da Ansiedade, Fibromialgia, Dor Crônica, Distúrbios Metabólicos Hormonais (por exemplo, doenças da tireóide), algumas medicações e substâncias (estimulantes, benzodiazepínicos, bebidas alcóolicas) também podem contribuir para a falta de sono ou de vontade de dormir. Como visto, a insônia é uma questão séria que precisa de tratamento, principalmente jovens precisam se precaver e procurar ajuda, já que dias completos podem ser comprometidos e improdutivos por noites mal dormidas. 

A insônia também pode ser definida em três estágios: a inicial, na qual a pessoa tem falta de vontade de dormir e dificuldades para pegar no sono. A de manutenção, na qual a pessoa desperta por diversas vezes durante a noite, e a terminal, na qual a pessoa acorda antes da hora desejada. As três podem prejudicar consideravelmente o sono de uma pessoa, algumas vezes, sendo graves ao ponto de uma pessoa passar noites em claro ou dormindo bem menos das horas necessárias. 

Segundo Drauzio Varella, algumas medidas podem ser feitas para combater a insônia, que é um problema médico que deve ser combatido. Limitar o consumo de cafeína, praticar exercícios físicos (sem ser antes de dormir), procurar atividades relaxantes antes de dormir (como ouvir músicas, ler um livro), tomar um banho morno para relaxar os músculos tensos durante um dia incessante, tomar chás à base de ervas, conversar com médicos sobre as medicações utilizadas (algumas podem causar insônia), etc. Os estudantes precisam entender que o desenvolvimento deles pode ser comprometido por conta de noites de sono perdidas, ajuda e conscientização de que esse é um problema sério. Sempre tive colegas que se queixam de falta de sono como se fosse algo normal, mas é um problema que precisa ser observado mais atentamente. Jovens precisam revigorar as energias para produzir mais, aprender mais e aproveitar melhor os dias.

Felipe Kowalski

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A popularidade do humor politicamente incorreto

Image and video hosting by TinyPicA moral e os bons costumes são questões prezadas pela sociedade, mas o humor utiliza da deturpação desse modelo para atingir, criticar e, por vezes, chocar, essa mesma sociedade. Apesar de tudo, muita gente se diverte com isso, sabendo distinguir a realidade da ficção humorística. 


Uma vez um amigo meu disse que tinha uma piada para contar. Ele perguntou para mim e para as outras pessoas que estavam ao redor: “vocês querem ver como um leproso prepara carne moída?” e logo em seguida esfregou as duas palmas das mãos uma contra a outra. As pessoas, já meio alteradas por conta do álcool, deram muita risada. Não que a piada fosse extraordinária, mas era de fácil compreensão. Na hora, ninguém questionou se era uma brincadeira maldosa, que tem pessoas que sofrem muito por conta da lepra. É preciso saber que o humor negro não foi feito para levar com seriedade ou com maldade, é apenas uma forma de achar graça na desgraça, o que é extremamente necessário para se levar uma vida mais alegre e descontraída. 

Imagine um mundo no qual o humor politicamente incorreto fosse proibido. Só haveria um humor infantil ou com piadas sutis (mais sutis que as piadas de humor inglês, como Monty Phyton, que tem algumas tiradas satíricas e críticas). 

Aliás, um dos grandes trunfos do humor é a crítica social, que é muito relevante para a formação das pessoas. O humor crítico por si só já é politicamente incorreto, pois vai contra as vertentes do conformismo social, portanto o politicamente incorreto é necessário na vida das pessoas para que elas saibam olhar o mundo com uma visão crítica e inconformada com as irregularidades. 

O humor politicamente incorreto foi aos poucos atingindo novos patamares. Os desenhos animados, que continham uma violência leve e divertida, como Tom E Jerry, Looney Tunes, agora possuem linguagem mais adulta, temas mais controversos e mais violência explícita, como South Park, Simpsons, Uma Família da Pesada, Beavis E Butt-Head. O humor ácido do Stand Up Comedy foi ganhando mais espaço. Filmes mais violentos e com humor negro estão mais populares do que nunca, como as películas de Tarantino e Robert Rodriguez. Mas mesmo agora, com mais espaço, o humor negro ou politicamente incorreto sempre esteve presente. O que seria de Woody Allen sem suas sacadas geniais? Eddie Murphy não tinha papas na língua em seus shows de stand up que, aliás, foi ganhando muita popularidade pelas piadas inescrupulosas que fazem o público ir ao delírio. Laranja Mecânica sempre foi controverso e isso causou alvoroço e sucesso, tanto do livro quando do filme. Lolita falava de um amor de um homem bem mais velho com uma adolescente, se a personagem fosse uma adulta, a obra não seria tão marcante. Por isso não podemos ser hipócritas e devemos abraçar o politicamente incorreto, que faz parte do senso crítico e criativo do ser humano. Claro que devemos distinguir o certo do errado na nossa vida pessoal, mas esse lado mais renegado deve sempre estar presente para que nós não sejamos tão inocentes e para que nós comecemos a observar a vida de uma forma diferente e com mais astúcia. 

A “maldade”, tão criticada nos julgamentos de que não é politicamente correto, está, invariavelmente, em todos nós, e não há “maldade” nenhuma nisso, pois é natural. A “maldade” está nos olhos de quem vê.


Quadro de Fernando Caruso no programa Estranhamente

Felipe Kowalski

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A história de dois músicos nas ruas de Florianópolis

A paz de Yamandu 

Uma bela manhã no meio de uma agitada semana, quinta-feira para ser mais preciso. As pessoas caminham com pressa, indo trabalhar ou cumprir seus afazeres. Nem todos parecem ter essa agitação na praça, há pessoas sentadas no banco se distraindo com seus jornais, vendedores ambulantes esperando por sua clientela, ciganas sentadas esperando para ler a mão de alguém por um trocado, turistas tirando foto da grande figueira. Pessoas de todos os tipos habitam a Praça XV, que chama a atenção por seus vários caminhos, pela diversidade cultural (as pessoas caminhando por lá possuem milhares de estilos e modos de se vestir, há desde pessoas de terno carregando maletas até jovens com camisas largas e bonés de lado) e pelas grandes árvores que existem por lá, dentre elas, como já mencionei, destaca-se a centenária figueira com seus longos galhos que cobrem boa parte da praça, sustentados por hastes metálicas. 

Seguindo meu caminho pela Praça XV, ouço um som bastante peculiar, um solo de violão. Depois ouço uma voz. Vejo um músico de cabelos curtos e grisalhos, camisa cinza clara, calças jeans e sapatos marrons escuros, sentado numa caixa de som que parece ter sido bastante utilizada, cantando com bastante empolgação, balançando a cabeça enquanto as palavras, em espanhol, saem de sua boca em frente ao microfone. Na frente dele, há vários CD’s enfileirados no chão. 

Seu nome estava estampado na capa do CD, Yamandu Paz. Um músico uruguaio, de Rivera, cidade pequena que faz fronteira com Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul. 

Ele, que toca violão desde os 15 anos de idade, diz que seus estilos favoritos são o tango e música de folclore, apesar de também gostar dos clássicos. Além do violão, ele diz que toca gaita, sanfona e acordeom, mas o carro-chefe é o seu bom e velho violão, sempre afinado. 

Veio viver em Florianópolis pela primeira vez, tocando violão nas praças, há 4 anos, mas sempre indo e voltando. Esse ano, segundo ele, quer permanecer morando em Florianópolis. Yamandu se diz adaptado ao lugar, pois é uma cidade pequena, aconchegante e receptiva, morando de aluguel. 

Além de Florianópolis, Yamandu me disse que já esteve em diversos outros lugares, sempre tocando nas ruas. Já esteve na Argentina, Bolívia e conhece quase o Brasil todo, desde Curitiba até o nordeste. Já morou em Porto Alegre em 90. 

Anteriormente, teve diversos outros trabalhos. Fazia próteses dentárias, teve borracharia, lava-jato, trabalhou em empresas. Hoje, diz que só quer viver de música. Vive de forma humilde, mas com o que ganha, só com a música, já consegue pegar o aluguel, botar comida na mesa e viver bem, honestamente.

Todos os dias está na Praça, por volta das 9:00 até às 16:00. Yamandu diz que a rotina cansa, mas ele não tem escolha, e diz novamente que agora só quer viver de música. 

Toca nas ruas sempre com um fundo recortado de garrafa de refrigerante cheio de trocados que as pessoas deixam. Pessoas muito receptivas, que param e dão valor ao seu trabalho, segundo Yamandu. Além disso, ele vende seus Cd’s e outros álbuns de outros artistas. Cada um custa quinze reais e sempre tem gente para comprá-los. 

Um músico estrangeiro, completamente adaptado à cidade e sempre muito atencioso, talentoso e apaixonado pela música. Esse é Yamandu Paz. 

Numa segunda visita, vejo Yamandu ajeitando suas coisas para começar a trabalhar. Eram cerca de 9:30h e ela estava plugando o cabo de sua caixa de som numa outra caixa de metal num poste na praça. “Alta voltagem” estava escrito em letras bem grandes. Ele fala que não possui um site oficial, mas gentilmente me passou o seu número de celular caso eu queira entrar em contato. 

Ele diz que ninguém diferente apareceu nem nada muito inusitado aconteceu com ele nesses anos todos, ninguém que chamasse a atenção dele parou e o abordou de uma forma mais incomum. Ele diz que seus dias são normais, ele apenas se senta e faz o seu trabalho normalmente, sem grandes surpresas, mas menciono um vídeo no Youtube em que ele toca, em pé, nas ruas de Curitiba, cantando a música “Romaria” (conhecida pelo refrão “sou caipira Pirapora Nossa Senhora de Aparecida”). Ele abre um sorriso e fala que uma mulher havia entrado no clima e filmado, lembra que foi há cerca de três semanas e estava tudo muito enjambrado, sem microfone ou caixas de som. 

Lembra que outro vídeo foi gravado com ele em frente à figueira, mas que não sabe se já foi colocado na internet. Ao ser perguntado se ele faz shows em outros lugares, Yamandu sempre diz: “o meu palco é na praça, aqui é o meu lugar”. Sempre reiterando que agora ele quer viver apenas de música e está tendo êxito com isso. 

Yamandu é um dos poucos remanescentes que continuam nas ruas de Florianópolis e se manteve com a sua rotina estável, até o momento. É otimista e pretende continuar exercendo seu trabalho normalmente enquanto ele está por aqui. Afinal, ele é o único músico que está tocando na Praça XV todo dia e toda tarde, e como ele quer viver apenas de música, é uma esperança que teremos o surgimento de mais demonstrações artísticas, por trabalho e por prazer. 

Vocação é algo que é preciso muita prática e empenho para aprimorar. Yamandu Paz toca desde os 15 anos e manteve esse apreço pela música desde então. Muitos desistiram, mas ele é um dos vários artistas que continuaram a se empenhar em aprimorar seus dotes musicais diariamente. Pode não ter tido a fama e o dinheiro que muitos artistas almejam quando entram para esse mundo, mas ele possui o prestígio de pessoas que reconhecem sua dedicação e a boa música, tendo a perseverança e o talento que muitos não possuem, além do mais importante: a paixão pelo que faz. 

Yamandu, aparentemente, está bem satisfeito em ter chegado aonde ele chegou. Os discos vendem, as pessoas contribuem, ele toca diversas músicas de seu repertório (desde músicas uruguaias até brasileiras). Então ele é um batalhador, assim como a maioria das pessoas, que se dedicou em chegar onde ele está hoje. Enquanto muitos ainda procuram sua própria paz, música é a paz de Yamandu.

Charles e seu sonho orquestral 

Andando pela Trajano no horário de almoço (às 12:45) vejo uma movimentação intensa no local. Jovens se alimentando em estabelecimentos próximos, como a Massa Viva e o Bob’s, pessoas andando com pressa para retornar aos seus trabalhos, idosos aproveitando para caminhar um pouco, comerciantes ambulantes carregando seus produtos, ou seja, a quantidade de cidadãos andando naquele lugar era enorme.

Longe da agitação, entro na Losango Promotora de Vendas Ltda. Haviam pessoas que entravam procurando atendimento, mas nada muito exagerado. Uns minutos depois, aparece um rapaz simpático de óculos de grau e sorriso fácil, ele estava com o uniforme da Losango, indicando que trabalha lá. Era Charles Espíndola, de 18 anos, manézinho da ilha, cujo cartão diz que toca violino em festas, eventos, casamentos, aniversários, confraternizações e homenagens. Ele é conhecido por, até duas semanas atrás, tocar violino pelas ruas de Florianópolis. 

Charles me conta que toca violino há quase 5 anos, desde os 13. Não conhecia quase nada de música até receber um convite da supervisora da Escola Estadual Urbana Jurema Cavalazzi (onde Charles estudava no período diurno) aos alunos para aprender a tocar instrumentos como viola, violino ou violoncelo num projeto da Fundação Franklin Cascaes. Como apenas escutava MPB que a mãe gosta de ouvir e não tinha muito o que fazer depois da aula, Charles pensou em aprender a viola (para posteriormente aprender violão), mas se surpreendeu em ver que a viola não era do tipo “caipira”, e sim uma espécie de violino com cordas mas graves. Apesar disso, decidiu continuar com as aulas. Haviam mais alunos que instrumentos musicais, o que impossibilitava os empréstimos para os estudantes ensaiarem em suas casas, tinham que dividir entre eles.

Porém, com o passar do tempo, ocorreram várias desistências e Charles ficou bastante feliz ao poder pegar a viola emprestada para ensaiar, já que, agora, havia um instrumento para cada aluno. 

Como ele não tinha mais nada pra fazer depois das aulas (não tinha videogame, computador, jogos), ele fazia as tarefas e deveres de casa para ensaiar. Ficava por volta das 14h até as 18h só treinando, dizia que sua irmã mais nova se incomodava com o som, quando ela queria assistir televisão. 

Já que ele se tornou um aluno de viola/violino bastante avançado, Charles comprou seu próprio instrumento e viu que, no Chile, em Viña Del Mar, Valparaíso, havia um encontro de jovens músicos. Seu professor perguntou se ele queria mesmo viajar, ao receber a resposta afirmativa, ele disse que Charles iria viajar, agora era só arrumar o dinheiro. Como era caro (por volta de 2000 reais), Charles decidiu tentar a sorte e tocar nas ruas. Ficava inicialmente na Jerônimo Coelho, próximo da Panvel, e no mercado público. Tocava músicas clássicas, românticas e tango, principalmente. Inclusive, o que diferencia Charles é o violino, sua marca registrada. É um instrumento mais exótico e “refinado”, raro de ver as pessoas tocarem nas ruas.

No inicio, dizia ficar acanhado, pois seus amigos poderiam dizer que ele estava esmolando ou algo parecido, mas depois, quase todos da região o conheciam e a timidez deu lugar para o empenho. Chegou a aparecer na televisão, numa matéria de esportes, já que sabia tocar o hino do Avaí. Charles já presenciou cenas inusitadas nas ruas, quando como recebeu, por duas vezes, notas de cinqüenta reais de um mesmo sujeito, ou quando, ao tocar um tango, viu uma mulher, possivelmente estrangeira, chorar em sua frente. 

Com o reconhecimento, Charles foi tocar também no Maria’s Gourmet, restaurante da Jerônimo Coelho que o acolheu, através de uma pessoa chamada Carla, que o convidou para fazer a sua música lá no horário de almoço em troca de um pagamento extra e almoços gratuitos. Seu cronograma acabou ficando o seguinte: estudava de manhã até o meio-dia, tocava nas ruas por volta das 14h até as 16h30minh ou 17h e ia ensaiar na orquestra profissional das 19h até as 21h. Ou seja, das 14h até as 21h sua dedicação era totalmente voltada para a música. Seu maestro e professor é André Vieira, bastante requisitado em Florianópolis. 

Porém, nas últimas semanas, Charles abandonou a idéia de tocar nas ruas quando cobraram dele um alvará para continuar. Ele “escapa” de vez em quando para o Maria’s Gourmet, para dizer que “ainda está vivo”, mas como já conseguiu bastante renda nas ruas, ele parou. Agora, trabalha na Losango atendendo clientes (inclusive nos sábados), toca em diversos eventos (alguns arrumados pelo próprio tutor, André Vieira. Nos que André não consegue ir, ele manda alunos mais experientes, como Charles). Além de tudo, Charles dá aulas (já foi requisitado para isso quando tocava nas ruas) para alunos fixos. Ele conta que seus pupilos são bastante empolgados, uns já compraram seus próprios instrumentos (ele tinha dois violinos, um ele emprestava para os alunos, mas ele precisou vender esse segundo instrumento para acumular renda). Dá aulas em uma creche na Vila Aparecida e no Pântano do Sul, que considera um lugar bem longe, com longas horas de ônibus para chegar até lá. Ele sempre recomenda que seus alunos compareçam também no Instituto Franklin Cascaes, onde ele começou, para que tenham aulas gratuitas. Inclusive Charles dá aulas lá também. 

Charles não possuí um site oficial, mas já lançou músicas no Youtube com auxílio do programa Audacity. Tocou uma música Gospel e “Yesterday” dos Beatles. Diz que possuí uma mente bem criativa, mas faltam mais teorias e conhecimentos melódicos para compor suas próprias canções. Porém, não deixa de afirmar que adora improvisar. 

Sempre fala que quer viajar, arrumar mais contatos e expandir seus horizontes. Quer se aprimorar numa segunda língua, já que sabe o básico do inglês. Têm planos de viajar para aprender sobre música e culturas diferentes. Possui muitos sonhos, como ele mesmo diz: “só ter a experiência de fazer um teste para entrar na orquestra de Viena, já seria uma honra enorme”. Adquirir conhecimentos novos pelo mundo e fazer o que gosta são sonhos que Charles pretende realizar com todo o seu empenho e devoção à música.

Yamandu Paz e Charles Espíndola podem ter diferenças gritantes e histórias de vida bem diferentes, mas ambos possuem a mesma paixão: a música que corre nas veias de ambos.

Felipe Kowalski

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A busca pelo inexistente

As pessoas costumam sempre idealizar algo que elas necessitam. Muitas vezes, essas coisas estão fora do alcance, por serem tidas como perfeitas. A realidade não é e nunca será perfeita, o que acaba trazendo decepções infundadas por idealizações impossíveis. 

A busca pela perfeição é algo mais comum do que se imagina. As pessoas perfeccionistas querem atingir um padrão de vida inalcançável. A perfeição é algo criado pelas pessoas, mas que não condiz com a realidade da vida. Muitas pessoas buscam o que veem na televisão, que com seus comerciais elaborados, novelas que trazem realidades distintas e famosos com vidas luxuosas, acaba sendo uma grande culpada de plantar sonhos impossíveis na cabeça de meros mortais. 

Em vez de querer viver a própria vida, as pessoas acabam querendo ter a vida de outras pessoas. Ter um corpo perfeito, uma aparência física irreparável, casas e carros luxuosos. Nenhuma vida é perfeita, nem mesmo a de pessoas famosas e de prestígio social. A vida particular das pessoas é repleta de insatisfações e imperfeições, o que é perfeitamente natural. Somos feitos de carne e osso, temos dias bons e ruins. Sempre queremos mais e nunca nos satisfazemos por completo. 

O problema é quando as pessoas teimam em buscar uma vida que não é delas e que não é perfeita como elas pensam. A sociedade é feita de aparências. Muitos famosos, como James Dean e Marylin Monroe, eram tidos como exemplos de perfeição física, com vidas incríveis, talentos infinitos e com uma vida pessoal plena. Mas eles viveram vidas desregradas, morreram jovens e bonitos. É comum pré-julgar que eles eram seres ideais, mas eles eram apenas humanos, como eu e você. Eles também tinham incertezas, inseguranças, medos e sonhos não-realizados. 

As pessoas precisam parar de buscar viver um conto de fadas. A realidade é dura, por muitas vezes. Vamos todos receber algumas pancadas, mas a vida é assim. Temos que conviver com nossos demônios e buscar coisas alcançáveis. Não é preciso se conformar com o que tem, mas é mais saudável quando temos noção de que devemos buscar realizações dentro de nossa possibilidade. Não dá para nascer como uma outra pessoa, somos quem podemos ser. E essa é a vida que deveremos aproveitar. A busca por pensamentos e personalidade própria é necessária para que possamos ser os melhores dentro de nossa realidade. Que graça teria se a vida fosse perfeita, tudo certinho e cheio de alegria? A vida é feita de emoções e de surpresas, devemos nos deixar sermos surpreendidos, por coisas boas e ruins. C’est la vie.

Felipe Kowalski

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Relatos de uma vida cotidiana

O despertador toca às sete horas da manhã. Hora de acordar para iniciar um novo dia sob a luz de um sol nascente. O banho morno de toda manhã é o primeiro passo. A roupa devidamente selecionada para mais uma jornada de trabalho. Hora de tomar um café quente para que a disposição apareça. Após o café tomado às pressas, os dentes são escovados com a pasta de dente. O sabor de menta tão familiar ficará na boca durante o resto da manhã. A porta de casa é chaveada, segurança em primeiro lugar! A frase que vêm à cabeça é “run, Forrest, run!”. Não se pode chegar atrasado, todos os horários devem ser preenchidos com perfeição. O ponto de ônibus está lotado de pessoas, algumas engravatadas, outras de calças jeans. Não há tempo para pensar nisso, é preciso foco no serviço, preparar o material. Depois de 45 minutos num ônibus quente, hora de trabalhar. O computador será a única e necessária companhia. Os dedos já acostumados começam a digitar tecla por tecla, formando palavras bonitas e politicamente corretas. Gráficos são sempre bem-vindos, para demonstrar dados em números que comprovam o potencial da empresa. Números são indiscutíveis numa sociedade que preza por dados exatos. Hora do almoço, depois de digitar tanto, um break é mais do que necessário. Mas tempo é dinheiro! Melhor comer logo e voltar ao exercício da digitação. Uma carne acompanhada por uma salada colorida é uma boa opção, dentro do que é oferecido. Digitar, digitar, digitar. Até às sete horas da noite esse será o foco. Transmitir uma mensagem que não é minha, mas sim da empresa. Quanto mais palavras e números são digitados, menos pensamentos afligem a mente. Para que pensar dos problemas sociais, pessoais e familiares quando se precisa do dinheiro no fim do mês? É pouco, mas as contas precisam ser pagas. Sem eletricidade, não tem televisão para ver o futebol no sagrado domingo. Sem água, não tem banho morno. Sem dinheiro, não tem aquela cervejinha para relaxar. É preciso foco e determinação para vencer na vida profissionalmente. Fim do expediente, hora de pegar outro latão para chegar em casa. Ônibus cheio de gente cansada e triste, mas se importar com o próximo é esforço demais para alguém que digitou o dia inteiro, em frente a uma tela brilhante de computador. Engarrafamento é algo que faz parte do cotidiano, as estradas são assim mesmo. Após um longo dia de trabalho e transito, a televisão é ligada. Enquanto um sanduíche de mortadela é preparado, o noticiário do jornal é uma distração válida. Vai chover amanhã, segundo a previsão do tempo. A criminalidade continua fazendo vítimas. Assaltos e depredação de caixas eletrônicos. O sanduíche é devorado em poucas mordidas. A nova novela começará em seguida. Após a novela, um filme velho é anunciado, mas não há tempo para isso, os olhos cansados não permitem maiores distrações. Novamente o gosto suave da pasta de dente sabor menta. A roupa de trabalho é substituída para a roupa de dormir, que é só uma bermuda de pijama. Ajuste do despertador para as sete horas do dia seguinte. Remédios são ingeridos com a ajuda de um copo d’água. A coberta é chutada da cama, está uma noite abafada. Uma boa noite de sono é revigorante para o despertar de um velho-novo amanhã.

Felipe Kowalski

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Nove anos sem Elliott Smith

No último domingo, dia 21 de outubro, foram completados nove anos sem Elliott Smith, um compositor excelente com músicas simples, sensíveis e honestas. Poucas melodias são tão verdadeiras, de coração e alma, como as que ele fazia. 

Steven Paul Smith nasceu em Nebraska no dia 6 de Agosto de 1969, seus pais se separaram um ano depois e ele foi morar com sua mãe no Texas. Ele teve uma infância complicada com um relacionamento turbulento e abusivo com o seu padrasto Charlie (o tempo com o seu padrasto foi mencionado em algumas músicas). Aos nove anos ele começou a tocar piano e aos dez estava aprendendo a tocar violão. 

Aos 14 anos ele foi viver com o seu pai, que estava trabalhando como psiquiatra, em Oregon. Nessa época ele conheceu pela primeira vez o mundo das drogas e do álcool. Ele aprendeu a tocar clarinete e guitarra, começou a ser conhecido como “Elliott” e gravou suas primeiras músicas. 

Smith formou-se em filosofia e ciências políticas em 1991, em Massachusetts. Nesse tempo ele voltou para o Oregon, formou uma banda chamada Heatmiser. Seu primeiro disco solo, Roman Candle, saiu em 94. As músicas foram gravadas e produzidas pelo próprio Elliott num porão, de forma bem simples, acústica, num estilo Folk. 

Em 95 ele lançou seu segundo disco, “Elliott Smith”, gravado de forma similar ao disco anterior. As músicas falavam de temas recorrentes em sua vida, como drogas, álcool e depressão. Destaque para Needle in the Hay, que ficou mais conhecida e que, mais tarde, fez parte da trilha sonora do filme “Os Excêntricos Tenenbaums”. Em 1996, Elliott grava um curta-metragem: Lucky Three: An Elliott Smith Portrait. 

O terceiro álbum “Either/or” foi lançado em 1997. Foi mais bem produzido que os dois anteriores e fez mais sucesso. Nesse trabalho, Elliott Smith tocou violão, teclado, guitarra, baixo e bateria. “Say Yes” é, definitivamente, a música mais comercial do disco, bem mais otimista e alegre que a maior parte de seu repertório. Outras músicas que ficaram mais marcadas desse disco são “Angeles” e a belíssima “Between the Bars”. Essas três faixas entraram na trilha sonora de “O Gênio Indomável” (com uma nova versão orquestrada de “Between the Bars”), além de “Miss Misery” que foi feita especialmente para o filme e fez bastante sucesso, tanto que Elliott foi indicado ao Oscar, em 1998, pela melhor canção. Aliás, Elliott Smith tocou “Miss Misery” na cerimônia do Oscar. Ele estava sozinho em pé, com um terno e uma calça branca, tocando seu violão enquanto escutavam-se sons de violinos ao fundo. Ele com sua típica voz melancólica canta o primeiro verso da música: “Fingirei isto ao longo dia com a ajuda de Johnny Walker vermelho”. No fim, foi aplaudidíssimo, mas a canção que foi premiada naquele ano foi “My Heart Will Go On” de Celine Dion, trilha do Titanic. 

Elliott ganhou mais repercussão depois do Oscar e da trilha de “O Gênio Indomável”, o que fez com que ele assinasse com a gravadora “Dreamworks”. Mas como nem tudo são flores na vida de Elliott, ele entrou em depressão e mencionou a possibilidade de tentar suicídio. Mais tarde em 98, ele lançou o álbum “Xo”. Destaque para a intensa “Waltz #2”, em que ele fala sobre a relação com sua mãe e seu padrasto. 

Figure 8 foi seu último álbum em vida, lançado em 2000 (curiosamente, a décima sexta e última faixa do álbum se chama “Bye”). Após a gravação e o sucesso de crítica, Elliott tocou em alguns programas, como o de David Letterman e Conan O’Brien. 

Elliott Smith também tocava algumas músicas covers em seus shows, como Blackbird dos Beatles. 

Porém, nos próximos anos, Elliott Smith começou a ficar mais problemático. Seu vício em heroína ficou maior e mostrava sinais de paranoia, mas continuava tocando em alguns shows, principalmente em Los Angeles. Tentou fazer reabilitação e começou a gravar músicas para seu próximo disco, “From a Basement to the Hill”, que foi lançado de forma póstuma. Ele foi encontrado por sua namorada, Jennifer Chiba, com duas facadas em seu peito. Ela afirmou

que os dois discutiam, quando ela se trancou no banheiro. Chiba ouviu o grito de Smith e ao abrir a porta, o encontrou com uma faca em seu peito. Ela tirou a faca de seu peito e chamou a ambulância. Smith morreu no hospital. Sua morte ainda gera controvérsias, pois foi registrada como suicídio, porém a necropsia deixou em aberto a opção de um homicídio. Ele deixou um legado rico e inestimável para a música. Resgatou o Folk numa época em que não haviam muitos artistas do gênero na mídia. Faz muita falta alguém com essa vocação e alma no cenário musical atual.
Felipe Kowalski

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A relação entre a literatura e o cinema:

A importância e os melhores exemplos de adaptações de livros para os cinemas 

A literatura e o cinema sempre estiveram ligados, principalmente com as adaptações que já provaram por A + B que dá muito certo. Muitos dizem que os livros sempre serão melhores que as versões cinematográficas, mas a verdade é que algumas das melhores obras do cinema foram baseadas em livros e as pessoas talvez nem percebam. A verdade é que as adaptações são maneiras diferentes de contar uma história e são essenciais para a criatividade artística. 

A literatura e o cinema são formas de arte e de expressão que se completam. O próprio roteiro do filme é um formato literário adaptado para as filmagens posteriores. Algumas pessoas condenam as adaptações de livros para o cinema, que os filmes nunca contarão a história com os mesmos detalhes e complexidade das palavras contidas no livro e que é uma espécie de “falta de criatividade” dos idealizadores do filme. Eu discordo totalmente, inclusive, penso o contrário: é preciso muita criatividade e perfeccionismo para fazer uma adaptação que seja tão boa quanto o livro, por isso, admiro os cineastas quando vejo que um filme que gosto é adaptado de um livro. 

Alguns exemplos interessantes de adaptações de livros para o cinema vem de autores mais antigos e consagrados. “O Corvo” de Edgar Allan Poe foi retratado no cinema recentemente (e foi um fracasso de crítica e bilheteria), mas existe uma adaptação homônima de 1963 que é mais satírica e surreal, bem interessante e surpreendente. Pouca gente conhece, mas “O Corvo” foi um dos primeiros filmes de Jack Nicholson. A história fala sobre dos bruxos que duelam pela supremacia da magia (os dois bruxos em questão são nada mais, nada menos que Vincent Price e Boris Karloff). Já dá pra perceber que por mais que seja uma adaptação, não tem muito a ver com o conto original. A liberdade criativa e o bom humor fazem dessa obra um tanto diferente, até estranha, mas ainda sim, muito boa. 

Outra autora consagrada com adaptações no cinema é Agatha Christie. A criadora de personagens como Hercule Poirot e Miss Marple possui algumas obras bem interessantes retratadas nos filmes. Talvez a mais conhecida seja “O Expresso do Meio Oriente”, o livro de 1934 foi adaptado nos cinemas em 1974 com o mesmo título. O filme foi dirigido pelo excelente Sidney Lumet com várias estrelas no elenco, como Albert Finney (como o detetive belga Poirot), Ingrid Bergman, Anthony Perkins (o eterno Norman Bates de “Psicose”), Sean Connery, Vanessa Redgrave, entre outros. 

O livro/filme fala de um assassinato no Orient Express, no qual Poirot embarcou por acaso, e agora todos os passageiros são suspeitos de terem cometido o crime. Venceu na categoria de melhor atriz coadjuvante (Ingrid Bergman), além de ser indicado nas categorias de melhor ator (Albert Finney), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor figurino e melhor trilha sonora. 

Talvez o livro mais famoso dela seja “O caso dos dez negrinhos” (título que causou muito alvoroço na época por conta de alegações de racismo). Esse livro não possui nenhum dos personagens consagrados de Agatha Christie, como Poirot, e conta uma história de dez pessoas que são convidadas por um desconhecido e sua esposa para uma temporada de férias numa mansão localizada numa ilha. As pessoas aos poucos vão morrendo para “pagar por seus pecados”, obedecendo a uma cantiga infantil. A medida que alguém morre, uma estatueta das dez que estão na casa desaparece. Foram feitos vários filmes e séries, mas o mais considerado é chamado “O Vingador Invisível” de 1945. Apesar do título fraquinho, o filme é bem interessante e as atuações são excelentes, mas o final é diferente do original, mostrando mais uma vez que as adaptações não precisam ser 100% fidedignas. 

Outro filme baseado numa obra de Agatha Christie é o excelente “Testemunha de Acusação”. Pouca gente sabe que esse filme de 1957 é adaptado, pois a história é diferente das convencionais dela, mas é um dos melhores (se não for o melhor). Conta a história de Leonard Vole (interpretado no filme pelo aclamado Tyrone Power), acusado de ter assassinado uma rica senhora viúva, que deixou a herança para ele. A esposa de Vole é uma alemã misteriosa que não se sabe de que lado ela está. Um famoso advogado (interpretado brilhantemente por Charles Laughton), que acabara de sair do coma por conta de uma parada cardíaca, pega o caso contrariando as recomendações médicas. No final do filme, uma voz anunciava: "A administração deste cinema sugere que, para que seus amigos que ainda não viram o filme possam melhor desfrutá-lo, você não divulgue para ninguém o segredo do final de Testemunha de Acusação.”. O filme recebeu seis indicações ao Oscar. 

Talvez o autor com mais adaptações para o cinema seja Stephen King. Com incontáveis livros de suspense/terror e inúmeros filmes baseados em seus livros. “O Iluminado” adaptado por Stanley Kubrick (que já falei no meu texto sobre Kubrick) talvez seja o mais premiado e renomado, o livro é excepcional e o filme é uma obra-prima. Outros filmes adaptados de obras dele são: Colheita Maldita, Um Sonho de Liberdade, Carrie: a Estranha, Cemitério Maldito, Christine – O Carro Assassino, It, O Apanhador de Sonhos, Louca Obsessão, Eclipse Total, O Aprendiz, entre muitos outros. Dois filmes parecem que não são cria de Stephen King por seu enredo diferente das obras de horror, mas são e vale a pena assisti-los: A Espera de um Milagre e Conta Comigo (que passava muito na sessão da tarde). 

As animações também tem vez nas adaptações. O que seria de Walt Disney sem seus desenhos baseados em contos infantis? Alice no País das Maravilhas, Branca de neve e os Sete Anões, Cinderela e A Bela Adormecida são ótimos exemplos de que adaptações podem ser obras de arte nas mãos certas. 

Capote foi um aclamado escritor que teve suas obras nas telonas. O sucesso “Bonequinha de Luxo” foi filmado em 1961 com Audrey Hepburn como protagonista. Concorreu a cinco prêmios do Oscar e venceu dois, por melhor trilha sonora e melhor canção. Mas sem dúvidas a obra-prima de Capote foi “A Sangue Frio”, publicado em 1966. Capote foi a Holocomb, cidadezinha do Texas de 270 habitantes, onde teve um brutal assassinato de uma família inteira em 1959. Com anos de pesquisa sobre o caso, Capote descreveu com precisão a investigação, a história dos quatro membros da família Clutter, assassinada, a reação da população e a história dos assassinos, Richard Hickock e Perry Smith (por quem Capote acabou se afeiçoando mais). Capote ia na cela entrevistar os assassinos até a execução de ambos, em 14 de abril de 1965. O livro demorou sete anos para ser concluído e nesse tempo, os capítulos eram divulgados aos poucos no jornal New Yorker. Essa foi considerada a primeira obra o movimento chamado “The New Journalism”, como um “romance não-ficcional”, o que abriu as portas para muitas outras obras influenciadas pelo livro. 

Como o livro teve essa repercussão e importância na literatura e no jornalismo, adaptações para o cinema não faltaram. “A Sangue Frio” (1967) e “Confidencial” (2006) são dois exemplos, mas o filme mais interessante é definitivamente “Capote” de 2005. Ele retrata além da história do livro, a relação e as pesquisas de Truman Capote. Philip Seymour Hoffman atuou com maestria, interpretando Capote com todo o seu carisma, arrogância, defeitos, “achismos” e convicções, sem esconder os seus defeitos. Com cinco indicações ao Oscar e o prêmio mais que merecido de melhor ator ao Hoffman. 

Por falar em jornalismo, nessa época de eleições nada melhor que uma adaptação de um livro histórico sobre jornalismo político. “Todos os Homens do Presidente”. O filme de 1976 foi baseado no livro homônimo de 1974 e fala de como dois repórteres inexperientes do Washington Post acabaram desvendando o escândalo do Watergate, entre 1970 e 1972, que culminou com a queda do presidente americano Richard Nixon. 

Os dois jornalistas, Bob Woodward e Carl Bernstein (interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman, respectivamente), foram desde o início das investigações, quando cinco homens foram detidos por invadirem a sede dos democratas, no edifício Watergate. Poucos acreditavam em Woodward e Bernstein e eles colocaram as suas vidas e o jornal em risco com suas acusações. Mas o jornal resolveu bancar a história, que acabou se tornando verdadeira e foi um dos maiores escândalos políticos da história americana. Woodward entrava em contato com um informante misterioso, identificado apenas como “Garganta Profunda” (o mesmo nome de um polêmico filme pornográfico da época). Garganta Profunda só se identificou em 2005, três anos antes de morrer com 95 anos. Era William Mark Felt, que foi vice-presidente do FBI na década de 70 e ajudou Woodward a desvendar a podridão e o esquema de escutas de Nixon e seus funcionários de alto escalão. Recebeu oito indicações ao Oscar e venceu quatro. Um dos melhores filmes de jornalismo investigativo, e é uma adaptação. 

Outro livro que virou um filme muito cultuado é “Um Estranho no Ninho”, de Ken Kesey. Tanto o filme quanto o livro se tornaram ícones da contracultura. Kesey foi cobaia de um estudo de drogas psicoativas e trabalhou num hospital de veteranos. Esses experiências foram influencias do livro, de 1962, que falava de um prisioneiro que se fingiu de louco para ser transferido para um manicômio, e lá ele descobre que as coisas não são tão fáceis como ele achava. O filme foi estrelado por Jack Nicholson e venceu cinco Oscars. 

Caso você não esteja convencido ainda da importância das adaptações literárias do cinema, outros exemplos importantes são: Laranja Mecânica, 2001: Uma Odisséia no Espaço, O Guia do Mochileiro das Galáxias, Ben-Hur, Doutor Jivago, O Júri, Ensaio sobre a Cegueira, Dom Casmurro, O Guarani, O Jardim Secreto, entre muitos outros. A literatura e a sétima arte sempre andarão juntas, como unha e carne. Ambas são importantes para a propagação de cultura e para a criatividade humana. É preciso quebrar o mito de que filmes baseados em livro sempre serão piores que a história original, elas são apenas diferentes, até por conta de que os formatos são diferentes. Mas é inegável a importância de ambas e espero que haja mais adaptações maravilhosas nos cinemas. A crítica que faço é que existem muitas boas adaptações no cinema de livros, mas não há muitas coisas para dizer do contrário. As adaptações literárias de filmes são poucas e sem muito sucesso, deveriam existir mais livros posteriores aos filmes também. Fora isso, adaptações são sempre bem-vindas se forem criativas e inteligentes.
Felipe Kowalki

sábado, 6 de outubro de 2012

A velha arte da escrita e a explosão de informações alternativas 

Escrever é uma viagem através do mundo das palavras que nos possibilita contar milhares de histórias para nós mesmos e/ou para várias pessoas, conhecidas ou não. As palavras podem ser uma boa forma de exteriorizar nossos demônios e proporcionar uma explosão de ideias e sentimentos. 

O homem sempre buscou meios de se comunicar com o mundo e com os seus semelhantes. Para isso, desenvolveu as palavras e a escrita. Colocar as letras no papel passa uma sensação de liberdade proporcionada por um sentimento de que nenhuma palavra será abandonada. Quando falamos, muitas vezes, esquecemos de dizer o essencial e a comunicação, pelo fato de ser espontânea, se torna incompleta. Com a escrita, podemos corrigir, voltar atrás e fazer alterações até que a mensagem que queremos passar se torne ideal. 

O papel e a caneta são as melhores companhias das pessoas que querem transferir pensamentos para algo concreto, para que não caia no esquecimento. O que pode ser um primeiro passo para a transferência desses pensamentos para outras pessoas. A aplicação desses conceitos e conhecimentos na prática que pode gerar livros, contos, cartas, jornais, crônicas, mensagens e todo o tipo de troca necessária para que a sociedade seja devidamente informada. 

Com o advento da internet, a escrita se tornou ainda mais utilizada para propagar uma quantidade gigantesca de informações. Ideais de todo o tipo e o jornalismo alternativo possuem mais espaço na mídia cibernética. A falta de controle dos grandes poderes nas informações propagadas pode ser considerada um “estopim”. Essa maior liberdade de expressão, que por anos foi tão execrada, é uma bomba de “desabafos” e “ponderações” prestes à explodir. Seria muito bom que mais pessoas procurassem o outro lado da moeda, ver além do Cidadão Kane, além das notícias que passam na grande mídia. Mas só o fato dessas ideias conseguirem ser propagadas já é algo que merece ser comemorado. E o Estopim conseguiu com êxito ter o seu espaço, tanto que já dura um ano. Portanto, a comemoração merece ser dupla, pelo Estopim e pela conquista de espaço do jornalismo alternativo. 

E como “estopim” quer dizer “algo que irá causar uma explosão/reação”, acredito que ainda há mais novidades por aí, que irão acender a pólvora causando uma explosão de ideais e de vozes. Que venham muitos anos mais de Estopim e de todos os outros portais que trazem ideias diferentes e essenciais para que o público veja o outro lado da moeda e separe o joio do trigo.

Felipe Kowalski

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A solidão na juventude escondida pelo comodismo social

A solidão é um dos males que mais assola a sociedade, inclusive os jovens são cada vez mais solitários. Mas numa sociedade que preza pelas aparências, essa questão acaba sendo escondida e varrida para debaixo do tapete. 

Uma sociedade individualista como a nossa prega que as pessoas devem ser superiores às outras no âmbito profissional e pessoal. A concorrência no mercado de trabalho é um fator determinante para que a confiança nos outros seja algo cada vez menos existente. A comunicação, por muitas vezes, é apenas por interesses e ocorre através do computador ou do celular. Ninguém tem tempo para mais nada, por conta do imediatismo e da correria do dia-a-dia. É muito raro encontrar pessoas que se conhecem de verdade. 

Os tempos mudaram, vejo isso até pelos exemplos daqui de casa. O meu pai vive com a mesma turma de amigos há vários anos, são inseparáveis. Já eu não consigo manter relações constantes e íntimas com praticamente ninguém. As amizades de infância ficaram distantes e cada um tomou um rumo diferente na vida. 

Com as relações humanas se tornando mais inconstantes, as pessoas vão em busca de relações cada vez mais frias e menos sólidas. As noites saem em busca de companhia, mas nada que seja muito duradouro. Relações de uma ou poucas noites, sem amor, sem amizade, sem vínculos. 

Mas a sociedade vive muito de aparências, o que faz com que as pessoas finjam muito estar adequadas e se sentindo bem. Já vivenciei várias vezes comentários do tipo: “por que as pessoas em volta estão bem e eu não?” 

Se questionamentos desse tipo são recorrentes e feitos por diversas pessoas, pode-se concluir logicamente que as “pessoas em volta” não estão tão bem assim. 

A busca recorrente por relacionamentos e por uma vida social geralmente serve apenas para omitir a natureza solitária desses jovens desesperados. A natureza humana pede por relações e convívio, mas a sociedade preza pelo individualismo e pelas qualificações pessoais. Como sair disso? 

A reflexão é válida, pois o futuro dos jovens pode ser comprometido por conta do isolamento social e da solidão. Vi recentemente um documentário feito pela sessão Extra do site globo.com que mostra a vida de pessoas solitárias, que viveram “muita coisa” como a juventude de agora e acabaram em situações bem complicadas. Inclusive mostra um homem que frequenta diversos grupos de ajuda, até mesmo sem necessidade (como grupos de tratamento de câncer ou o AA). É uma situação semelhante à mostrada no filme “Clube da Luta”, mas nesse caso, não é fictício.

A introdução da matéria que mostra essas histórias é assim: “O mundo tem 7 bilhões de habitantes. Desses, 190.732.694 vivem no Brasil - um país que tem 79.245.740 pessoas conectadas à internet. Dentro desse universo de números que tentam parecer precisos, o que é ser precisamente 1? Sentir-se solitário dentro de um quarto escuro?”

Acredito que o pior tipo de solidão (se é que existe um “pior tipo”) e o mais recorrente é aquela em que você se sente só, não apenas num “quarto escuro”, mas no meio de uma multidão, sem se sentir pertencente àquele lugar. 

É preciso encontrar forças para driblar as adversidades impostas pela sociedade e não se sentir pior por conta da situação dos outros, que muitas vezes parece algo que não é a realidade.

Todos, sem exceção, somos solitários, de certa forma. A única pessoa que convive conosco por todas as horas e sabe de todos os nossos dilemas existenciais, é a gente mesmo. Só precisamos aceitar isso e procurar encontrar a companhia necessária com as pessoas certas. É melhor uma pessoa importante do que centenas de pessoas que não trazem a satisfação de uma companhia verdadeira.

Felipe Kowalski

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O arco-íris no fim do pote de ouro


Sim, você não está lendo errado. É o arco-íris no final do pote de ouro mesmo! Esta crônica aborda temas como inversão de valores e o ditado "vale mais a caçada do que a captura". 

Muitas pessoas, vítimas de uma sociedade cada vez mais imediatista, acabam valorizando mais o produto final do que o caminho feito para alcançar o objetivo. Muita gente só observa o dourado do ouro, sem perceber as outras cores: o vermelho, o laranja, o amarelo, o verde, o azul, o anil e o violeta. Acredito que o ouro não seja o produto final, e sim mais um item na jornada da vida. Qual seria a graça se o ouro fosse o produto final? A pessoa encerraria as buscas quando encontrasse o pote de ouro e sua vida não teria novas buscas. 

Para mim, o pote de ouro é tão importante quanto o resto, e penso que pode ser tratado até como um ponto de partida. Às vezes, é preciso encontrar o pote de ouro para descobrir, como num insight, a importância do arco-íris.Quando se conclui que os valores tão procurados estão invertidos, a própria valorização das coisas passa a ser algo mais valorizado. Você percebe pela sua experiência que as vivências não possuem uma recompensa maior que os próprios acontecimentos. E são as pessoas que constroem as suas próprias concepções de "recompensa". Algumas pessoas se sentem gratas por estarem vivas, respirando e sentindo. Outras não. A valorização das coisas é algo pessoal e muito importante para definir os objetivos da vida e as respostas que damos para nossos próprios questionamentos. 

A inversão de valores mencionada aqui também é algo subjetivo. Para muitas pessoas, o que eu atribuo como valores invertidos é, na verdade, a ordem correta das coisas. Tudo é uma questão de ponto de vista. A pessoa pode considerar que não há mais nada para se buscar além do pote de ouro, contanto que ninguém seja prejudicado pelas ideias, não vejo problemas nisso. Mas eu acho que pelo próprio bem da pessoa, ela deve buscar cada vez mais novas aventuras, objetivos e alternativas. Se uma pessoa para de procurar algo, por menor que esse "algo" seja, ela não se sente mais viva. A vida é uma incansável caça ao tesouro, com cada vez mais novas recompensas que devem ser encontradas para garantir uma satisfação interna (momentânea, por isso que devemos procurar mais e mais por nossos tesouros). Desistir de procurar é desistir de viver e vegetar. Mesmo com todos os contratempos, isso seria uma opção bastante dolorosa. 

A vida precisa de um sentido, que cabe a nós dar para ela. O sentido é o tesouro que devemos buscar dia após dia.

Felipe Kowalski

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

As facilitações e a frieza dos contatos pela internet

A internet nos trouxe uma série de vantagens e facilidades, inclusive nas relações sociais. Está mais fácil manter contato com uma pessoa. Mas, isso também traz algumas consequências, principalmente na questão do calor humano e nas conversas frente-a-frente. Eu mesmo sou uma "vítima" disso, assim como todas as pessoas, creio. Nesse texto, discutirei sobre o contato social via internet. 

A internet, assim como qualquer avanço tecnológico, surgiu com o intuito de facilitar a vida dos seres humanos. Com o advento do e-mail, as cartas se tornaram cada vez menos comuns por conta da comodidade. Com o surgimento dos sites de pesquisa, se tornou mais fácil buscar informações, sobre qualquer assunto, do que ir até a biblioteca e procurar um livro. A mesma coisa pode-se dizer das redes sociais. A interação entre amigos tornou-se mais cômoda, já que não é mais preciso sair de casa ou ligar por telefone para estabelecer contato entre as pessoas. Apenas uma mensagem no perfil dela ou por meio de um chat já é o suficiente.

Mas essas comodidades não tiram um pouco os pequenos prazeres de uma comunicação mais "trabalhosa"? Sentir o cheiro de um livro, tocar um papel, ver a caligrafia da outra pessoa em uma carta, falar com alguém olhando olho no olho, ouvir a voz, sentir o calor humano. Tudo isso faz parte da comunicação, mas fica em segundo plano através da comunicação pelo computador.

A comunicação é importante em qualquer relação social ou em qualquer pesquisa. O computador é importante para isso e é um modo eficiente de ajudar nessas questões, mas não deve ser a única e principal fonte.

Uma coisa que aprendi na vida é que vivemos em um mundo de aparências. E até nessa questão o computador se torna um efetivo facilitador. Você pode ser quem quiser na internet e enganar várias pessoas. Algo comum é pessoas mostrarem o que elas não são com atitudes pela internet. Desde coisas pequenas, como a pessoa não aparecer online em noites de sexta ou sábado para passar a impressão para os outros de que possui uma vida social agitada, de que vai para as baladas ou algo parecido, mas fica sozinha em casa vendo televisão e comendo pizza, até coisas mais graves, como pessoas ostentando bens que não possui, modificando a própria aparência para se sentir melhor, ou pessoas se passando por outras, pois a sua vida é insatisfatória. Prefiro ser visto com um "desajustado" e receber críticas pelo que sou do que ser elogiado e adorado pelo que não sou, mas muitos preferem ter seus egos inflados nas redes sociais por coisas irreais. De que adianta se apresentar em uma rede social com uma foto de perfil alterada por Photoshop e, quando se apresentar ao vivo, ser alguém completamente diferente? Inseguranças fazem parte da vida, só não pode ter medo de ser quem você é por conta disso e também porque a sociedade apresenta como "bonito" ou "aceitável".

Uma lição que fica é: nunca acredite em tudo que se vê, principalmente na internet. Muita gente tem medo de mostrar a realidade e tenta mostrar para os outros algo que não é verdadeiro para se sentir melhor. Mas eu escolhi desconfiar e não me iludir mais. Muitos relacionamentos que parecem perfeitos, fotos que captam a felicidade e a vida "perfeita" da pessoa por meio de suas postagens, são de fachada. Eu mesmo já me flagrei pensando "por que a minha vida é tão ruim comparada com a dos outros, que parecem ser tão mais interessantes e com uma vida social mais agitada?". Mas nunca é bem assim, as pessoas que vivem em uma sociedade que prega a aparência varrem os problemas e conflitos existenciais para baixo do tapete. Às vezes, a pessoa pode ser conhecida na internet, ter 5 mil amigos no Facebook e não ter ninguém com quem sair para se divertir.

Essas questões apenas me fazem refletir sobre a utilidade das redes sociais e da internet, seus prós e contras (o que ajuda e o que atrapalha nas relações humanas) e como as pessoas formularam as "regras" de como se deve agir na internet para ser "bem visto". As redes sociais podem ajudar na interação, até mesmo quando se é mais tímido e reservado como eu. Mas é preciso sempre lembrar que as redes sociais verdadeiras não é essa do computador, que você pode adicionar ou excluir seus amigos em um clique. A rede social é aquela que nós tecemos com as nossas vivências, com pessoas formadas por qualidades e defeitos, carne e osso. Mais importante que ser uma pessoa popular na internet, que interage com milhares de amigos, "seguidores" e afins, é ser uma pessoa satisfeita consigo mesma e com as suas relações no dia-a-dia. Lembre-se: você não é a quantidade de amigos que você tem na internet.

Felipe Kowalski