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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Dossiê Estopim - O último golpe

Faço deste texto meu último golpe por dentro das entranhas deste blog. É fato que tenho certa inclinação a essas intrigas subcutâneas - senão não despenderia tanto tempo a confecção de Dossiês - intrigas as quais, caros leitores, vocês só veem o resultado pouco coerente que a tez do Estopim expele. Pois bem, torno público meu derradeiro ardil, anunciando minha saída não em sínodo estopiniano, mas sim, diretamente a todos que quiserem dela presenciar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Crocitar

Não enganarei ninguém, apesar de me comunicar, não sou uma criatura muito significante. Creio, e sei, que tenho importância na vida de alguns - poucos talvez - mas isso não me soa apropriado agora. Sou um ser culto, aprendi muitas das coisas que sei com repetições ou com jornais e revistas em que cago em cima; já tenho idade avançada também, o que me confere experiência - nem tanto - mas o que mais me abomina é a hipótese de que eu possa viver cem anos ainda. Sei que nada disso me faz útil, a não ser talvez um entretenimento barato, todavia, me agarro a ideia do que tenho a dizer, mesmo sabendo não ser o melhor exemplo.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Valedico

Maculados semblantes feitos para o adeus, na euforia de beijos, de colombinas e arlequins comemorando seus jubileus. Máscaras tortas, que pelo anonimato lhe concedem a partida, após satisfeita a carne, no inegável da embriaguez incontida.


Seguem em marcha, mil palhaços na avenida, travestidos e fantasiadas, na fervida luxúria extrapolada, pela libertinagem, acometida. Capitanos e Brighellas, Orazios e Isabellas, dando o adeus à carne, no proveito que só o incognato zela - são deuses tontos, aproveitando a ausência de culpa da despedida, no despudor de seus desejos, na euforia de suas incompletas vidas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Majestoso manicômio meu amor

Encontro-me cansado desta estrada, meu bem, deste universo de falsas paredes acolchoadas e preenchidas de vãos espetáculos açucarados. Não desejes mais de mim facundos romances, peço-te, pois, de repente, perderam-me o sentido. Querida, escrevo-te pois sei que me esperas mais adiante, mas não tenho mais tanta certeza de que desejo perde-me em seu sinuoso caminho.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Em busca de texto

Se vieste em busca de prosa
- mando-te embora -
e ainda faço troça
com um poeminha infeliz

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Putas de papel

Chamam-me de mentiroso, na maioria das vezes: vagabundo. Fazem de mim um viciado além do que sou. Doses cavalares de fantasias e anedotas são injetadas em meu espírito altamente mutável. Sou uma pílula para os desesperados, a fuga dos cartesianos, uma promessa de amor a cada esquina, verdadeiras prostitutas de papel, vendendo amor instantâneo, amor reciclável, descartável!


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

ghhyfrc

No teclado perdi-me em seus signos latinos, esqueci, de repente, as tolices passionais que iria dizer; viajei em um mundo negro de caracteres brancos, no som sem propósito das teclas a bater. Ouvi o despropósito estralar seco e oco, no retumbar de meu crânio pensante sem nada dizer.

Fui muito além de 28 letras, e 10 tipos indo-arábicos, vi em brechas, pontos e vírgulas, com fúteis interrogações pairantes. Vi exclamações hesitantes, acentos caídos, parenteses inimportantes... Vi ao todo, reticências verossimilhantes. 

Fui longe sem ter o que comentar, deixei o tolo tato seguir, a fim de ver até onde esta prosa poderia alcançar. Me encontrei raso, na espessura do teclado, perdi tempo escolhendo letras, perdi tempo parvamente focado. Pensei e pensei, sem chegar a lugar nenhum, nem usei toda a variedade das teclas, no além alfabeto, em suas exóticas mesclas; acabei por apelar ao comum.

Pelos caracteres da matemática também não explorei, fiquei no rasteiro da comunicação, e sem assunto, enrolando o leitor, mais um texto acabei.
Gessony Pawlick Jr.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Algures

Olho do terraço a cidade acordando e tenho dúvidas se era realmente aqui que eu deveria estar. Vejo pombos voarem, luzes apagarem, vejo meu último cigarro vencer a barreira dos andares.

De etéreos olhos confidentes a me nublar o raciocínio pergunto a minha memória onde viemos parar, tenho dúvidas se estamos todos em casa, ou ainda não a conseguimos encontrar. Vejo toda manhã as cores desbotarem, desintensificarem-se, seja aqui, em Londres ou em Shangri-La. Vejo as vidas desgastarem, tentando chegar a algum lugar, vejo as pessoas passarem, correndo o relógio, pensando em sua próxima localidade a alcançar.

Daqui de cima, não sei se meus pés estão no chão, acho que nessa madrugada, acabei por me perder em algum lugar, entre o rotineiro e o inexplorado, entre onde estou e deveria estar; de peito oco, por onde estive e onde queria me encontrar, meio roto, por onde nunca fui mas queria ficar. Não me acho aqui por cima, mas acredito, que nem lá embaixo poderia comigo topar, andando de sítio em sítio sem nunca se fixar.

Cigana sensação, de não poder se encontrar, essa tola fascinação, por esquinas e endereços, por querer cada espaço identificar. Um eterno deja-vu - tudo tão familiar - as mesmas placas e propagandas, as mesmas cenas a reprisar. 

Vejo lá em baixo, pessoas que sei que não estão ali, todas perdidas em seus próprios devaneios, retrocedendo ou antecipando em suas mentes os momentos ainda por vir. Aqui de cima, faço-me onisciente a tudo reparar: vidas mal vividas, pelo conforto a procurar, correrias, pulando espaços, enganando-se, sempre longe de suas covas acreditando estar. 

O dia já se encontra claro, mas agora, o tempo não me vale mais. Presente, futuro e passado, são resumidos no mesmo estado, o de sempre se estar em outro lugar. Mesmo assim, o relógio por fim grita, insistindo o dito momento de se mandar, mas não estou nem aí, na verdade, talvez nem mesmo aqui eu deva estar.

Gessony Pawlick Jr.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um brinde com água

Nesta frenética corrida noite a dentro, lembro-me dos copos que enlevo levantei, cada um acompanhado de frases de efeito, de mãos ao alto, comemorando e desgraçando os sentimentos que com a dose em punho alcei. Da cana ao anis, com todos os gostos, minhas saudações misturei, assim como, meio tolo, de língua travada, sempre minhas homenagens prestei. Fui meio louco também, quando a desconhecidos minhas dores confessei, ou quando desgraçado, brindei sozinho minha musa da vez.

Desta vida resumida, muita taça em punho levei, como meu mais brilhante estandarte, como a rubra bandeira de minha incoercível embriaguez. Dos brindes virei quase um poeta, declamando uma dor por vez, sabendo sempre a hora certa, da anedota e da mudez.

Gim, uísque, rum. A lembrança da vertigem, do ímpeto do movimento, do ricochete da cabeça, no shot engolido lento, a fim de que as palavras de uma vez se esqueça. Fugaz é a essência do brinde, mas sustenta-se por si só, sendo a síntese da noite, o mote bradado - quase recitado - extraindo da pandega o melhor.

Brindes são a conclusão de cada conversa, o motivo do encontro, o engodo da festa. É em cada copo a representação do florete da elite da guarda francesa. Não é só aquilo que sustenta a noite, mas também aquilo que a alicerça. 

Cada brinde tem a dose amarga que o mereça, deixando o peito transbordar ao bater dos vidros, no êxtase da emoção, o ápice do sentimento que a tona transpareça. Um brinde com água é o vazio da existência, é brindar a infâmia ou a qualquer coisa que do limbo lhe acometa. É ato digno dessa prosa, é o vácuo raso das palavras sem leveza, é esmorecimento mútuo, é simples romantismo de veneta.

Brindar com água, não é coisa que se digne nem ao capeta. Pode ter sua dose de fantasia, mas é o mesmo que excluir o sabor de suas próprias receitas. É não temperar as frases, é deixar-se levar por palavras sem profundezas, é, por fim, não acreditar na literatura dos bêbados, em seus compêndios epifanicos de pureza. É disparate ao gosto de cada sentimento, que explodindo pede a harmonização, pelo álcool que lhe entorpeça.

Gessony Pawlick Jr.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O gênese do verbo amar

No princípio era o verbo, e o verbo me soava esquisito. Brecava-me entre os dentes, apesar senti-lo, de hálito quente, ao pé de meu ouvido. Na característica dos trava-línguas, era sentenciado a engasgar, em toda vez que o sentia subindo, tentava mas não podia alcançar um sincero verbo intransitivo. 

Todas as coisas foram feita por meio dele - as artes e os livros - nos invadindo as orelhas, como singelo e conspícuo, aparecendo tão inocente nos filmes, banalizando o pulsar cardíaco. O gênese do primeiro verbo, usado a esmo, dissecado em melodramas e idílios, mentindo a realidade do vocábulo, edificando uma versão postiça do verbo divino. 

Na conjugação de dois peitos, fácil pronunciar a graça do particípio, ou o elucidativo pretérito imperfeito, deficiente por existir somente no já ocorrido; difícil é soltar um eu te amo, sem a artificialidade que estão acostumados nossos ouvidos. Não falar só pela boca, mas deixar o verbo exalar pelo corpo que já o tenha acometido. 

Amar, palavra estrangeira, que a minha boca soa construída, sutil manejar de língua  que no degredo do poeta, sempre acompanha a rima. Verbo egoísta que comporta na frase um sujeito só; artificial nas horas em que precisa ser dita, muda, entalada na garganta, quando quer ser expelida. 

Sutil vilania, da língua que esconde a palavra querida, carcere da boca, que não cospe o que desejaria. Meu Deus, como é difícil amar sem um exclusivo verbo que se defina.
Gessony Pawlick Jr.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Saudades e Bisturis

De toda vez que se vai o coração, o sangue pulsa a fim de preencher de fluído o buraco vazio, como o inflar incessante de um balão furado. De toda vez em que se some algo querido da vista, a mente traz em vultos e neblina a imagem querida, e ao fechar dos olhos, a natureza vivaz dos sentidos puros, ouriçados, em alerta ao toque que se saberá não ter; reaviva e fantasia.

Agridoce sensação, que à boca seca e saliva, que espuma, como o quebrar de ondas, as entranhas da barriga. No paladar, a falta doce e o amargo querer, degustando cada segundo do inalcançável, pela medula a percorrer.

Saudosa saudade, diria o falso poeta, ai de mim sempre te ter, pois é preciso alimentar de boas e más lembranças, o lírico e poético sofrer. Que me marque a carne, como a cada novo corte de bisturi, que me corte profundo cada sentido no âmago que se remói por ti, já que sem você, oh nostalgia, creio não poder mais sentir.

Deixai invadir a saudade, de três milhas ou três passos, ou três idades nas vidas a sumir; das paixões e dos dogmas, com a maturidade a lhes diluir. Que me perfurem os fados, não só de minha boca, mas de outras sôfregas, que aos meus ouvidos venham a reagir. Que pulse o rubro da saudade, para me fazer acreditar que ainda estou por aqui.

Gessony Pawlick Jr.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Dossiê Estopim - Tal qual como canguru em papel

Do pouco presente que estive nas aulas por toda minha vida, lembro-me entre desenhos pelas folhas, versinhos impróprios e atrativas janelas, de um verbete que me vem muito a calhar. Conhecido primeiramente nas aulas de física e química, e mais posteriormente, em uma rede de conexões que pouco dou-lhe importância, esse mot, de dentro dos fundamentos da matemática, aparece-me nas ditas teorias da comunicação, aquele que para os leigos é só mais uma palavra difícil, a tal da entropia, parece-me encaixar tão bem nesta data.

Não assuste-se parcos leitores de dossiês, não irei aqui fazer um ensaio científico de deduções de outrem, só apresento-lhes essa feia protagonista do espetáculo de hoje.

Começo assim com um fato tão histórico quando as anedotas de outrora. Reza a lenda que quando James Cook chegou ao continente australiano, levou um destes marsupiais que leva nome ao título para dentro do navio, e assim pediu que seus marinheiros fossem atrás de descobrir qual seria o nome desta curiosa criatura - como tantas na Austrália -. Eis que o aborígene ao ser perguntado, respondeu simplesmente "canguru", o que em sua língua, nada mais era que "Não estou entendendo absolutamente nada".

Nesta data especial, em que mais uma vez tento resumir nosso sítio, devo dizer que para o Estopim a situação não se mostra diferente. Parimos uma criatura curiosa, pouco comum entre os mesmos de sua espécie, e quando perguntados sobre o que isto seria, ou pretendia ser, nada foi entendido daquilo que respondemos. 

Termos como anarquia e imprensa alternativa até surgiram, mas além de ser um jornal, assim como os cangurus se enquadram no grupo dos marsupiais, nosso querido Estopim, não vai muito além de uma classificação genérica em um formato pouco ortodoxo.

Nesse tempo, que não marca certamente 365 dias, além de muita produção, exacerbada entropia já foi reunida, lembrando que a cada novo dossiê, nova tentativa de eliminar essa tal personagem mal quista nascia; e nada de entenderem que nós (talvez mais especificamente eu) não falávamos a mesma língua.

Somos um verdadeiro e imenso portfólio de informações díspares, um acúmulo de Gessonys e Adilsons, que muito deixaram seus leitores flutuando entre divagações possíveis. Somos aquilo que aprendemos ser, uma força expressiva para vingar os males de nosso artífices de mentes. Somos a linguagem que cria seus próprios cangurus. 

Por meio da prática, adquirimos nosso próprio vocábulo, aprendemos a falar de nosso modo e do modo mais conveniente. Não sei bem o que somos, tenho minha própria visão dita "de artista", mas acho que seguimos o certo, mesmo tendo a estrutura, no atual estado, meio comprometida. Para não me tornar prolixo, por fim, digo que criamos e demos nome a esse bicho que ainda segue como Estopim.

Créditos da ilustração: Gessony Pawlick Jr.
Gessony Pawlick Jr.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A panapaná falante

Para não cair no clichê, nem obrigar-me dar nome aos bois como o era uma vez me pede, apelarei aos contos persas, iniciando com Yeik bood Yeik nabood (Havia alguém, Não havia ninguém), mas que em uma mistura de jornalistas em útero, querendo mudar o mundo, e uma essência de se fazer o diferente, havia um apetite insaciável por escrever e por conquistar espaço.

Nomes existiam aos montes, mas a fórmula certa para equação do Estopim só poderia acontecer de uma maneira. Uma única entrevista que não foi ao ar trataria de emendar os futuros personagens do conto que que ainda se desenvolve. Em se tratando de efeito borboleta, nossa Lepidóptera,  como de praxe, não sabe muito mais do que o insignificante bater de asas que fez, sem a ideia de que do outro lado do mundo criaria um furacão. Eis que hoje lhe revelaremos o seu ato.

Nícolas - (sussurrando) Vamos fazer um ano, eeeeeee!

Cilene - O quê?

Nícolas - (sussurrando) Vamos fazer um ano! 

Cilene - Fazer o quê?

Nícolas - O que vai dar de presente para o Estopim? A entrevista né?! (risos)
(silêncio)

Cilene - E aí?

Gessony - Vale a pergunta, o que vai dar de presente para o Estopim?

Cilene - O quê? 

Gessony - O que vai dar de presente para o Estopim?

Cilene - Uma entrevista, pode ser?!

Gessony - Então, o Estopim está fazendo um ano de aniversário, e acho que o engodo de toda essa entrevista é perguntar como você se sente, sabendo que é a culpada pelo Estopim?

Cilene - (risos) Culpada?... Bom, quando o Nícolas começou a trabalhar ali com a gente, na comunicação e marketing, dava para ver que ele tinha uma sede muito grande de escrever fora dos moldes e dos padrões - pirâmide invertida, lead e tal - e na realidade o jornalismo ele tem uma técnica que engessa o texto, apesar de que é para facilitar o leitor, mas por outro lado faz com que a pessoa não use de seu potencial criativo. E eu percebi isso no Nícolas, que ele tinha um potencial criativo muito grande, e incentivei. Mostrando que no jornalismo existem várias formas de você se expressar, né!? E como ele estava entrando, ainda meio, digamos assim, é... procurando a sua personalidade, assim né, de texto, eu falei "nada melhor do que você se conhecer fazendo", e incentivei, e ele "ah não, 'magina', não sei o que", e eu, "faz! É teu, faz! Faz, faz...".
Então eu fico bem orgulhosa, acho que ele, acho não, tenho certeza! Que ele é uma pessoa que tem um caminho promissor, assim como o Estopim fez um ano, ele também fez um ano de Estopim. E... muito legal o trabalho de vocês. Parabéns...

Gessony - E sobre a entrevista que nunca saiu? Não sei se foi a única (olhando para o Nícolas).

Nícolas - Tu lembras da entrevista que não saiu?

Cilene - Qual? Não me lembro.

Nícolas e Gessony - (risos)

Cilene - Não, não lembro. 
Ah! A entrevista com eleeee.

Nícolas - Isso! Esse é o mote que o Gessony traz para essa entrevista...

Cilene - aham

Nícolas - Nós estávamos conversando e chegamos a essa conclusão.

Cilene - É mesmo.

Nícolas - Foi ali, inclusive, eu já conhecia o Gessony, já tinha visto, já me despertara o interesse. Como teve contigo, que tu olhava "Puxa é uma figura que se veste diferente, tananã... age diferente..."

Cilene - Que agonia a unha comprida, nem eu não consigo escrever com essa unha comprida...

Pessoa inconveniente - Tchau, boa noite.

Cilene - Boa noite. 

Nícolas - Aí que tu pediu que eu fizesse a entrevista com ele, e foi a partir dali que a gente se aproximou, mais, tal.

Cilene - aham... começaram a namorar e tal.

Gessony - Um ano juntos, fazer aniversário de namoro junto com o Estopim.

Todos - (risos)

Nícolas - ...E isso que justifica a pergunta. Assim, no caso você seria a pessoa que deu o start, por causa disso, porque aproximou pessoas que...

Cilene - Eu acho que o ser humano, em geral, não só falando no Estopim, mas no geral, que parte dali né, o ser humano em geral não sabe da potencialidade que tem. Nós vivemos em uma sociedade, que de uma certa forma enquadra a gente, classifica, "Quem você é?" "Eu SOU jornalista" não é eu estou jornalista, pois pode ser jornalista hoje e amanhã ter uma empresa e ser um administrador, ou daqui a pouco você resolve ser nada, vai ser um mochileiro. Então você ESTÁ mochileiro, você ESTÁ jornalista, você está alguma coisa, você não é aquilo, na realidade você é muito mais.
E todas as profissões têm esse padrão, assim como quando você trabalha em uma empresa "A Cilene da Unisul", eu não sou da Unisul, eu sou Cilene Macedo. Mas isso é pelo próprio molde da sociedade que a gente vive, então a gente tem que estar atento a isso, todos os dias, para não deixar que os outros nos classifiquem, que os outros nos enquadrem; e para isso, nada melhor do que você ter uma voz aberta, você ter um local para onde você pode escrever, aproveitar que a gente está na era da web 2.0, que as pessoas podem falar, interagir, porque se fosse a vinte anos atrás, não ia talvez poder fazer o que ele faz, o que vocês fazem. Então tem que aproveitar a oportunidade, que vocês estão em uma era muito promissora para falar o que pensam e fazer com que as outras pessoas conheçam o trabalho de vocês, e até inspirar.

Gessony - Aproveitando que você está falando em liberdade de expressão e da Cilene da Unisul, conta um pouco como foi pra ti (assessora de comunicação e marketing da Unisul) a relação da nossa postagem naquela quinta-feira (02 de agosto)

Cilene - Do Unisul Ontem?

Gessony - Isso.

Cilene - Eu acho que todo mundo tem o direito de se expressar, assim como vocês se expressaram como Unisul Ontem, eu também posso me expressar dizendo que eu achei leviano, mas respeito. É aquilo: não gostei, mas o não gostei é até aqui, daqui pra lá você vai ver o que vai fazer com aquilo. Não costumo interferir relações profissionais com pessoais, se por exemplo, fosse trabalhar de novo com Nícolas, eu iria falar "Nícolas tu pisou na bola aquela vez". Nunca vai ter deixado de ter pisado na bola, entendeu? Mas eu nunca vou deixar de ser amiga dele, porque uma é uma relação profissional e a outra pessoal. Eu já tive problema com várias pessoas, com várias postagens, com várias coisas, e nunca deixei de falar com ninguém. Não tenho inimigos por causa disso, acho que cada um tem que falar o que pensa. Mas eu não concordei não (risos).
Porqueeeeê, na realidade, o Estopim é um privilegiado né?! Porque primeiro ele é um blog de alunos e nenhum blog de aluno até agora teve tanta repercussão ainda na capa do Unisul hoje, não que seja um puxassaquismo, não é isso, mas é porque vocês têm atualização constante e textos muito bacanas. Agora, quando vem uma outra pessoa fez, ele (Estopim) tem que um dia sucumbir e dar espaço para outra pessoa. E ali o Estopim agiu como um menino mimado, que não queria sair da frente e... tudo bem né. Faz parte da idade dele, ele só tem um ano né, imagina-se que com um ano toda criança é mimada. Então a gente entende que muitos anos virão aí pela frente para que ele seja um garoto maduro.

Nícolas - Bem conveniente (risos)... Cilene tu se formou na Unisul também né. Fala um pouquinho dessa época de faculdade, como que era o clima? Como que era a tua turma?

Cilene - Assim, eu sempre gostei de fazer amizade com todas as pessoas da minha sala, e até hoje - estou formada, acho, há oito anos - a gente ainda tem contato, então, da época em que eu comecei a trabalhar aqui na Unisul, não era nem formada e estava trabalhando aqui, a única pessoa que começou em lugar e está ainda no mesmo (risos) sou eu. Esse dias ainda pensei: "Por que eu gosto tanto daqui?" e eu acho que esse ambiente universitário faz com que eu fique aqui, sabe?! Você a cada semestre conhecer pessoas novas, assuntos de aluno pipocando todos os dias, e assuntos de universidade, são assuntos que são positivos, difícil você ter um assunto negativo. Você abre um jornal, e abre o Unisul Ontem Hoje, para ti ver a energia que tem em um e a energia que tem em outro. Então o que me move estar aqui todos esses anos, desde a época da faculdade é isso.
Meu curso foi um curso que eu me encontrei, porque eu tinha feito administração mas sempre, como vocês podem perceber, eu falo muito - escrevo muito, falo muito - sou muito agitada para ser uma administradora. Então eu tinha uma inquietude dentro de mim "Como é que eu vou ficar horas e horas sentada na frente de um computador? Apesar de que hoje eu fico muitas horas atrás de um computador, minha dinâmica de trabalho é muito rápida, o que me permite não me enjoar e não ser um tédio trabalhar. E aí muitas pessoas falavam para mim, minha vó, meu pai, "Devia ser jornalista!". E um dia eu acordei, estava na sexta fase de administração, e falei, "Vou trancar o curso". Aí vim aqui, conversei com o Sardá, porque ele era coordenador do curso na época, e ele que disse que eu estava ficando maluca, que o campo de administração era muito mais promissor que o do jornalismo, que eu não devia trocar, mas eu falei "Eu quero!", mas ele "Ah, tu vais te arrepender" e eu falei "Não tem problema, eu quero!". Aí fiz transferência, e logo na primeira fase falei "Não! É isso que eu quero! Quero trabalhar com jornalismo e ser jornalista".
Fiz todas as áreas. Trabalhei como produtora de tv, trabalhei em rádio, trabalhei em assessoria de imprensa, trabalhei em jornal, e... site, jornalismo online, fiz tudo que eu queria trabalhar. A única coisa que ainda não fiz foi trabalhar em revista, mas, talvez, eu ainda trabalhe.

Nícolas - Seria esse um plano futuro?

Cilene - É! Talvez como assessora mesmo, montar uma revista para uma empresa, alguma coisa assim. É a área ainda que está me faltando, sabe?! Eu adoro revista. Leio revista todos os dias, e é uma coisa que me chama a atenção, o formato da revista... (ahhh! Blá, blá, blá. Todo mundo já viu uma revista)

Nícolas - Com tu te sentes, hoje, durante o teu dia-a-dia? Tu acordas disposta a trabalhar, tu sai cansada?

Cilene - Sempre disposta! Saio cansada, mas adoro. 

Nícolas - Por isso? Pela universidade, pela pipoca que tu falou que existe?

Cilene - Assim, o que me motiva a trabalhar é o novo, é essa coisa de saber que eu vou chegar no meu computador e ver, sei lá, sessenta e-mails de coisas totalmente diferentes aleatórias. E eu gosto disso, eu gosto da novidade, gosto do novo, eu gosto de interagir com pessoas.

Nícolas - O fato de não assinar os trabalhos, não te incomoda um pouco?

Cilene - Não, nunca me incomodou. Poque eu acho que quando você se preocupa muito com isso, você tem que ter um veículo teu, no caso um blog, "Não isso aqui é autoral. É meu!". Quando eu quero escrever algo que é MINHA opinião, eu faço um artigo. Aí é minha marca, sou eu que estou falando. Quando eu estou escrevendo uma matéria, genérica, que tem o quê, onde, porque - o que a gente sabe que precisa para uma matéria - eu não estou colocando muito minha opinião, estou colocando o fato, eu contextualizo o que está acontecendo, mas não tem muito de mim ali.

Nícolas - Leituras? Como que tu te atualizas, além das revista, que tu falou que gosta do formato?

Cilene - Eu tenho vários tipos de leituras. Eu gosto de ler sobre jornalismo, eu gosto de ler livros de espiritualidade, como Osho, gosto de ler sobre tecnologia, aquela revista Info, leio bastante. Gosto de ler Carta Capital, um pouco, porque eu não gosto muito de política, e ela traz alguns resuminhos para quem não gosta (risos). Gosto da revista Época. Não sou muito chegada no esporte, é uma área que não me chama muita atenção, gosto da revista Cult, Caros Amigos, Piauí.

Gessony - E a leitura do Estopim?

Cilene - Ah, a leitura do Estopim é normal né, só que assim, é aquela leitura meio dinâmica, passa o olho, às vezes chama a atenção um texto...
Mas é muito legal, como eu falo para vocês, o que é o legal de vocês é o ousar, é pegar sempre um tema novo, diversificar, o olhar né! O olhar do jovem.

Gessony - Algum colunista?

Cilene - Oi?

Gessony - Oi, tudo bem?! Algum colunista?

Cilene - (Silêncio e cheiro de óleo queimado) Não... Não tenho preferência. Eu leio bastantes colunistas, mas não vou citar nenhum porque não tem nenhum que eu diga assim "Ai! Adoro essa pessoa". Então para não falar de um sem falar do outro, prefiro não falar de nenhum. Colunismo eu leio a título de informação e não a título de idolatria.

Gessony - E dentro do Estopim? Algum aluno? (silêncio que precede a piada) Um pupilo assim como o Nícolas?

Cilene - Ahh, eu gosto... Eu não vou... Não! Aí é sacanagem. Não, nãão

Nícolas - (risos)

Cilene - Todos escrevem muito bem...

Nícolas - Acho que não hein.

Gessony - Também acho que não, mas deixa quieto.

Todos - (risos)

Cilene - Não, não, magina... Jamais faria isso, até porque, é autoral né?! Cada um tem o direito de se expressar como quer. Aí meu julgamento seria uma coisa assim... ruim né.
Tô fora!

Nícolas - O tu achas do jornal de bandeja que a gente produziu?

Cilene - Então, eu fiz um jornal bandeja, durante um ano, quase dois, o nome dele era Jornal de Carteira, e ele seguia mais ou menos a mesma linha do de vocês. Quando eu vi achei muito legal, porque é como se meu projeto estivesse retomando.

Nícolas - Foi aqui na Unisul também?

Cilene - Foi aqui. Então, assim, a gente imprimia e colocava em todas as carteiras, em todas as salas (risos). Ficava as vezes uma manhã inteira, mobilizava todo o pessoal da limpeza para distribuir os jornais, então na primeira segunda-feira do mês todos os alunos tinham um jornal de carteira. E quando eu vi o de vocês muito bacana, porque é um trabalho que facilita a informação para o aluno, ele chega ali cansado, com sono, já tem uma informação quentinha.

Nícolas - Era um movimento parecido, o de carteira? Eras aluna ainda?

Cilene - Não, na realidade eu era aluna mas já era funcionária, entendeu?! Foi um projeto que eu apresentei, para o professor Valter na época, que era o diretor do campus, ele gostou, aprovou, adorou. Então assim, eu tinha algumas matérias, como estava dentro da universidade, uma poucas matérias que eram institucionais, até para valorizar, e o resto era eventos, dicas de livro, bastante informação de aluno.

Como a borboleta que esperavamos, Cilene desviou graciosamente das perguntas mais agudas, e volteou e volteou com perguntas sem grandes propósitos. A entrevista seguiu-se ainda por alguns minutos, falando sobre as preferências literárias, as horas de leituras e as inexistentes crônicas dessa nossa Lepidoptera. Terminou sem grande revelações para nenhum dos dois lados, e acabou porque tinha que acabar.


Créditos da ilustração: Gessony Pawlick Jr.
Nícolas David e Gessony Pawlick Jr.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Axioma da embriaguez

Encerrando verdades indiscutíveis, nasce essas confissões de boemia, dissecando o que vem a ser aquilo que o dicionário define como encanto, enlevo e arrebatamento, revelando até no pileque um pouco de poesia.

Neste gole amargo de uísque, em seu final eu vejo, quantas verdades já tiveram seu fim, ou quantos dogmas, aos poucos, me desconvenci. Vejo em seu final caramelado, um reflexo torto, que por vezes, por distração, não vi, um monstro agonizado, um algoz com peripécias por vir. Sinto os sentidos se perderem, dedos, lábios, pernas e a ponta do nariz, é o sinal inerente dos demônios a me coibir.

Nessa epopéia que se construirá a seguir, a itensificação dos males é mãe daquilo que começa tão feliz, entre risos, piadas, flertes e anedotas como lírico chamariz. A tontura conquista aos poucos, enquanto os diabretes aparecem, cada qual com seu estado infeliz, a especialidade de cada demônio, indiferentes nas qualidades da cevada fermentada ou do destilado anis.

Quebrando copos, bailando insones ou atrás de novo par a seduzir, digladiamos com demônios, deixando que vençam, enquanto vemos realidades a se desconstruir, edificando novas musas, vendo em fumaça lembranças ressurgir. Na visão embaçada, oblíquas paisagens saturadas, regredindo na física, sem espaço nem tempo a existir, só a máxima embriagada; a cada novo trago, novo pensamento a imergir. Dores, valores, libido, a tudo inconstantemente sucumbir. 

Para o álcool não há segredos, só a crua melâncolia por nosso espírito a possuir, sem residência de amparo, só pela língua que há de expelir, seja ideia ou desabafo, seja a fuga pela socialização para nossa solidão diminuir. 

Nada é certo, para essa nova realidade a qual se foi levada, o físico amortece, a língua fere e a visão engana - salve a natureza embriada! - que as pestanas pesa, e no adejar da mente, elimina consciência, consequência e qualquer moral adornada. Que enfrentemos nossos piores demônios, a cada novo trago e tragada, e que nos faça juz, o mistério de nossa amnésia alcóolica conquistada.

Gessony Pawlick Jr.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ábaco dos males

O relógio marca o tempo que será perdido, e em um intervalo de um cigarro, tenho a certeza de que o peixe no aquário já esqueceu qualquer sentimento que o tenha acometido.

No ábaco dos males, louvai os peixes, que têm neles uma pedra só, não adicionam nem subtraem memórias, vivem sem pena, sem remorço, sem dó. São vão de histórias, mas com uma paz infinda, sem caraminholas que lhe comam a cabeça, não são melancólicos nem saudosistas. Rodopiam a sós, em seu cárcere de vidro, sem medo de mostrar ao observador o que estão sentindo.

Somos iguais aos peixes, mergulhados em nossas prisões. Somos todos solitários, trabalhando, em tudo que fazemos, para diminuir nossas solidões.

Mas enquanto os peixes, em suas estampas coloridas, no cromo cintilante, transparecem a essência de sua curta biografia, sem passado nem futuro, não ligando para seu degredo em algas artificialmente tingidas. Nós, no matiz de nossas escamas construídas, só escondemos a lembrança arredia. Fazemos de nosso corpo um cárcere de carne e tecido, para esconder o que o peixe não tem, e que por isso, contenta-se com as paredes de vidro.

Há quem diga que o dinheiro e as mulheres fazem o mundo girar, mas a solidão, é que nos faz por estes dois, incessantemente buscar. Não suportamos o exílio, incapazes de a nós mesmos suportar, ter que viver com nossas mentes, sem dos pecados poder se isentar.

Queremos a fuga rápida para aquilo que o peixe não remói, precisamos sobretudo, livrar nossas cabeças de pensar, ou quem sabe, de forma fugaz inocular o ácido de nossas reminiscências, que à cabeça corrói. Talvez seja por isso que parei distraído, pelas curvas do peixe, vendo-o em sua dança sem memória, sem pudor, sem libido - pura ocupação - mas que não ajudou-me a sair do lugar.

Por fim, acabei o cigarro, apaguei a luz e sai. E sem poder livrar-me do passado, fiz assim como o peixe no aquário, mais alguns minutos, e toda essa reflexão, já esqueci.

Ilustração: Gessony Pawlick
Gessony Pawlick Jr.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O escafandrista

Penso eu, nunca ter realmente nascido, e estar agora no etéreo e quente útero de minha vil imaginação, pendendo entre maldições hereditárias, remoendo falsas dores de solidão. O infortúnio de uma cabeça pensante, de uma memória latente, de um remorso pulsante, de um simples impulso, muitas vezes relutante.

Sou um filho prematuro do mundo, aquele que vê tudo pelos vidros da encubadora, distorcendo, nas quinas deste aquário, a imagem a meu favor.

Crie-me uma prole defeituosa, tendo a meu lado, somente a expressão. Em sonetos cantei meus amores, de crônicas fiz minhas teorias, em ensaios chulos desabafei o que me repudia. Nos desenhos, fiz meu mundo paralelo - criei minha fantasia - e quando aprendi a falar, descobri-me um escafandrista.

Da oficina do diabo, criei meu atelier, abrindo e cauterizando velhas feridas, brincando com o rubro do sangue que dei, dançando ao latejar de minhas têmporas doloridas. Um arlequim preso, um mero saudosista, um bobo insone, bailando entre falsas lantejoulas coloridas.

De carmesim, pintei minhas cortinas, e fiz do mundo, a platéia para minha comédia acometida. Fui o anti-herói de vidas mal vividas, um Dom Quixote, um Fausto, um Puck, um Pagliacci; um bebado de dedos sujos de tinta. Manejando penas e cinzeis, construí minha existência, tal qual um ator preparando-se nas coxias, escondido dos olhos para apresentar-se com toda a maestria.

Por minha carapaça de metal, prendi as idéias em minha roupa de escafandrista, mergulhando por dentro, e não por fora, desta minha fantasia. 

Sou Romântico, sou romancista, sou um ordinário roteirista, um titereiro das emoções, um maldito manipulador de cordas, um menestrel dedilhador, sou até uma poetisa. Sou traços, sou cores, sou notas, sou vírgulas - sou um cavernista - encubado em um mundo próprio. O que estou tentando dizer, é que sou um artista.

Gessony Pawlick Jr.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Epopéia francesa

Um Teseu moderno no festival Varilux de cinema francês

Como todo bom épico, esta história começa com um poeminha e uma missão. Com um heroi tirado de seu contexto, um nada intrépido repórter, um colunista fora de seu campo de atuação. Um homem impelido, por uma eufórica aparição, nossa falecida Thaís Teixeira, que lhe deu a pauta à mão. Armado até os dentes, de bloco, folhas e gravador, rumou Sebastião, a fim de fazer sei lá o que, cobrindo este evento para talvez trazer ao Estopim um pouco mais de opinião.

Eis que, no Beiramar Shopping, lá chegava eu, acompanhado de um escudeiro, como dois perdidos, muito longe de pretender uma Odisséia como a de Teseu. Bem, estávamos nós no espaço do cinema, esperando a coisa toda começar, ouvindo conversas alheias, nas mesas ao redor daquele elegante café bar. No bloquinho, páginas em branco e naquele grande hall de entrada, as pessoas começavam a chegar.

Enquanto os garçons preparavam a mesa de coquetéis, fui vendo, aos poucos, os convidados aparecerem. Desde alunos de cinema, figuras marcadas da Aliança Francesa, a seres mitológicos do meio artístico catarinense. Zeca Pires e Edson Machado foram alguns destes espécimes que cumprimentei. O resto, alguns rostos conhecidos que nunca gravarei seus nomes ao certo. Sim! Não sou dos melhores jornalistas.

Na mesa separada no centro, uma verdadeira essência francesa, muito champagne e doces espalhados esperando o ataque daquelas pessoas cobiçosas. Com uma pontualidade nada francesa, às 21h31, quando a fita daquele redondel se abriu, vi 30 cabeças ávidas para entrar, como um rebanho de ovelhas, sedentas pelo álcool, todas com os olhos na mesa de champagne a fitar. Logo a porra toda encheu, e as garrafas eram disputadas com mãos segurando taças vazias, sitiando o miúdo garçom que não sabia bem quem servia.

Grupos de interesse foram se formando, pequenas patotas de conhecidos, e eu com meu bloquinho, enfrentei olhares pontudos, câmeras, seres mitológicos, filas e até uma jornalista, interessada nas minhas páginas de garrancho que escrevia. Às nove horas, em torno de 70 pessoas já habitavam aquele hall de cinema, e nada de filme ainda.

Quando a sala se abriu, não havia a mesma euforia. Mesmo não tendo lugares marcados, as pessoas entraram em passos lentos, consideravelmente tranquilas. Entrei esperançoso, para ver logo um dramalhão, pois como Horácio me disse, sou o maior defensor da melancolia.

Primeiramente, discursos e propagandas, afinal era uma abertura. Fernando Defounier, diretor geral da Aliança Francesa, dava os comunicados quase paroquiais, com aquele icônico sotaque de 'erres' e 'us'. Pois que enfim, o filme começou.

A produção de terceira maior bilheteria da frança, que Defounier definiu como "Particularmente interessante", Intouchables, de Olivier Nakache e Éric Toledano, começou esperançosa, realmente conquistando esse paupérrimo colunista que vos escreve. Depois, devo confessar, entrou em vários clichês, mas tratando de um modo diferenciado, e nada usual, a história de um deficiente. A comédia dramática é realmente divertida, e rendeu boas risadas daquele publicou que quase lotara o cinema. A trilha de Kool & The Gangs e Earth, Wind & Fire transportaram ainda mais o filme para sua essência divertida.

Eis que tudo acabou, e as pessoas se debandaram a sair do shopping já ermo. E eu, devido a trilha sonora do filme, fiquei com a memória condicionada, criei nas cenas daquele evento de abertura flash de sorriso, conversas e champagne, como em um vídeo de casamento da década passada, com um retumbante "Ba de ya..." de Earth, Wind & Fire.
Para ler a resenha de Juan F. Garces, o escudeiro que levei, basta clicar aqui
Gessony Pawlick Jr.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Querelas dos meus bem-ti-vis


Ouvi um bem-te-vi solitário auto afirmar-se com seu canto prepotente, gritando à rua, sua soberania esquecida. Ouvi de longe, um bem-te-vi invisível, bradando mágoas da vida. 

Por muitas vezes, ouvi bem-te-vis, sem notar sua essência intangível, fiz-me de surdo, a seus cantos e soluços retorcidos. Vi bem-te-vis chorarem, em minha sacada, em pleno dia, mas nunca os ofereci consolo - maldita maldade infinda!

Outro dia, um bem-te-vi veio a minha janela, desabafar dores escondidas, gritando em lamento, como se estivesse eternamente no encalço da pessoa perdida. Em sua língua de pios, parecia-me bradar em busca de respostas, como aquele que grita a esmo, o nome dos desaparecidos. 

Em seus lamentos em notas, gritam os tais bem-te-vis, diferente do alegre pardal, que canta suas baladas sem sentir. Vistoso cromo de plumas, carregado de agonia - um belo bem-te-vi - fazendo de sua existência, a lastima de viver sem dó, somente em si. 

Conspícua ave solitária, procurando a atenção, gemendo ao mundo, o apelo que o vento carrega em vão. De seu ganido espaçado, a melancolia desistente em sua voz, que se outro responde, rende-se a um triste desespero algoz. Torna-se a aflição do inalcançável, o dueto de bem-te-vis, que nidificam dores, sem aproximarem-se, sem ao menos querer ouvir. Seguem lamuriando com o outro, como quem conversa com quem não se vê, perdidos, procurando fragmentos de seus peitos sem porquês. 

Triste máscara negra, deste poeta ribeiro, confinado na aflição de seu cantar, tampando-lhe a face para aquilo que é tão fácil de alcançar. Um pássaro que chora procurando o que está em si, mas me digam: afinal, quem nunca fez papel de bem-te-vi?

Ilustração: Gessony Pawlick Jr.
Gessony Pawlick Jr.