segunda-feira, 1 de julho de 2013

Dom da Cura

Kamila Porto

Seu Pedro herdou um bem precioso. Sua fé deu o dom de ajudar o próximo.

De estatura baixa, com ralos cabelos brancos, óculos, roupas quentes e pantufas para se aquecer do frio. Assim que escuta seu nome, abre a porta e pergunta: “Você precisa de uma benzedura, minha filha?”. Seu Pedro ficou meio desconfiado ao saber que não vinha à procura de uma reza, mas me convidou para entrar esbanjando simpatia.

A casa era simples, de madeira em tom amarelo, com as aberturas em rosa. Na sala de visita, uma estante com uma televisão, dois sofás, uma poltrona, muitas fotos penduradas em quadros e em porta-retratos espalhados em prateleiras ao lado de imagem de alguns santos.

Antes mesmo de dar inicio a nossa conversa, Seu Pedro já deixou claro: “Olha, minha filha, eu não posso te ensinar a benzer: - isso é um dom que eu herdei da minha falecida mãe que era benzedeira também.” Benzedor de Arca caída, responso, afogados, cobreiro, olho gordo e vários outros males, sente-se orgulhoso por ter todas as rezas curandeiras na cabeça há mais de 40 anos. “Funciona sim, basta ter fé que será curado.”

Morador do bairro Barra do Aririú, em Palhoça, diz que é bastante procurado. Algumas pessoas o procuram pra benzer suas casas, lojas e empresas. A comunidade, que ainda tem a pesca e a maricultura como um modo de vida de algumas famílias, também resgata um pouco da cultura da reza, não tão presente como era nas colônias de pescas antigas.

Seu Pedro diz que não faz nenhuma reza para vir mais peixes, nem costuma dar benção aos que vão para o alto mar, mas já salvou uns tantos que perdem as canoas, as tarrafas e outros objetos pelas águas. Pra essa situação ele reza o responso, que ele cita de cor com entusiasmo:

- Se é milagre que procura, pede logo a Santo Antônio, foge dela o adventuro, o erro, o mal e o demônio. Torna manseroso o mar, das prisão abre as corrente, bem perdido faz achar, o roubado torna ao seu dono. Dê saúde ao doente, aflição pede pela sua interseção, Dom recebe se me pede o mancebo e o ancião, em qualquer necessidade presta auxílio soberano de sua alta caridade, fala a voz do padroano, glória seja dada ao Pai, ao Filho e Espírito Santo. Amém.

O benzedeiro se orgulha muito de todas as curas que já fez, “coisas que nem a medicina explica”. Está sempre pronto a atender aquele que precisa e quando estiver precisando de uma benzedura é só chegar, de “antes do sol nascer até o sol deitar”.

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