Thaís Teixeira
Revivendo os anos de chumbo... Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress |
As lágrimas caem. O dia está cinzento e frio, embora o sol
tenha amanhecido mais forte do que nunca. Nos noticiários, vemos e ouvimos em
primeira mão aquilo que dói acreditar, que fere a alma, indigna e revolta. Nas
primeiras páginas, as letras grandes em caixa alta, com uma foto estourada
dizem: Hoje perdemos a democracia.
Já me disseram: ela nunca existiu! É impossível de
acontecer. É uma falácea, que é isso, que é aquilo. Já me disseram tantas
coisas sobre a pobre da democracia que eu fico pensando se ela não nos enganou
esses anos todos. Eu sou pós-caras pintadas, sou da época da primavera árabe,
dos atentados terroristas, dos perigos da internet. Sou da época do tráfico de
drogas, dos bailes funks, das pacificações. Sou da época em que lutar pelo que se
acredita é antigo demais, marxista demais, rebelde demais, desocupado demais.
É engraçado que em uma época onde temos tanta liberdade para
falar, gritar, espernear, correr, respirar, contestar se prefira a venda nos
olhos e tampões de ouvidos. É engraçado que, depois de séculos e séculos de
evolução da humanidade, esse país tenha regredido a ponto de ter uma sociedade
passiva, calada, conivente com as arbitrariedades de um Estado que se diz
democrático, mas que na verdade, é um filho da ditadura. Um filho que aprendeu
muito bem como reprimir, humilhar, manipular, torturar.
E enquanto tudo isso acontece embaixo de nossos narizes,
mantemos nossa rotina medíocre. Permanecemos alheios ao que se grita, ao que se
pede. Condenamos e repudiamos aqueles que, ao contrário de nós, saem do seu
mundinho minúsculo para gritar ao mundo que não aceitam mais serem roubados,
manipulados, usados como fantoches.
Continuamos reclamando nas filas do trânsito, no ônibus
entupido de gente, na fila do banco, em casa com a mulher quando falta o
dinheiro para isso ou aquilo, no trabalho com o patrão, na faculdade com os
professores. Falamos, falamos, falamos e falamos e, no fim, deitamos em nossas
confortáveis camas para dormir o sono dos justos, como já dizia minha vó.
O fato é que enquanto rimos, trabalhamos, dormimos e
conversamos, milhares de pessoas estão nas ruas não apenas para pedir a
diminuição do preço das passagens de ônibus, mas dizer: Acordem! Esses milhares
de pessoas, sem distinção alguma, estão sendo submetidas a ações desumanas e
truculentas de uma polícia que é também filha da ditadura.
Uma polícia que é ensinada a matar, torturar e bater em vez
de pensar, refletir e ser humana. Essa polícia, que segundo o Estado tem o
dever de nos proteger, é a mesma que empunha armas contra cidadãos. Ela e
idêntica a de 1968, quando a ditadura militar brasileira mandou às ruas sua
polícia para “conter” a manifestação dos estudantes. O resultado: prisões,
torturas, mortes, silêncio.
Não viveremos uma democracia enquanto houver uma ditadura
maquiada no poder. Não viveremos uma democracia enquanto essa sociedade não
aprender a pensar por si mesmo e descobrir que o que ela vê todos os dias nos
noticiários é uma verdade travestida de mil mentiras para se manter a “ordem e
o progresso”. Enquanto essa sociedade continuar repudiando e condenando os
movimentos sociais e populares, enquanto for conivente com uma polícia violenta
e desumana, enquanto continuar votando em corruptos e aplaudindo seus atos,
continuaremos velando a morte da democracia.
Um comentário:
INVERSÃO DE VALORES
“Elegemos e custeamos governantes para proteger e desenvolver os cidadãos que cumprem as leis e geram a real riqueza do país. Hoje somos saqueados e violentados pelos próprios representantes que elegemos. E se discordamos, somos trucidados a ferro e a fogo. Somos a mão que alimenta as feras. O que deveria ser solução tornou-se doença. Cabe a nós extirpar os parasitas do governo. Se os impostos que pagamos com sangue e dor não garantem a nossa paz, então devemos estabelecer uma nova forma de gestão, pois o atual governo perdeu totalmente a noção de liderança. Amotinaram-se ao poder para saquear e consumir nossa energia produtiva em benefício próprio. Isto tudo passou dos limites é o momento de destituir os amotinados, cessar a transferência de riquezas para os algozes. Vamos usar nossos recursos preciosos para sanar esta discrepância. Troquemos a mídia televisiva e games alienantes por recursos para elevar a nossa consciência até agora adormecida. Acordemos! O Faceboock é um ótimo exemplo de ferramenta de agregar seguidores, mas é concebido para atordoar os sentidos e induzir ao consumismo fugaz e capitalista. Mantém-te prisioneiro em amenidades ilusórias.
Vamos levantar e trabalhar a nosso favor, na criação de uma verdadeira rede social de união contra estes absurdos. Somos a maioria, somos os legítimos construtores das nações. É nosso dever destituir o mal da opressão. É nosso dever manter um governo justo!”
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