Repórter Ping-Pong
Cheguei às 14h da tarde desta sexta-feira, na 78ª DP de
Polícia de São Paulo. A delegacia estava movimentada, bagunçada, caótica.
Identifiquei-me como suposto advogado do vinagre preso pela polícia, portando
um jornalista de Carta Capital. Consegui conversar com meu "cliente"
e, expliquei-lhe que sou, na verdade, o advogado do diabo. Vim para contar ao
mundo o que passou o nosso sofrido vinagre. Dessa forma, iniciei a entrevista
com a abatida garrafa.
Ping-Pong: Algum dia passou pela sua cabeça toda essa exposição?
Vinagre: Jamais. Senti-me humilhado. Há anos, sou usado na
alimentação das pessoas sobre a salada. Era um personagem banal na vida humana.
Agora, toda essa confusão e eu aqui. Sem poder cumprir minha devida função.
Ping: O governador Alckmin disse que a partir de agora você está
banido das refeições na casa dele. Ou seja, as saladas a partir de agora só
serão servidas com sal e azeite. Como você se sente sendo excluído das
refeições?
Vinagre: O governador Alckmin, coitado, nem deve comer salada. Se
comesse, seria bem mais saudável e esbelto.
Ping: Foi feita uma matéria no Estadão sobre o aumento de 0,86%
no seu valor. Isso tudo foi para concorrer com o tomate? Você acha que
essas acusações contra você têm a raiz do tomate no meio?
Vinagre: O tomate passou por situação semelhante há pouco né? mas
não. Eu não quis fazer confusão com nenhum outro alimento. Os fatos estão aí.
Ping: Supermercados estão ameaçando cancelar sua venda por
causa das acusações contra você. Segundo eles, você está representando uma queda
nas vendas porque a população está com medo de explosões. O que você tem a
dizer sobre isso?
Vinagre: Digo-lhes que abrirei minha própria franquia e quem perderá
são os supermercados, afinal, pelo meno em manifestações, a partir de agora,
conseguirei me infiltrar.
Ping: Você sofreu algum agressão quando preso?
Vinagre: Não. Entretanto, é uma humilhação. Por que não apreendem
maconha? Por que não apreendem o álcool? Sobrou pra mim. E tudo porque tenho
uma usabilidade antes desconhecida pela população.
Ping: O que você pensa para o seu futuro?
Vinagre: Não sei amigo. O que eu sei é que não entendo porque não
posso mais andar nas ruas. A lei está do avesso.
Ping: Você sabia que haverá uma manifestação nas ruas em prol da
legalização do vinagre?
Vinagre: Desconheço essa informação. Entretanto, acho que o povo tem
mais é que tomar as ruas mesmo. Não entendo que seja um ato de vandalismo
quando os manifestantes quebram a vidraça de bancos. Aliás, os bancos,
parceiros desse capitalismo louco, têm que ter prejuízo mesmo. Depois eles
repõem com juros altos.
Ping: E quanto as várias pessoas inocentes que tem sofrido por
conta das manifestações?
Vinagre: As pessoas inocentes também podem sofrer um pouco. Aliás,
devem sofrer. Elas devem sentir na pele, mesmo que seja dolorido, que o país
tem problemas. É como diz o ditado: não se frita um omelete sem quebrar ovos.
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