Primeiro paciente de um transplante de fígado em Florianópolis, Nilson Roberto dos Santos, concedeu entrevista ao Estopim um ano e três meses após cirurgia
No dia 25 de novembro de 2011, o primeiro transplante hepático foi realizado no Hospital Universitário, na capital de Santa Catarina. Acompanhado pela equipe de médicos Ester Dantas, do serviço de gastroenterologia do HU, e do cirurgião-chefe do Hospital Santa Isabel, de Blumenau, (referência em cirurgias hepáticas), Mauro Igreja, a cirurgia salvou a vida de Nilson Roberto dos Santos, que sofria de cirrose.
Um ano e três meses após a realização da primeira cirurgia de fígado feita na cidade, entrevistei o paciente. A conversa ocorreu por telefone, Nilson além de lembrar a vida antes da cirurgia, falou do pós-operatório e das principais mudanças de hábitos.
Rafaela Bernardino: Como você descobriu que tinha problemas no fígado e que precisava operar?
Nilson: “Eu tive uma vida um pouco desregrada. Fiz algumas coisas que não foram boas para minha saúde. Há uns dez anos comecei assim, depois passei a ter problemas e procurei fazer exames. Mas no início me diziam para fazer exames de HIV. Depois, um amigo, velho já, disse que era hepatite e que eu devia fazer o exame. Eu fiz e deu hepatite C.”
R.B.: Durante este período, foi difícil você conseguir consultas e exames?
Nilson: “Foi muito fácil. A iniciativa é toda do cara. Se você vai atrás e descobre que tem hepatite, é o primeiro passo. Depois que eu fui atrás, todas as portas se abriram para mim. Com a equipe da Dr. Ester Dantas foi tudo maravilhoso, até eu fazer a cirurgia foi tudo comandado por ela. Depois só me perguntaram se eu tinha interesse em ser o primeiro transplantado de Florianópolis. Eu aceitei.”
R.B.: como era a sua qualidade de vida antes da cirurgia e depois da cirurgia?
Nilson: “A vida de um transplantado muda da água para o vinho. Eu mal conseguia andar 300 metros sem me cansar e doer as pernas. Fiquei com barriga d’agua, não conseguia evacuar. Era uma coisa horrível. Hoje eu não como mais coisas gordurosas, como queijo branco, não tomo açúcar no café. Minha alimentação mudou completamente. Hoje eu faço exercícios, consigo andar 16 quilômetros por dia. Sou outra pessoa. Até minha relação com o mundo mudou. Hoje, por exemplo, um dia chuvoso, de carnaval, era para eu estar xingando. Mas pelo contrário, eu vejo o lado bom da chuva. Quando a gente fica doente a primeira coisa que faz é ir atrás de Deus. A gente entra para si. Você passa a olhar a sua pessoa interior. A sua visão do mundo muda completamente.”
R.B.: Sendo o primeiro transplantado de fígado na cidade, você confiou no médicos desde o início?
Nilson: “A equipe foi tão maravilhosa. Se você perguntar a sensação pra mim, eu vou te dizer que é horrível, claro. A pior sensação que um ser humano pode ter. Primeiro porque tu sabe que vai morrer se não fizer. Segundo porque o seu dia-a-dia é horrível. Mas na hora não tem nem tempo para pensar nisso. A equipe de médicos envolvida é muito grande, porque é uma cirurgia cara para o estado também, 200 mil reais cada paciente.”
R.B.: Como foi o pós-operatório?
Nilson: “Antes mesmo da cirurgia, uma equipe enorme fiscalizou a minha casa, viu se tinha condições de receber um transplantado. É uma equipe gigante: se você for no hospital universitário tem tudo a sua disposição: o Doutor Mauro Igreja que cuidou de mim, além de nutricionista, psicóloga para te dar todo o apoio, enfim, tudo a minha disposição. Fiquei vinte dias no pós-operatório e só comia coisas cozidas. Depois passei a ser liberado pela nutricionista. Hoje eu visito o médico de dois em dois meses. Eu cheguei a acordar um pouco antes do término da cirurgia, já conversando com os médicos. Eles devem ter pensado: como que pode, nem fechamos o cara e ele já está aqui conversando?” Eu vi uma revoada de anjos, minha vida é outra.”
R.B.: Você tem contato com a família do doador?
Nilson: Não, eu não conheço a família, não tenho contato e não quero ter. Peço para Deus abençoar esta família todos os dias, mas por respeito não gostaria de conhece-los. O jovem que faleceu tinha 24 anos, uma enorme possibilidade de vida comparado à mim, que na época tinha 47 anos. Temos que ver que é a família que aceita a doação, temos que ver isso. Que Deus os abençoe por um ato tão maravilhoso.
Hoje, Nilson Roberto dos Santos tem 49 anos e é representante comercial. Passou a caminhar 16 quilômetros por dia, fazer academia 40 minutos diariamente, além de ter se tornado evangélico. Já o Hospital Universitário conseguiu mais reconhecimento na área, além de avanços na infraestrutura e no orçamento. Depois de um ano e três meses da cirurgia de transplante de fígado, Nilson garante:
“Eu estou muito bem. Estou dançando, arranjei uma namorada. Estou muito bem, muito bem. Não existe depressão, a gente chega a abusar de tão bem que está!”
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