sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Talvez nem tão inefável

Hoje é dia do Anátema Polifônico nesta pacata Unisul, o desestrutural evento que reúne as mais diversas loucuras camufladas em confraternização, que do maracatu ao rock, dará vida a essa universidade após as onze; mas o que posso eu dizer se Daniel (Maurício? Por que não?) já disse tanto, ou talvez tão pouco, aqui mesmo no Estopim?

Andando pelos arredores do Hipermídia, ou mais conhecido Izidorolândia, há meses via um desenho, logo na entrada, que nunca tomava forma final. Uma pintura que ganhava uma única cor a cada dia, que se enrolava em sua própria existência, evidentemente que com o tempo fui ficando curioso para saber quem era aquele artista inconsequente que, desde o início de setembro, não terminava sua obra, e na busca por falar sobre o Hipermídia, parti a seu encalço. Finalmente o encontrei depois de muito ficar de tocaia e devo admitir que a primeira instância senti-me surpreendido pela figura que aparecia, esperava algo mais simples, mais sujo de tinta, mas com o tempo de entrevista fui me identificando com o dito personagem.

Sentamo-nos ao fumódromo, os dois com um espresso médio puro, eu acendi um cigarro e ele batizou o seu café com uma generosa dose de uísque, e assim nós começamos a entrevista, se posso desse modo chamar o que ocorreu ali. Ele atropelou-me já com uma primeira pergunta, queria saber quando saíria a entrevista no site, e quando soube que seria nesta sexta, fez questão de avisar-nos que estávamos na frente, publicando antes mesmo de Elóy Simões, que há muito o entrevistara, pedindo as respostas com uma certa urgência, mas que nada havia editado até agora. Aproveitei o gancho e quis saber do que se tratara essa outra entrevista, e sem devaneios nem delongas, ele logo cortou-me o papo com uma singular grosseria, um modesto e puro “Preocupe-se com a sua!”. Depois disso foi simplesmente Gessony Pawlick Junior, o homem de mãos coloridas de tintas e bigodes que indecidem-se entre Poirot e Dali, em confronto verbal com o bêbado escritor de faces balzaquianas que lhes escreve toda sexta.
 A conversa estendeu-se entre saudosismos e boemias e aproveitamos a tarde para papear entre um café e outro. Gessony também estudava aqui na unisul, estando no curso de jornalismo há um ano. Conservava um blog que em algumas ocasiões já havia roubado muitos escritores aqui do Estopim. Além de furtar autores, dividia seu tempo entre a pintura e a escrita, admitindo algumas réles poesias ocasionais. Confesso que enquanto o diálogo se estendia cheguei a pensar que conhecia aquele homem de algum lugar. Por fim resolvi ir ao que interessava-me para essa matéria e lhe perguntei de onde viera a ideia e o desenho, ele, logo se adiantou dizendo que a pintura original era de uma americano chamado Justin Beever, a ideia de um aluno de publicidade do qual ele não sabia o nome, e a iniciativa de duas garotas da primeira fase de jornalismo, Thais e Maria Eduarda, ele só havia aparecido uma certa vez para tentar ajudar, dar algumas dicas de como se fazia, e logo ficou com a brincadeira toda para si, adotando então, algumas modificações. Conta também que no conceito, o desenho fazia parte de toda uma instalação, com escadas no teto, grades e com até mesmo uma essência escheriana, mas as coisas se enrolaram, as pessoas desistiram e o tempo não ajudou. Agora ,com o final do ano que ele resolvera, finalmente, dar fim ao desenho, para estar pronto antes do início do Anátema. Esperamos...

Quis tentar arrancar-lhe mais, e assim a entrevista estendeu-se, mas nada além do costumeiro papo de bar, afinal, nos perdermos em nossas divagações durante a conversa, falamos do mundo sem falarmos de absolutamente nada. Devo recordar do aviso que Horácio me deu quando avisei sobre a pauta “Tudo bem se vai fazer essa entrevista, mas toma cuidado. Porque você sabe exatamente como você é.” Pois infelizmente ele estava certo, gastamos horas e aquele pintor enrolou-me sem me responder nada significativo. Antes de irmos embora, pedi-lhe que desse suas palavras finais, e ele de costas, já indo embora, recitou um metapoema de sua autoria:

"Na vida do artista
Em sua eterna estafa
Só não podem tombar
O lápis e a garrafa"
Gessony Pawlick Jr.

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