quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Carroças aos cavalos!

Que as estradas tupiniquins são caóticas, estão em estado deplorável e que corremos sérios riscos de morte a cada km trafegado, não é fato novo para nenhum brasileiro. Também não soa como novidade saber que a qualidade e o nível de segurança dos nossos carros é bastante duvidosa, gerando medo e insegurança mesmo ao transitar em espaços urbanos, no centro das cidades.

Comprovando o que já sabíamos – mas ainda não havia sido declarado oficialmente por nenhum órgão oficial -, na última quinta-feira, 24/11, o Latin NCAP (entidade que congrega a Federação Internacional do Automóvel e o Banco Interamericano de Desenvolvimento) apresentou os resultados dos testes com os automóveis mais vendidos no Brasil e em toda a América Latina. As avaliações de batidas frontais foram feitas na sede da ADAC (Allgemeiner Deutscher Automobil-Club e.V.), na Alemanha, e usou os mesmos parâmetros de desempenho utilizados pelo Euro NCAP (responsável pelos testes em carros vendidos no Velho Continente), ou seja, o crash test parcial a 64km/h, podendo receber notas de 1 a 5 estrelas.

O resultado não poderia ser mais desastroso. Nossos modelos populares não ganharam mais que uma estrela nos testes para passageiros adultos e no máximo três para crianças. O pior caso foi o do modelo Chevrolet Corsa Classic (sem air bag), que ganhou apenas uma estrela para passageiros adultos e uma para crianças. Não muito distantes ficaram os modelos Chevrolet Celta e Fiat Novo Uno (ambos sem air bag), com uma única estrela para adultos e apenas duas para crianças e também o modelo recém lançado March, da Nissan (com air bag duplo de série), que ofereceu duas estrelas para adultos e apenas uma para crianças.


O Latin NCAP explica que o nível de segurança dos modelos vendidos hoje na América Latina é o mesmo dos automóveis vendidos na Europa e Estados Unidos há pelo menos 20 anos. E que em casos como o do Chevrolet Classic, é praticamente certa a morte dos passageiros num provável acidente nos moldes dos testes.

De quem seria a culpa para tamanho descaso? É difícil apontar apenas um responsável. Em partes, os governos brasileiros – e não apenas o atual, que nem completou um ano de mandato, mas especialmente os anteriores -, que não pressionaram as montadoras a oferecerem veículos mais seguros, além das próprias montadoras, que sempre cobraram preços absurdos por aquilo que o ex-Presidente Fernando Collor apelidou de “carroças” e - porque não? -, até mesmo nós consumidores temos nossa parcela de culpa, pois pagamos exorbitâncias por veículos que jamais seriam vendidos em países de primeiro mundo.
É bom lembrar que, em 2009, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) definiu que até o ano 2014, todos os veículos 0km deverão ser equipados com air bag duplo e freios com ABS (anti-blocker system). Até então, o Código Brasileiro de Trânsito vigente estabelecia que os automóveis em circulação no país tivessem apenas encosto para cabeça, cinto de segurança e dispositivo para controle de emissões e ruídos. De fato, 20 anos após a famigerada declaração do ex-Presidente Collor, continuamos circulando com carroças pelas ruas brasileiras. E as montadoras crentes de que ainda somos cavalos. 
Créditos da foto 01 e 04 instituição LatinNCAP
as demais por Leonardo Contin da Costa
Leonardo Contin da Costa

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