segunda-feira, 7 de outubro de 2013

É o que tem pra hoje!

Fernando Schweitzer



Dualidade bipolar. Esse é o trilho da nossa sociedade atual. O maniqueísmo é um fato, e mais, fator limítrofe para a construção da diversidade. Depois de anos, havia uma esperança de termos, outra vez, uma nova peleja de titãs de várias tendências e faces, no morno debate político do cenário brasileiro das últimas duas décadas. 

O inesquecível debate presidencial comandado por Marília Gabriela na Bandeirantes, em 1989, poderia ser reeditado de forma moderna e atualizado. E como disse Leonel de Moura Brizola aos gritos, sem corte e sem pudores, a imprensa e ao candidato que lhe atacara "vocês engordaram com a ditadura. Malufistas! Filhotes da ditadura! Vendidos e filhotes da ditadura".

Hoje talvez não tenhamos um Brizola, mas eu sonho com a desistência temporária de Marina Silva, Heloísa Helena e o PSOL, reconsiderem suas posições e entrem na campanha como a única possibilidade real de esquerda no país. Pois, do contrário, teremos uma campanha presidencial híbrida, sem pré e nem sal. Se tivemos em 1989 uma poluição sonora e multifacética no debate, pelo excesso de candidatos, agora temos uma disputa pasteurizada. 

O fascista de ultra direita José Serra perde força interna no PSDB, que também quer esquecer FHC. Aécinho, inexpressivo, tenta ser a cara limpa de uma direita que vai para o centro, mas que em 1989, ao chegar ao poder, se tornou direita, tanto na presidência quanto no governo paulista e país afora. Eu não sou mais um cordeirinho, e não me chamo Enéas (Carneiro), desdenhado por muitos, mas que catalisou, ano após ano, um rebanho de fiéis revoltos com a política nacional e se tornou tempos depois o deputado mais votado da história o país. 

Outras figuras ainda vivas e outras, que era muito vivas, estavam lá dando o nome. Uma multidão esquecia de Leonel Brizola (PDT, o primeiro a sair do governo Lula, mas hoje com o Ministério do Trabalho), Mário Covas (PSDB, que mudou a Constituição, criou a reeleição para Fernando Henrique, que serviu para Lulinha Paz e Amor e agora pra Dilmão), Paulo Maluf (PDS e atual PP. O ainda deputado "muitas vezes processado, mas nunca condenado."), Afid Domingos (PL, partido que foi o vice de Lula, depois PR e agora ninguém lembra o que), Ulysses Guimarães (PMDB, que segue em cima do muro e hoje no muro da vice-presidência), Aureliano Chaves (Arena-PFL-DEM... O futuro a Deus pertence), entre figuras menos relevantes. 

Ganhou a zebra Fernando Collor, contra o ainda despreparado para agradar ao povo conservador, pudico e despolitizado brasileirinho, Lula. Um coligado e de um partido que ninguém sabe até hoje o que significam PRN, PSC, PTR, PST. Outro emblematicamente com apoios que uns seguirão Dilmão e outros que... (PT, PSB, PCdoB). A bipolaridade tupiniquim. Aí começamos o Brasil bipolar. Na época, apenas no 2º turno e nas ultimas décadas já desde o 1º. 

Nos últimos embates, tivemos sempre o chato e desnecessário 1º turno concebido como circo para a disputa polarizada pelos meios de comunicação pelegos entre PT e PSDB. Estes que por razões distintas e parecidas - voltamos a bipolaridade - fizeram governos mesquinhos e iguais. Com a mesma política macro e "mico-econômica". E hoje? Marina, a promessa de pimenta no angu dos outros se filia ao PSB, que era candidato a vice em 1989 de Lula e hoje tem o ex-aliado Eduardo Campos do Agreste, como possível presidenciável. Mostrando que nem tudo que cai na Rede é peixe. 

Serra, se não morrer de desgosto será esmagado por Aécio Neves na convenção, se é que existirão internas no PSDB. Dilma se não se mexer será substituída por Lula. E... É o que tem pra hoje! O debate político-ideológico cada vez mais raso no Brasil, vai perfilando o país cada vez mais, se assemelhando ao Império do Norte. 

Tal qual o americano comum, que não sabe a diferença exata entre republicanos e democratas. Entre Bush e Obama. Entre Iraque e Afeganistão. Entre Brasília e Buenos Aires. O Brasileiro, graças ao PT que virou a casaca, e hoje de esquerda male-mal tem o passado, e o PSDB que male-mal quer lembrar o seu passado, está em um dilema unitário. Temos no país alguém capaz de dizer se ainda existe aqui abaixo da linha do equador direita ou esquerda?

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