sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A força estudantil

Thaís Teixeira

Ufsquianos boicotam o Enade

Em Florianópolis, a notícia de que alunos do curso de jornalismo da UFSC boicotaram a prova do Enade entrou com destaque no principal jornal do Estado.

Visivelmente insatisfeitos com o curso, 58 alunos decidiram que iriam apenas assinar a prova, deixando um dos considerados o melhor curso de jornalismo do país amargando a pior pontuação desde sua fundação no início da década de 1980.

A ação dos estudantes foi um ato político. Não é de hoje que se ouvem reclamações em relação ao currículo defasado do curso, desatualizado desde 1996. Como estudante de outra universidade, tenho sorte de ter uma formação mais humana e menos tecnicista. Nossas aulas nos preparam para ser pensantes, criadores e não reprodutores do que já existe.

Um curso de jornalismo que forma seus alunos para ocuparem vagas no mercado e não os prepara para serem críticos e contestadores, destrói, mesmo que inconscientemente, o que uma sociedade democrática necessita para sobreviver: a discussão. Reproduzir os discursos legitimados pela grande mídia não é fazer jornalismo, é se tornar uma máquina sem senso crítico. Brinco que redação de jornal é que nem cozinha de restaurante, depois que você conhece não quer voltar lá, pois então...

A atitude desses 58 alunos, a insatisfação e a informação com o que viram e viveram na UFSC mostra, pela primeira vez, que algo no melhor curso de jornalismo do país está muito errado. O boicote foi, sem dúvida, uma vitória do movimento estudantil. É preciso ter coragem para contrariar o poder.

Uspianos enfrentam o poder

Todos os dias recebo na minha caixa de e-mails um boletim informativo da UNE (União Nacional dos Estudantes). Raramente olho, às vezes deleto, ou simplesmente ignoro. Mas o último eu abri e uma notícia, em especial, chamou muito a minha atenção: Juiz nega reintegração de posse na USP. A reitoria da Universidade de São Paulo está ocupada desde o dia 1º de outubro, quando foi proibida a participação de estudantes, professores e servidores na Reunião do Conselho Universitário.

Essa não é a primeira vez que a reitoria da universidade é ocupada. Em novembro de 2011, os estudantes também entraram no prédio. O que se queria era revogação do convênio firmado entre a USP e a Polícia Militar para fazer a segurança na Cidade Universitária e a retirada de processos administrativos e criminais movidos contra alunos e funcionários pela instituição. Da última vez, a reintegração de posse foi deferida pela justiça, os estudantes foram retirados à força pela tropa de choque do prédio e muitos foram presos.

Dessa vez a reivindicação é para que seja realizada eleição direta para a escolha de reitor. Na reunião do Conselho Universitário se manteve a escolha indireta, e esse foi o estopim da ocupação.

A decisão do juiz de negar a reintegração de posse merece atenção especial. Desde que entrei na faculdade, há dois anos, todas as ocupações – estudantis ou populares – foram reintegradas de forma violenta e autoritária por parte do Estado. Policias fortemente armados lutaram uma guerra inexistente contra cidadãos desarmados que tinham como único poder, talvez mais forte e por isso tão ameaçador, a inconformidade por serem calados, roubados, invisíveis.

Inconformidade por saber que em um país onde se lutou tanto e se perdeu tanto para ter de volta a democracia, apenas poucos têm o direito de exercê-la livremente. Talvez por essa razão tivemos nos protestos de junho e julho tantas pautas. Eram manifestações de dez, de mil, de cem mil e de apenas um.

Na sua justificativa o juiz Adriano Marcos Laroca legitima a ocupação dos alunos da USP, como uma medida tomada pela falta de diálogo com o reitor.  “Na realidade, pode-se dizer que a Reitoria, sem iniciar qualquer diálogo com os estudantes, ao judicializar tal ocupação política, fez um opção clara pelo uso da força, em vez do debate democrático”.

Sem dúvida, essa foi outra vitória não apenas para o movimento estudantil paulista, mas para democracia que, finalmente, se viu livre dos interesses políticos de uma minoria.

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