quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pelo manto vale tudo

Tiago Menezes



O futebol é um campo neutro, em qualquer área, em qualquer situação. O jornalismo esportivo em si, quando trata de futebol, chega a ser ridículo de tão básico. Faça uma pergunta pronta, ganhe uma resposta encomendada. Ninguém reclama e ninguém nunca vai reclamar disso, afinal, estamos falando do futebol, é o que nos resta, o que ainda não nos tiraram, não mexam no nosso futebol! É Simples. E isso é coisa antiga, é quase uma regra, quem fugir da "pauta'' do jogo quer polêmica ou é torcedor do time rival. Isso não é exclusividade da imprensa, todos os envolvidos com a bola acabam fazendo e aceitando de tudo, sejam jogadores ou torcedores. Mas não tem problema, futebol é assim mesmo.

Dentro de campo, falar em estereótipo é piada pronta. Quando aparece um jogador qualquer, que não é religioso e diz que a causa da derrota foi a desunião do grupo, e não o calendário desgastante ou mérito do rival, o cara já é visto como intelectual. "Esse cara é inteligente", "tem visão", "é diferenciado". Mas isso é típico, mais do que normal. Coisas do futebol.

Talvez, o motivo da aceitação desse mesmo produto, todos os dias, seja a passividade do torcedor. Afinal, o futebol é onde todos os valores podem ser questionados, como dedicar parte do dinheiro da comida da família para se associar ao Avaí ou vender o carro para ir ao Japão para ver o Corinthians, não tem problema, pode tudo. "É mundial pô, não posso perder, e daí que minha mulher está grávida? Ela entende, o moleque espera uns diazinhos pra nascer, aqui é curintia!". O povo vê beleza nisso, vê tradição, vê amor. É mais importante que o emprego, é mais importante que a família. Mas não vamos questionar isso , pois o futebol permite esse tipo de acontecimento. 

Independente de qualquer coisa, por mais clichê que seja dizer isso (são permitidos clichês, bordões e trocadilhos dos mais infames), futebol é, no mínimo, algo que as pessoas podem ter em comum com qualquer um. Seja não indo trabalhar na segunda-feira porque o Vasco foi rebaixado e os colegas são flamenguistas, ou porque o Brasil de Pelotas finalmente voltou à elite do Gauchão, é onde se pode chorar e dizer "eu te entendo, cara", de um jeito que essa frase possa ser recebida por qualquer amante do esporte em qualquer lugar do país, quiçá do mundo. 

Esse é o tipo de coisa que é dita em propagandas de bancos que querem se promover com o esporte e se aproximar do povão, eu sei. Mas entendam: este texto foi escrito por um cara que usa sempre a mesma camisa para ver os jogos, apesar dos 10 anos do trapo e dos quase 20 quilos adquiridos desde a primeira partida juntos, e que já perdeu namorada por causa de semifinal de Copa Libertadores (não me arrependo de nada!).  Não que o futebol cegue o povo, que é manipulado e roubado enquanto a Seleção joga e blá blá blá... Não é questão de não ver, é questão de ver e não se importar.

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