Luciano Bitencourt
Homologadas pelo Ministério da Educação agora, em 12 de setembro, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Jornalismo valorizam as especificidades da atividade profissional no campo da Comunicação. A rigor, o parecer que as sustenta (CNE/CES 39/2013) muda em muito pouca coisa o que foi sugerido pela comissão de especialistas num relatório encomendado pelo próprio MEC e entregue em 2009. Há quem reconheça o amplo debate estabelecido ao longo de quatro longos anos envolvendo os diversos setores da esfera acadêmica e jornalística. Mas as decisões levam em conta a voz uníssona das escolas públicas vinculadas às instituições federais de ensino, às quais estão associadas quase todas as pesquisas que sustentam os argumentos do relatório e do parecer.
Homologadas pelo Ministério da Educação agora, em 12 de setembro, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Jornalismo valorizam as especificidades da atividade profissional no campo da Comunicação. A rigor, o parecer que as sustenta (CNE/CES 39/2013) muda em muito pouca coisa o que foi sugerido pela comissão de especialistas num relatório encomendado pelo próprio MEC e entregue em 2009. Há quem reconheça o amplo debate estabelecido ao longo de quatro longos anos envolvendo os diversos setores da esfera acadêmica e jornalística. Mas as decisões levam em conta a voz uníssona das escolas públicas vinculadas às instituições federais de ensino, às quais estão associadas quase todas as pesquisas que sustentam os argumentos do relatório e do parecer.
De
qualquer modo, as novas diretrizes põem em questão um debate para
além dos currículos decorrentes de suas orientações. A
Comunicação Social não é mais entendida como o campo de saberes
sobre o qual estruturam-se os conhecimentos em Jornalismo. E esse é
um debate antigo. Na relação de forças que historicamente
constituiu as referências curriculares no Brasil, o Jornalismo, como
precursor dos estudos acadêmicos, sempre esteve associado a outras
áreas. Nasceu com as Humanidades, fundamentou-se nas Ciências
Sociais Aplicadas e a formação superior decretada em 1969 fixou o
exercício profissional como habilitação da Comunicação Social.
Até a homologação das novas diretrizes.
Há
um ano consolidamos na Unisul a reforma curricular para os cursos de
Comunicação Social. Obviamente, o corpo docente, a despeito de
obrigar-se a seguir as diretrizes em vigência no momento da
reformulação, acompanhou a proposição dos especialistas e os
debates promovidos em função dela. Percebe-se que a autonomia do
Jornalismo em relação à Comunicação Social evidencia uma
preocupação bem pragmática quanto aos fluxos curriculares em
andamento nas instituições privadas: há a alegação de que a
formação específica vê-se reduzida diante do compartilhamento de
disciplinas genéricas, que constituem uma espécie de eixo comum às
demais habilitações. A preocupação procede, quando não há
argumentos pedagógicos que sustentem esse tipo de proposição. Na
prática, generaliza-se a ideia de que os conteúdos comuns às
diferentes habilitações têm alicerce na mercantilização do
ensino superior.
Além
de segregadora, essa é uma concepção academicista calcada na
formação excessivamente conteudista que, infelizmente, concentra o
espectro de possibilidades na organização do processo educacional
brasileiro de nível superior. Em outras palavras, instituições que
precisam equilibrar fluxo curricular e otimização de estrutura nas
propostas pedagógicas, de saída, são vistas como nocivas ao
processo de formação. É como se as escolas subsidiadas pelo Estado
fossem exemplo de organização acadêmico-pedagógica única e
exclusivamente porque não precisam pôr em primeiro plano o
custo-benefício de suas propostas. Por ora, mudemos a prosa para o
que nos interessa.
Na
Unisul organizamos o recente currículo de Jornalismo por ciclos de
estudo. E o que significa isso? Nossa proposta curricular busca
concentrar atividades para fortalecer a formação específica sem o
isolamento da atividade jornalística em relação ao seu campo de
atuação. Os ciclos de estudo propõem o exercício das técnicas,
das narrativas e gêneros, das relações de produção e das
experimentações tecnológicas, conceituais e de linguagem para além
dos suportes midiáticos e das estruturas mercadológicas formais.
Como resultado, as experiências concretizadas em cada ciclo
constituem um portfólio para o curso e para os estudantes. A ideia é
valorizar o campo de atuação e suas potencialidades. O que inclui o
mercado mas não reduz-se a ele.
Há
ciclos em que futuros jornalistas e publicitários estarão juntos,
mas para estudar o campo em que atuam nas suas especificidades. Nesse
sentido, as experiências a serem propostas dizem respeito ao diálogo
entre duas áreas profissionais específicas, de formação
diferenciada e estruturantes nas relações entre as mídias e a
sociedade. Não há, portanto, o uso de disciplinas comuns para
justificar o compartilhamento de habilitações distintas pelo viés
do conteúdo. A nova proposta curricular explora, isso sim, o campo
da comunicação nos limites de cada profissão para evidenciar o que
as diferencia e como se relacionam; ambiente, aliás, propício para
a consolidação de valores éticos, estéticos, políticos e
culturais inscritos na mediação entre informação e publicidade,
entre o interesse público e a privatização do que é relevante
para a sociedade.
As
diretrizes recém homologadas para a formação em Jornalismo podem
ter promovido avanços quanto a determinados aspectos para o
exercício profissional. Mas a excessiva ênfase na autonomia
curricular em relação às habilitações da Comunicação Social
pode ter entorpecido os sentidos no que diz respeito ao lugar
reservado à atividade num futuro relativamente próximo. Essa
autonomia já estava anunciada desde 2006, quando o Cinema também
deixou de ser habilitação da Comunicação Social. O próprio MEC,
em 2010, publicou documento complementar às diretrizes de todos os
cursos de graduação dando conta de que não reconhecia mais
habilitações, mas linhas de formação. É uma questão de tempo,
portanto, a reformulação de todas as diretrizes com esta
característica.
Preocupações
com as conveniências econômicas e as escolhas políticas passam
distante dos pressupostos que embasam as novas diretrizes. Entre as
economias de mercado e as sociedades democráticas, o Jornalismo,
vinculado ou não à Comunicação Social, precisa inserir no
contexto de sua própria instituição as relações de produção
que o viabilizam. Num país em que a concentração de poder
determina o campo da comunicação, o Jornalismo que nele atua não
pode dispensar o exercício de refletir sobre suas possibilidades de
materializar transformações sociais a partir de escolhas políticas
que escapam aos empreendimentos sedimentados na indústria dos mass
media. Para isso, a atividade precisa por-se em interface com as
outras atividades do próprio campo. Tendo ou não autonomia nas
propostas de formação.
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