quarta-feira, 25 de setembro de 2013

2013: O que faremos de nós?

Thaís Teixeira

“O que nós queremos, de fato, é que as ideias voltem a ser perigosas” - Muros de Paris, 1968. Será?

Por um instante, antes de começar esse texto, eu olhei para a minha estante e uma capa verde-limão saltou aos olhos. Era o livro 1968 – O que fizemos de nós, do jornalista Zuenir Ventura, que tirou minha atenção. Ousei, então, roubar-lhe a ideia de título e pensar no futuro. O que será da nossa geração...



Foto: Keffany Carol
Bem possível que a noite fria e as obrigações acadêmicas com trabalhos atrasados tenham afastado boa parte dos alunos de jornalismo da Unisul na terça-feira, 24 de setembro. É bem provável também, que a não-cultura e não-interesse em discutir assuntos como política e sociedade dentro desse mesmo curso tenham sido outros fatores responsáveis pelo baixo número de presentes no debate organizado pela turma da oitava fase de Jornalismo. O tema era um tanto indigesto e o número de palestrantes (cinco) pode ter assustado aqueles que normalmente sentem sono e preguiça demais em eventos como esses.

Contudo, o sucesso do debate "Juventude política: potência de transformação” fez com que esses pequeninos detalhes se anulassem. Créditos, sem dúvida, da mesa composta por profissionais que com suas experiências na militância política conseguiram prender a atenção do público e discutir quem são esses jovens que hoje estão começando a despertar para os movimentos político-sociais.

O primeiro convidado a falar foi o escritor Amilcar Neves. Seu vasto currículo na área literária encobre uma militância juvenil bastante ativa. Após apresentar-se, Amilcar reviveu os anos em que a UNE (União Nacional dos Estudantes) tinha presença e participação na vida acadêmica, tanto dos secundaristas, quanto dos universitários. Ativo no movimento estudantil, o escritor trouxe a política para a cultura, e tem em mente que “o mais importante é que a gente nunca abandone os ideais da juventude”.

Seguindo a ordem da mesa, Caroline Bellaguarda estava lá representando a UJC (União da Juventude Comunista). Alguns até estranham, mas o comunismo, assim como o socialismo, anarquismo e outras ideologias que não o capitalismo ainda existem, e se organizam entre os jovens de hoje. Estudante de Ciências Sociais da UFSC, Caroline mostrou um conhecimento fascinante sobre a sociedade brasileira. Foi quando estudava psicologia, na Unisul de Tubarão, que ela teve o primeiro contato com a militância política e com outras formas de pensar o mundo.

Militante também da Frente de Luta pelo Transporte Público em Florianópolis, ela aponta algumas características da massa jovem que foi às ruas nas grandes manifestações de junho e julho. Sua constatação foi que “diante dessa inquietude [dos jovens], o debate político voltou a ser mais palpável”, contudo “não adianta apenas ir pra rua e se rebelar como jovem, se não tem um projeto ou uma concepção para outros modelos além do capitalismo, uma concepção de outro mundo mais social e como vamos alcançar um objetivo transformador real”.

Janice Tirelli, embora tenha participado das lutas contra a Ditadura Militar, pouco falou de suas histórias como militante. Dessa parte da história, se restringiu apenas em amargar a figura de José Dirceu (um dos ex-presidentes da UNE) jogando coquetel molotov nos milicos. Cientista social, professora no departamento de ciências sociais da UFSC, Janice também carrega um vasto e respeitável currículo. Suas análises enriqueceram o debate e instigaram questionamentos.

Juventude é muito mais que uma potência, é uma condição de ser. Ela existe como um ser que precisa ser conduzido”, é dessa forma que Janice define o conceito de juventude, e inicia sua reflexão. Para ela, os protestos desse ano são reflexo de um questionamento do jovem acerca do modelo de desenvolvimento e do descrédito com o modelo de representação política do Brasil, a democracia representativa.

O que está se vendo agora é uma renovação da militância, onde há jovens convencidos de que o capitalismo não resolve a vida de ninguém e que a corrupção e a pobreza não é um erro do sistema, são fatores inerentes a ele. A professora acredita que essa é uma geração que está se mobilizando na defesa de seu próprio futuro, porque tem clareza de que suas vidas serão piores que a geração passada.

Janice também aponta que esses jovens têm vontade de retomar a própria vida política. "Muitos deles, que estão organizados, são efetivamente potenciais transformadores da sociedade, pois são capazes de pensar fora da lógica do capitalismo e de romper com a desigualdade dentro do próprio processo" Ela encerra afirmando que é necessário aprender com as experiências das novas gerações, porque  “essa é uma gerações de contestadores. Não basta ser jovem, tem que ser contestador. É preciso ousar. Contestação é fonte de um novo poder político. Os jovens do Brasil e da América Latina são o futuro, a Europa está velha e os olhos estão voltados para nós”.

Já passávamos das 20h30 quando a pedagoga Maike Cristine pegou o microfone. Profissional da Secretaria de Estado da Educação, Maike luta pela volta do estudo político no sistema secundarista de educação. “Nossa formação básica não prepara, não provoca e não ajuda a construir o ser político”, e isso é uma consequência do acordo em que se fez na época da Ditadura Militar, que “departamentalizou, fragmentou o sistema de educação público para não sermos seres pensantes. Assim, na formação do ensino médio entrou o curso técnico para separar o trabalho manual e o trabalho intelectual e isso é assim até hoje".

 Maike explica que “hoje a juventude tem muita pressa. Estamos sendo engolidos por um processo capitalista, pelo apelo consumista que faz com que o jovem saia no primeiro ou segundo ano da escola pra conseguir ter recursos financeiros, ter uma falsa autonomia em um sub-emprego".

O encerramento do debate ficou nas mãos do jornalista Renan Antunes de Oliveira. Militante na década de 1960 e desiludido com os partidos e movimentos de esquerda, Renan não faz análises, mas dá um caloroso depoimento de quem já está bastante calejado em cobertura de protestos, manifestações e revoluções. Ele morou na China, onde conheceu e conviveu com o Partido Comunista Chinês e foi preso político uma dezena de vezes, desde que iniciou na militância com seus 17, 18 anos. Para Renan a consciência revolucionária vem de outro lugar, que não das ruas. Vem de dentro da cabeça, ele só ainda não sabe de onde. Descobriu, talvez pela decepção com a esquerda, que o capitalismo é bom.

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