quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Fuja dos problemas

Cristina Souza

Quando eu tinha um seis anos, briguei com a minha mãe sei lá por qual motivo e decidi que minha casa não era mais um lugar bom para se viver. Peguei então a minha jardineira do gato Félix – minha roupa preferida na época – uma bolacha passatempo e o Gorpo, meu fiel companheiro, enrolei tudo numa trouxa, coloquei num cabo de vassoura e decidi fugir. Quando cheguei na varanda, com a trouxa nas costas, minha cadela Fofinha logo veio com aqueles olhos pidões de quem procura carinho. Afagando a cabeça peluda dela, decidi que não valia mais apenas fugir. Gostaria de escrever aqui, para deixar tudo mais maduro, que eu decidi ficar para enfrentar os meus problemas, mas bem, eu tinha seis anos e só fiquei por causa da Fofinha e da sessão da tarde.

Frequentemente, o discursos que ouvimos são todos voltados para que a gente não fuja dos nossos problemas. Vá, enfrente! Fugir te deixa fraco, fugir não é digno. Quanto a isso,  dou uma de Bial e te aconselho: fuja dos problemas. Isso mesmo, fuja. Encontre um canto secreto e não pense neles. Desligue tudo por um dia – quando digo tudo quero dizer também facebook e afins – e se isole. Coloque um pijama velho, chore, pense em qualquer coisa, mas fuja dos problemas. Fugir é bom também. Essa coisa de que a gente tem que ser forte o tempo todo, bem resolvido, bonito e comer sushi é tudo balela. Por trás da de todo sorriso e filtros do instragram que nos empurram diariamente há pessoas descabeladas, comendo miojo e cheias de problemas.

Mas aí você pergunta: se eu fugir, como vou resolver? É simples: na fuga é que a gente encontra a solução. Nos momentos de isolamento – tão descriminados, mas tão necessários – é que estão escondidas a esperança, a determinação, a vontade e a criatividade. Não, fugindo você não vai encontrar um pote de dinheiro e pagar suas contas, nem muito menos a solução para aquele relacionamento falido. Mas, quando fugimos, queremos voltar. Quando deixamos algo para trás, ainda que por instantes, conseguimos enxergar o real valor dela. A gente, ás vezes, só precisa mesmo da fuga. De ir para outro lugar, pois isso renova. Se tentarmos confrontar todos nossos problemas sem dar uma fugidinha de vez em quando, só vamos criar problemas para os nossos problemas.

Fuja. Mas volte. Seja porque você quer enfrentar os problemas ou seja porque você ficou com pena de abandonar a sua cachorrinha – não importa, apenas volte. Mas não deixe de fugir de vez em quando. Fugir não é falta de coragem,  assumir que se tem fraquezas, isso sim, é a coisa mais corajosa a se fazer.

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