quarta-feira, 4 de setembro de 2013

As axilas e as poderosas

Claudia Reis

Então tínhamos o gumex, o gel, o laquê, o permanente, o condicionador e o xampu 2 em 1. Aí gente se acostumou com as tinturas, os tonalizantes, os cremes para pentear, relaxar, alisar, defrizar e finalizar. Passamos também para as pomadas modeladoras e os super óleos - que podem ser usados antes, durante e depois de lavar as madeixas. Escolhemos entre a definitiva, a progressiva, a marroquina, a escova americana ou a carbocisteína. 

Sim, somos fãs dos antirrugas para os 50, os 40, os 30 e mesmo os 20 anos. Não vivemos sem a base com protetor solar, o gel firmador, o creme que elimina a celulite em apenas um mês, os nutrirregenerantes, os que proporcionam lifting imediato e protegem contra o estresse oxidativo, os fluídos que contêm colágeno biotecnológico, os hidratantes que clareiam sardas e eliminam manchas, aqueles que utilizamos de dia e os que guardamos para a noite, depois de termos a pele devidamente higienizada dos cansaços cotidianos com o mousse de limpeza purificante,  utilizando vez ou outra a emulsão emoliente amolecedora de comedões para finalmente finalizar com a máscara calmante de betaglucan.

E as unhas? Renda, Rebu ou Café ainda permanecem nas prateleiras, mas estão em baixa. Com a cartela de cores ampliada, temos matizes denominadas Azulcrination, Ha Ha Ha, Manjar de Tapioca e Marshmallow de Alfazema. E, além das postiças, há ainda a francesinha, a viúva, as tatuagens e os piercings, os adesivos – metalizados ou com glitter –, o strass, a decoração em relevo com pó acrílico (que dá efeito 3D) e o gel para modelar unhas com secagem apenas em cabine UV.

Então lançaram o desodorante para deixar as axilas lindas.

Teve até revista postando no facebook a chamada para matéria que questionava- induzia: “você tem vergonha de levantar os braços para prender o cabelo quando está de regata?”. Alguém já se deprimiu, decidindo ficar em casa em vez de ver os amigos, porque não tem axilas lindas? Nunca se ouviu história de adolescente que sofreu bullying devido à aparência do seu sovaco. Mas essa parte de pele que fica escondida embaixo do braço foi a escolhida da vez para ser explorada pela indústria cosmética. Era até previsível, já que outros centímetros do corpo estão devidamente demarcados e bem munidos de produtos dos mais variados preços.

Mas o fato é que estamos esquecendo que ser poderosa nada tem a ver com a aparência, como a mídia, o cabeleireiro da esquina e a melhor amiga aprenderam e repetem o tempo todo. Usar saltão, pintar a boca de vermelho-fúcsia e acordar mais cedo naquela manhã chuvosa, pra dar conta da chapinha, também não são assim tão eficazes para a beleza. 

Solidariedade, amizade e gentileza inundam a pessoa que se vale delas de um poder que nenhuma bolsa consegue bater. Poderosas são as mulheres que prendem o cabelo com elástico de dinheiro, descem do morro de rosto lavado e chinelo de dedo para dar conta do sustento dos oito filhos. Poderosa é aquela que gosta do que faz e consegue contagiar quem faz parte do seu dia a dia. Ser poderosa não é preparar um look sem o qual não se pode sair de casa; as que arrasam mesmo são poderosas 24 horas por dia, com cabelo desgrenhado e roupa de faxina.

A indústria não conta pra ninguém, mas o que ela quer de verdade é embalar e colocar nas prateleiras o sorriso de quem arregaça as mangas para garantir a sobrevivência e o brilho no olhar das que lutam para melhorar o entorno em que vivem. 

Por enquanto, o que se pode fazer é tornar lisinhas, esfuziantes e charmosas as axilas.

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