Fernando Schweitzer
É! É sério... Foi em um sonho... Sentados em um sofá em uma
varanda em algum lugar do interior... Talvez Taubaté. Tínhamos um televisor
frente a mesa de centro, um cafezinho na mão e muitas ideias na cabeça.
Ela me perguntou: "O que você tem assistido
ultimamente? Além do meu programa..." Gargalhei e respondi: Gracinha! Vejo
programas no Youtube, de vários países, algo do Brasil... Hoje em dia existem
poucos programas ao vivo...
Hebe interpela: "Eu sempre fiz ao vivo... Na minha
época... Até as novelas eram ao vivo..." E digo eu inocente: Existiam
tantos bons atores assim, ou as novelas eram ruins?
Corta!!! Na verdade não era um sonho. Mas sim um sonho
dentro do sonho. Estávamos gravando um programa que chamava-se "Antes,
durante ou depois?". Dentre vários temas com minha entrevistada
discutíamos se um ator, profissional das tais artes cênicas, quando e como
passariam nos dias de hoje a tornar-se profissional.
Antes, durante ou depois? Vamos ajudar os leigos. Numa rede
social, atores não televisivos com DRT (o famigerado registro de ator
profissional) discutem se a classe deve aceitar trabalhos mal remunerados, como, por exemplo, os praticados no mercado publicitário atualmente. Em um dia
emblemático, hoje, 19 de Agosto, dia do ator. E que triste dia.
Lá na rede uma imagem com a foto de Paulo Autran, comemora
em meio a outras postagens. O grupo se chama: Atores com DRT. A polêmica
postagem com mais de 200 curtidas e ultrapassando os 100 comentários levantou, acidentalmente, várias outras discussões, essa sim que deveras levantou-me a
orelha fala sobre o valor da formação do ator.
Quanto custa a formação de um ator profissional? - pergunta
o ator Fábio Angelus, de São Paulo. Cada um fez seu cálculo... Existem várias
formas... Há 5 anos, por R$ 520 como investimento total e carga horária
de 360 horas, o mínimo exigido pelo sindicato, nessas condições oferecia, eu à
época em meu curso profissionalizante reconhecido pelo SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de
Diversões pelo Brasil). E isso com plano
de ensino e método próprio criado pela minha pessoa.
Hoje, em vários estados, se multiplicam os pseudo cursos de
formação de atores que prometem e muitas vezes "dão" o DRT. Porém, ainda mais perigoso que esses cursos vem a grade, e de fato, suas aulas são recheadas de improvisação para enrolar os aluninhos e matar tempo, são
os testes do sofá para almejados papéis na TV.
Bem, se o status de ser ator global é um fetiche de muitos,
poucos são os que sabem o que é necessário para. Povo brasileiro... sejamos
menos hipócritas. Lendo colunas especializadas em TV e vendo centenas de vídeos na internet você tem a resposta. Basta deitar com um diretor ou
produtor da Globo, e comprar um DRT e você se tornará o mais famoso
"Quem?" da vez.
Por pobreza para pagar advogado não citarei nomes. Mas basta
fuçar colunas zapping's antigas no site da Folha de São Paulo e verás...
Foco! Em outro comentário "Cês viram a quantidade de
atores que se candidataram para trabalhar, publicamente, por 120 reais a diária?
Até ontem eram 110 interessados... Apesar da vergonha de publicar um anúncio
com esse cachê, foi bem útil descobrir o perfil desses candidatos... Agora, que
a gente já sabe "quem são" fica mais fácil pra convencê-los a
respeitar a tabela mínima do Sated."
Em muitos países, o teatro só passou a ser profissional,
quando o número de casas de espetáculo e de espetáculos aumentou. Algo utópico
nas capitais brasileiras exceto São Paulo, próximo de criar-se essa realidade
de casas suficientes para formar um público de teatro e uma futura e remota
subsistência de atores e profissionais teatrais fora da mídia televisiva.
Em Joinville, se formou uma coisa rara no país. Uma
associação teatral composta por vários artistas e companhias. Gerenciam
coletivamente seu próprio teatro e não dependem mais das máfias para conseguir
datas nos teatros públicos, esses loteados há anos aos mesmos produtores e
companhias.
O buraco é muito mais embaixo... E vem da questão de "O
que é ser ator?" Se depende de formação ou de talento? Mero e mágico
talento. Tem gente que acha que "ter jeito" para a coisa, ser espontâneo
é o bastante para ser ator... E tem escolas, cursos, workshops, palestras e
"Master Classes" (excetuando-se obviamente, mas raramente, as boas de
verdade) que se aproveitam exatamente disso para fingir que sabem como formar
bons atores e ajudar na sua formação... E claro que conseguem o DRT...
Mas de que serve ter DRT e fazer o público dormir de tédio?
Nem o excesso de academicismos, teoria e pouca práticas... Tão pouco a falta de
preparação e superficialidade de muitos cursos.
Antes, durante e depois. Formação (prática, trabalho cênico,
palco, experiência) é preciso, mas seguramente vômito de teoria não é o
fundamental. Afinal de contas Paulo Autran não fez nem ECA, nem PUC, muito
menos cênicas na Udesc, mas Hebe Camargo, uma das fundadoras da TV no Brasil e
cantora de carreira, além de atriz em vários filmes clássicos brasileiros,
sempre o considerou um grande ator.
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