terça-feira, 20 de agosto de 2013

Hoje conversei com Hebe Camargo

Fernando Schweitzer

É! É sério... Foi em um sonho... Sentados em um sofá em uma varanda em algum lugar do interior... Talvez Taubaté. Tínhamos um televisor frente a mesa de centro, um cafezinho na mão e muitas ideias na cabeça.

Ela me perguntou: "O que você tem assistido ultimamente? Além do meu programa..." Gargalhei e respondi: Gracinha! Vejo programas no Youtube, de vários países, algo do Brasil... Hoje em dia existem poucos programas ao vivo...

Hebe interpela: "Eu sempre fiz ao vivo... Na minha época... Até as novelas eram ao vivo..." E digo eu inocente: Existiam tantos bons atores assim, ou as novelas eram ruins?

Corta!!! Na verdade não era um sonho. Mas sim um sonho dentro do sonho. Estávamos gravando um programa que chamava-se "Antes, durante ou depois?". Dentre vários temas com minha entrevistada discutíamos se um ator, profissional das tais artes cênicas, quando e como passariam nos dias de hoje a tornar-se profissional.

Antes, durante ou depois? Vamos ajudar os leigos. Numa rede social, atores não televisivos com DRT (o famigerado registro de ator profissional) discutem se a classe deve aceitar trabalhos mal remunerados, como, por exemplo, os praticados no mercado publicitário atualmente. Em um dia emblemático, hoje, 19 de Agosto, dia do ator. E que triste dia.

Lá na rede uma imagem com a foto de Paulo Autran, comemora em meio a outras postagens. O grupo se chama: Atores com DRT. A polêmica postagem com mais de 200 curtidas e ultrapassando os 100 comentários levantou, acidentalmente, várias outras discussões, essa sim que deveras levantou-me a orelha fala sobre o valor da formação do ator. 

Quanto custa a formação de um ator profissional? - pergunta o ator Fábio Angelus, de São Paulo. Cada um fez seu cálculo... Existem várias formas... Há 5 anos, por R$ 520 como investimento total e carga horária de 360 horas, o mínimo exigido pelo sindicato, nessas condições oferecia, eu à época em meu curso profissionalizante reconhecido pelo SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões pelo Brasil). E isso com plano de ensino e método próprio criado pela minha pessoa.

Hoje, em vários estados, se multiplicam os pseudo cursos de formação de atores que prometem e muitas vezes "dão" o DRT. Porém, ainda mais perigoso que esses cursos vem a grade, e de fato, suas aulas são recheadas de improvisação para enrolar os aluninhos e matar tempo, são os testes do sofá para almejados papéis na TV.

Bem, se o status de ser ator global é um fetiche de muitos, poucos são os que sabem o que é necessário para. Povo brasileiro... sejamos menos hipócritas. Lendo colunas especializadas em TV e vendo centenas de vídeos na internet você tem a resposta. Basta deitar com um diretor ou produtor da Globo, e comprar um DRT e você se tornará o mais famoso "Quem?" da vez. 

Por pobreza para pagar advogado não citarei nomes. Mas basta fuçar colunas zapping's antigas no site da Folha de São Paulo e verás... 

Foco! Em outro comentário "Cês viram a quantidade de atores que se candidataram para trabalhar, publicamente, por 120 reais a diária? Até ontem eram 110 interessados... Apesar da vergonha de publicar um anúncio com esse cachê, foi bem útil descobrir o perfil desses candidatos... Agora, que a gente já sabe "quem são" fica mais fácil pra convencê-los a respeitar a tabela mínima do Sated."

Em muitos países, o teatro só passou a ser profissional, quando o número de casas de espetáculo e de espetáculos aumentou. Algo utópico nas capitais brasileiras exceto São Paulo, próximo de criar-se essa realidade de casas suficientes para formar um público de teatro e uma futura e remota subsistência de atores e profissionais teatrais fora da mídia televisiva.

Em Joinville, se formou uma coisa rara no país. Uma associação teatral composta por vários artistas e companhias. Gerenciam coletivamente seu próprio teatro e não dependem mais das máfias para conseguir datas nos teatros públicos, esses loteados há anos aos mesmos produtores e companhias.

O buraco é muito mais embaixo... E vem da questão de "O que é ser ator?" Se depende de formação ou de talento? Mero e mágico talento. Tem gente que acha que "ter jeito" para a coisa, ser espontâneo é o bastante para ser ator... E tem escolas, cursos, workshops, palestras e "Master Classes" (excetuando-se obviamente, mas raramente, as boas de verdade) que se aproveitam exatamente disso para fingir que sabem como formar bons atores e ajudar na sua formação... E claro que conseguem o DRT... 

Mas de que serve ter DRT e fazer o público dormir de tédio? Nem o excesso de academicismos, teoria e pouca práticas... Tão pouco a falta de preparação e superficialidade de muitos cursos.

Antes, durante e depois. Formação (prática, trabalho cênico, palco, experiência) é preciso, mas seguramente vômito de teoria não é o fundamental. Afinal de contas Paulo Autran não fez nem ECA, nem PUC, muito menos cênicas na Udesc, mas Hebe Camargo, uma das fundadoras da TV no Brasil e cantora de carreira, além de atriz em vários filmes clássicos brasileiros, sempre o considerou um grande ator.


Nenhum comentário: