terça-feira, 20 de agosto de 2013

Fora dos eixos

Camila Albuquerque

Mulher fora dos eixos! Como vou entender o que ela diz se nem mesmo ela se entende? Vai dormir falando mal de pagode e acorda cantarolando uma música chinfrim na cozinha. Levantei pra xingar a bipolaridade dela, mas ficou impossível quando ela sorriu pra mim vestindo só a camiseta do meu pijama. Ela tinha muito disso aliás, sempre usava dos seus atributos pra me deixar com cara de moleque.


E tava lá ela no bar um dia, conversando com as amigas sobre algo fútil qualquer, nem agucei os ouvidos pra entender, só ouvia aquela voz estridente e infantil falando e gargalhando, alto, sempre a mais escandalosa do grupo. Tomava um gole de água com gelo, apertava minha mão e cochichava algo como "não aguento mais esse lugar, vamos sair daqui, vou dizer que a culpa é sua", e ela dizia e concordava com as amigas quando as tais me chamavam de chato pelas costas. Me odiavam e ela adorava isso. Maluca. Eu pouco ligava.

O caminho de volta para casa era sempre o mesmo, ela lamentando a falta de amigas interessantes e prometendo ser a última vez que sairia com elas.

Entrava na sala já arrancando o sutiã e respirando alívio por poder tirar aquilo, ela simplesmente odiava, vivia faceira quando, por sorte, fazia muito frio e a quantidade de casacos dispensava o uso deles. Sempre me ligava contente nos dias em que isso acontecia.

Acendia a luz do quarto e já anunciava que queria transar, ela sempre estragava todo e qualquer clima que pudesse acontecer, tinha essa necessidade insuportável de avisar quando e como iria fazer. Lembro até hoje da nossa primeira vez, quando eu perguntei se ela não iria tirar as meias e ela encolheu as pernas num reflexo tão rápido que me embasbaquei, "não! eu só faço com meias, se te incomoda eu posso vestir o resto e pedir uma pizza". Até hoje coleciona as malditas meias, carrega na bolsa e outro dia entrou no chuveiro comigo assim. Vai entender.

Tudo ora era chato e legal, irritante, fedia, tinha gosto ruim ou não tinha graça pra ela. Até comigo, disse uma vez que na verdade não gostava muito de mim, que não tínhamos gostos parecidos e que eu era muito chato. Me fez sair bufando o dia em que disse isso e eu senti que só tava ali perdendo o meu tempo. No dia seguinte, sem pedir desculpas ou retirar o que havia dito, simplesmente disse o quanto me amava e o quanto éramos iguais em tudo. Maluca. 

Foi quando decidi que não adiantava mais agir racionalmente com alguém que não tinha razão alguma. Ela me amava e eu amava ela. Ela era minha e esse é o início e o fim da história.

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