Camila Albuquerque
Venho invejando o outro lado da rua ultimamente, essas outras pessoas decididas
que caminham por lá. Pelo meu ponto de vista dessa chatice que é o mundo
existem pessoas e pessoas, as pessoas do tipo eu e as que se resolvem, decidem,
gritam e usam frases como "para mim chega"", aliás sonho em
dizer isso um dia do mesmo jeito que sonho em gritar a frase "soltem os
cachorros!", mas talvez a segunda não seja tão interessante assim..
Mas como eu ia dizendo a vocês, antes de ter me perdido
nesse assunto meio ilusório, a verdade é que eu faço parte desse outro grupo de
pessoas que não conseguem se livrar das coisas, sejam elas boas ou ruins.
Aquele grupo de pessoas estranhas que insistem em deixar a "bunda" do
pão de fatia dentro do saco de pão, em vez de jogá-lo no lixo e parar de
passar a mão por ele toda a vez. É totalmente aceitável esse tipo de atitude,
talvez por ser tão corriqueira, mas tenho para mim que é um dos sintomas que definem
esse outro tipo de pessoa. Penso que somos maioria certas vezes e isso me
apavora.
Não consigo me livrar, por exemplo, de pessoas
desagradáveis, egoístas e grosseiras. Elas são presença constante na minha vida
e parece até que o destino, universo ou sei lá o quê, insistem em colocá-las no
meu caminho em forma de teste ou desafio. Quanto mais você aguenta? Temo
ter perdido os limites do meu próprio senso crítico e ter passado por cima dos
meus valores de maneira exacerbada e irreal, apenas em função desse medo que
sinto de tirar da minha vida alguém que de maneira nenhuma deveria ter sido bem
vinda. Que seja mal vinda essa mania de agradar ao próximo - que por muitas
vezes não merecem ser chamados assim.
Não consigo me livrar também da minha gaveta quebrada no
armário. Já faz anos que ela emperra do mesmo lado, vem armário troca
armário, continua aquela praga de gaveta emperrando! Não consigo trocar,
arrumar ou jogar fora. De novo a vida me desafiando e o que eu faço? A deixo
entreaberta pra não correr o risco de trancar. Insisto em inventar soluções
temporárias pelo simples medo de falhar, talvez, ou ter sucesso.
Mudar de atitude e obter resultados positivos é muito mais
assustador do que falhar para esse grupo estranho de pessoas. Talvez porque já
estejamos acostumados a isso. Agora imagina você acordar amanhã sem ter que
fingir gostar de alguém só para parecer educado? Ter uma gaveta nova? Comprar
um outro tipo de pão? Imagina você de repente ser o dono das suas vontades e
não seguir padrões que nem se lembra de onde vieram?
O que eu venho tentando dizer aqui é que somos sugadores de
problemas, de empecilhos invisíveis e estúpidos que nós mesmos implantamos em
nosso caminho. Somos sabotadores gerais com um único objetivo e prejudicado, nós
mesmos. A verdade é que nós, grupo de pessoas estranhas - presos como pregos
tortos e inutilizáveis, somos a nova geração sofá (mas senta ali daquele lado
direito pro pé esquerdo não piorar).
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