sexta-feira, 28 de junho de 2013

Um achado inesquecível

Giovanna Dutra

Encontrar o personagem principal desta reportagem não foi uma tarefa fácil. Podemos dizer que foi preciso garimpar em várias minas até encontrar tesouro. Marcelo Lourenço da Silva é a agulha no palheiro que eu procurei durantes alguns dias. Quando nos conhecemos a conversa andou muito fácil. A princípio não me chamava nem um pouco a atenção redigir uma matéria sobre pescadores, me pareceu uma pauta pouco produtiva. Mas Marcelo me surpreendeu por sua sinceridade e convicção no mundo da pesca. 

Cheguei na vila de pescadores da Barra do Aririú, localizada na cidade de Palhoça, por volta das 20 horas. Sem muita expectativa pelo que iria encontrar ali, pois a vila parecia mais um deserto. Só se ouvia o som das marolas chegando aos bancos de areia. Mesmo sendo quase um peixe por causa da minha criação na beira mar, o cheiro do lugar incomodava um pouco. Era uma mistura de fim de pesca com álcool. Mas no meio de uma escuridão que parecia não ter fim. Depois de alguns minutos pude identificar uma pequena luz, num dos ranchos e escutar as risadas altas. Então caminhei até lá para ver o que estava acontecendo. Quando entrei avistei 5 homens alegres depois de um bom dia de pesca. Foi aí que conheci o Marcelo, minha agulha no palheiro. 

Iniciei a entrevista perguntando há quanto tempo ele está no mar e Marcelo rapidamente me respondeu que desde menino. “Aprendi com meu pai, né! Naquela época a pesca era passada de pai para filho”. No auge de seus 38 anos, seus olhos brilham ao falar das redes e barcos que conseguiu conquistar com o esforço de anos. E ao mesmo tempo que ele ia me contando sobre sua vida, eu recordava as histórias que meu avô me contava quando criança. 

Com um humor ímpar, Marcelo vai mostrando cada objeto que utiliza para a lida diária. As redes que ele mesmo construiu, seus dois barcos. E quando eu menos espero, traz um álbum de fotos antigas que contém suas maiores conquistas no mar. Com um sorriso que ia da orelha esquerda à direita, ele me mostra uma foto sua carregando nos braços o maior peixe que já pescou. Segundo ele, trata-se de um Meraguáia de mais ou menos 2,5 metros e 45 quilos. “Você pode não acreditar, mas a foto está aqui. Ele era enorme. Isso não é mentira de pescador”.  Eu só sorri. 

Depois de conhecer os instrumentos de trabalho e sua rotina, questionei Marcelo sobre sua relação com o mar. O que aquela imensidão de água significava para sua vida. Ele para por alguns instantes, me fazendo pensar que toquei em um lugar delicado. Marcelo olha para mim e diz que não sabe viver sem o mar: “Saí da barriga da minha mãe direto para a água”, diz emocionado. “Agradeço a cada momento por poder trabalhar lá. Essa missão não é para qualquer um. Sou privilegiado”. 

Para ele, não se pode só usar do mar e das coisas que dele vêm é preciso respeitá-lo. “O mar é traiçoeiro. Se você tirar e não souber agradecer, um dia ele não te dará mais nada”. Nossa Senhora dos Navegantes é sua protetora de todas horas. “Não posso sair para o trabalho sem pedir a proteção dela, minha mãezinha. Na realidade, agradeço desde que acordo”. Seus olhos brilhavam quando falava do mar. 

Marcelo me leva até a beira do mar e com as mãos estendidas diz: “Está vendo essa imensidão? Ela é um presente de Deus para nós. Devemos cuidar e respeitar. Se não fosse o mar, nossos ancestrais não teriam chegado aqui e eu e você podíamos nem ter nascido.” 

As histórias que Marcelo contava eram muito interessantes e nem percebi que já havia se passado quase três horas desde que cheguei. Gostaria de poder voltar àquela vila mais vezes para conhecer ainda mais a vida daquele perseverante pescador do século XXI. Despeço-me de Marcelo e de sua vila cheia de histórias e mistérios.

Nenhum comentário: