terça-feira, 18 de junho de 2013

Querida presidenta Dilma

Maria Eduarda Silveira

Dilma, cadê a revolucionária de 1970?
Que orgulho de termos como presidenta do Brasil uma revolucionária da época da ditadura militar! Que belo currículo o seu, que integrou as organizações Polop, Colina e VAR-Palmares para vencer o regime militar através de uma luta armada. Foi de admirável coragem a Sra., com seus 20 e poucos anos, comandar ações armadas, para tentar mudar o país onde se perseguia, matava e torturava os cidadãos. Graças a você, sua desenvoltura e liderança, em tempos de DOI-CODI, e de mais alguns bravos guerreiros que, hoje, estamos vivendo esse país “democrático”. Esse país que, por infelicidade do destino, está ao léu.

Hoje, presidenta, nós usamos a sua juventude como exemplo! Resolvemos finalmente abrir os olhos para os estragos e dar um basta às atrocidades cometidas nos antigos e no seu governo. Vamos fazer valer cada imposto que pagamos, cada centavo que sai do nosso bolso. E cadê você para nos aplaudir agora, Dilma? Você, que um dia já foi um de nós, que já arregaçou as mangas e saiu nas ruas reivindicando seus direitos. Esqueceu do povo? Esqueceu que você já esteve aqui, do nosso lado? Agora como presidenta, chefe do Estado, o que você faz?

Você está lá, no exterior, viajando e exibindo gastos em estádios, e fingindo que o Brasil é o país perfeito – ou quase – e que está pronto para uma Copa do Mundo. Não iluda o povo. Não mascare a verdade, afinal, ela sempre vem à tona. Mostre a eles tudo o que você deixou de lado até aqui: a saúde, a educação, a infraestrutura, os brasileiros! Admita, “Dear Mrs. president”,que não estamos preparados para nada, muito menos para um evento desse porte. E não me venha, por favor, aparecer de novo em frente ao público – seu público – e simular que a situação está sob controle. É mentira, nós sabemos, e por isso você recebeu vaias no Estádio Mané Garrincha e elas foram muito mais do que merecidas.

O escárnio foi feito como forma de protesto (mais um), afinal, a Sra. não havia se pronunciado a respeito das manifestações realizadas em alguns estados do Brasil, porque, como de costume, vestiu sua venda e ignorou a população e suas reivindicações. Desdenhou destes “novos revolucionários”, não se interessou ao menos em conhecer quem eles são. E quer saber? Eles são todos nós. Eles são o Brasil unido por uma mesma causa, e não só por R$0,20.

Agora, Dilma, o Gigante acordou. Sacudimos a poeira da nossa verdinha, amarela e azul e resolvemos colocar o progresso em ordem. Finalmente nós deixamos o falatório de lado, levantamos a bunda da cadeira e estamos dando a cara à tapa – literalmente, porque a sua polícia, presidenta, também não está pronta para nenhum grande evento. Ela, na verdade, deveria se juntar a nós e clamar por melhorias, e não bater e torturar quem busca pelos seus direitos. Aliás, acredito que a Sra. tenha sofrido o suficiente com a repressão dos militares no século passado para saber o que o seu povo está passando agora. Você realmente acha que balas de borracha e bombas de efeito moral vão desmotivar os jovens sedentos por mudanças? Quem sabe ouvi-los e atender suas demandas? Afinal, vivemos em um país democrático, não é?

Ontem, Dilma, o Brasil parou. Em doze capitais, foram mais de 230 mil manifestantes nas ruas. Chamamos a atenção dos noticiários internacionais para mostrar que os vinte centavos foram o estopim e que nossa revolta começou há muito tempo e agora não ficaremos mais de braços cruzados vendo políticos corruptos – que a Sra. deve saber muito bem quem são – acabarem de vez com nosso Brasil. Mostramos ao mundo que estamos cansados de não sermos ouvidos e não acatarem nossas necessidades, e que estamos cansados de apertar alguns dígitos na urna eletrônica a cada dois anos e fingirmos ser um país democrata.

Não somos baderneiros, querida Dilma Rousseff. Baderna é o que acontece no Congresso Nacional todos os dias. Nós estamos lutando por um Brasil melhor, mais justo e com mais qualidade. E não vamos parar por aqui. Juntos, provamos que somos capazes sim de mudar a realidade medíocre que a senhora – e sua ineficiência - está construindo.

“Ousar lutar, ousar vencer” – lema da VAR-Palmares


2 comentários:

Fausto Silva disse...

Bem... quem planta, colhe ! Regra geral. O que estamos assistindo e' uma manifestacao sadia que esta' sendo corrompida com a infiltracao de guerrilheiros treinados para sacanear o movimento. Ou seja, o Comando das antigas forcas revolucionarias vermelhas, esta' a quebrar o patrimonio publico, transferindo a imagem de baderneiros a quem, neofitos do escarnio profissional, reage ao roubo escandaloso, o desmonte da dignidade, a inexistencia da etica, a alegria de ser brasileiro. O artigo a que me reporto, expressa com a irreverencia de uma juventude pura mas inteligente, sem leviandade, mas decidida, sem cara pintada porque nao imita os tempos, se renova em elevados exemplos. Por oportuno, sei que a autora e' estudante de Jornalismo. Abencoada seja ela e quem adere a causa do povo tenro em idade, sem barbas cubanas, sem imitacoes. Vou viver para identificar uma imprensa que nao se vende ao patrocinio governamental, que ja' comprou o Judiciario, o Legislativo, os Tribunais, os Ministerios Publicos ( tao silenciosos nas causas de governo), pelo pagamento de auxilios moradia, combustivel, alimentacao, retroativos a 2004, sempre com suas superiores defesas em defesa propria. Participes das sacanagens, vestidos de terno preto e colarinho branco.
Parabens a autora, por mostrar sua formacao de berco, sem raiva, mas com zelo ao patrimonio nacional: a honradez !
Fausto Silva

Sandra B. disse...

Uau!!! disse tudo que eu gostaria de dizer, e da forma mais perfeita!! Parabéns, Duda! Você escreve lindamente!