quarta-feira, 19 de junho de 2013

Florianópolis registra a manifestação mais pacífica do Brasil

Leonardo Contin

Alegria dos manifestantes em Florianópolis. Foto: Iaggo Gonçalves
Impunidade, corrupção, desvios de verbas e outros tantos males que assolam o Brasil há tantos anos chegaram ao limite. Os brasileiros cansaram, uniram-se e resolveram sair às ruas pedindo mudanças. Protestos foram ouvidos na última semana em Porto Alegre, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e também em Florianópolis aonde, ontem, pelo menos 10.000 manifestantes saíram às ruas – alguns jornais falam em 5.000, outros em 50.000 pessoas. Fica impossível falar em um número certo, já que o movimento aumentava e diminuía conforme passava pelas ruas centrais da cidade.

Manifestantes reunidos na frente do Ticen
O ato teve início às 18h em frente ao Terminal de Integração do Centro (Ticen), momento em que havia um número expressivo de estudantes. Bandeiras de partidos políticos foram desde o início banidas, já que o protesto não tem cor partidária ou vinculação com partido político. Os estudantes caminharam em direção ao Fórum da Capital e Tribunal de Justiça, local onde foram ouvidas vaias e diversos palavrões direcionados ao Poder Judiciário.

Pouco mais à frente, na Assembleia Legislativa, já com um número maior de manifestantes, houve uma pausa para o Hino Nacional em frente às bandeiras de Santa Catarina e do Brasil. Funcionários de diversos órgãos públicos da região se juntaram ao protesto. Em frente aos prédios do SENAC, Instituto Estadual de Educação e Instituto Federal de Educação, os gritos clamavam pela valorização dos Professores: “o professor vale mais que o Neymar”, fazendo referência às altas cifras recebidas pelos jogadores de futebol, enquanto os professores ganham salários baixíssimos, revelando uma total inversão de valores. Uma das professoras gritava da janela de uma escola: “vocês me representam!”

"Ponte Hercílio Luz, Banco de Corrupção. Filiada RBS"
Profissionais dos hospitais da região também se juntaram ao protesto e o grito pela saúde foi ouvido quando a passeata chegou às proximidades do Imperial Hospital de Caridade. A manipulação da informação e o monopólio de certos segmentos de comunicação também ganharam vaias e gritos de guerra. Num dos gritos mais repetidos de toda a noite, os participantes entoavam palavrões a RBS e questionavam o seu monopólio.

Nas imediações das avenidas Mauro Ramos e Beira-Mar Norte, por onde seguiram, moradores nas janelas das casas e edifícios balançavam lençóis brancos e bandeiras do Brasil, em claro sinal de apoio ao movimento. Dentro dos carros parados pelo bloqueio das ruas era possível avistar celulares e câmeras filmando e fotografando o momento histórico na cidade. Não foi registrado qualquer tipo de vandalismo a veículos, prédios ou equipamentos públicos.

Quando alcançaram a Ponte Hercílio Luz, a maioria de estudantes já havia se dissolvido entre os tantos profissionais que se juntaram ao ato. Já não era mais um protesto estudantil, mas um protesto da sociedade. O ato teve seu auge nas Pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Campos (que ligam a ilha ao continente), fechadas pela passeata e tomadas por uma multidão que novamente entoou o Hino Nacional e cantou músicas de protestos.  Sentados sobre a ponte, era possível avistar placas contrárias à PEC 37, ao Ato Médico, pedindo o passe livre, verbas para educação, saúde e segurança e bradando: “saímos do Facebook”, “menos TV e mais ação” e “o gigante acordou”.

Manifestantes passam a bandeira do Brasil pelos carros,
quem buzinavam em favor do protesto
Os policiais se comportaram de modo exemplar. Respeitaram o direito à livre manifestação e em momento algum agiram de forma violenta. Quem observou mais atentamente os militares, percebeu que alguns estavam bastante emocionados – um deles, próximo à Assembleia Legislativa, chegou a chorar quando ouviu o Hino Nacional. Outros tantos seguravam câmeras nas mãos tentando também guardar para a posteridade a data histórica. Foi um ato extremamente pacífico, que uniu as mais diferentes vozes e reivindicações e que deve se repetir amanhã (dia 20), a partir das 18h, novamente em frente ao TICEN – com a promessa de duplicar o número de manifestantes.


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