O livro de sua vida

Camila Albuquerque

Hoje, perdi umas horas do meu dia olhando as intermináveis listas de livros do submarino e, entre tantas capas e títulos, pensei: um desses livros pode ser o livro da minha vida. Um livro daqueles que muda tudo, sua maneira de ver as coisas e as pessoas, que te faz ficar acordado até amanhecer, trocar as páginas tão rápido como se sua vida agora dependesse daquele desfecho. Quantos de vocês já tiveram o livro de suas vidas? 

Um livro que te faz viajar de tal maneira que, por um instante, você olha ao redor e estranha o seu próprio quarto, como se não visse ele há um bom tempo. Parece loucura mas de repente as suas tarefas e afazeres cotidianos se tornam apenas algo que você tem que terminar logo para então chegar em casa e abrir aquelas páginas de novo. Você senta no ônibus e só consegue criar os cenários e personagens daquela história, se identifica com algum deles e se imagina sendo ele, sempre. 

E olhando aquela lista me deu um desespero enorme de pensar que posso estar optando por todos os livros errados e estar deixando passar aquele único que teria feito toda a diferença.  Mas lembrei que, de fato, não existem livros errados. Um livro pode ser tão insignificante para alguém e tão importante para outro. Cada história nos afeta de uma maneira diferente, cada livro causa uma reação - por vezes até oposta, em nós leitores. E isso não cabe a ninguém julgar.

Então leia a caixa de sucrilhos no café da manhã, leia o shampoo durante o banho, a bula de remédio numa tarde de tédio, leia cartas antigas que você guardou numa caixa de sapatos qualquer, leia os avisos do elevador do seu prédio, leia as sinopses dos filmes que estão no cinema, leia os asteriscos dos documentos que você vai assinar, leia as frases que colocam em cada mês do calendário, leia os manuais de instrução, leia as placas para não entrar na contramão. Se possível leia em outra língua, leia de cabeça para baixo ou de pés para cima.

O delicioso da leitura é que você decide o que fazer com ela, não existe uma regra e os pontos finais são pura ortografia. O importante é ler. Seja uma revista em quadrinhos ou um livro de oitocentas páginas, seja sobre vampiros ou seja sobre poetas da antiguidade. O que vale é ler. 

O conteúdo fica por sua escolha, a conclusão fica por seu ponto de vista. Compre livros, gaste com eles, reserve uma parte do seu dinheiro para eles. Comece uma corrida contra você mesmo em busca do livro de sua vida, leia tudo que lhe espichar os olhos e sinta o que é ganhar tempo enquanto perde. Aprenda que você pode crescer intelectualmente vestindo apenas pijamas velhos.

Foto: http://observando.net/