Repórter Ping-Pong
O personagem dessa entrevista completa 40 anos de carreira no jornalismo este ano. Paulo Alceu foi cabo-man, ou pau de luz - na gíria jornalística - cinegrafista, assistente de reportagem, repórter, correspondente internacional e, na contemporaneidade, atendendo às demandas da época, é um profissional multimídia: apresentador e comentarista de televisão, radialista, colunista de jornal impresso.
Na metade de sua carreira, atuou na imprensa catarinense e seu rosto, sua voz, seu trabalho é conhecido pelos telespectadores das emissoras locais. Atualmente, apesar de não gostar de política, destaca-se no comentário político em diversas mídias da Ric Record.
Em 1980, quando os ingleses declararam guerra aos argentinos, por conta da disputa de terras das Ilhas Malvinas, Paulo Alceu era um correspondente internacional da TV Globo. Comovido pelas memórias da carreira, o filme A Dama de Ferro, que conta a vida da ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher, arrepiou a pele do jornalista.
Ele se diz jornalista por identidade, paixão, entusiasmo, romantismos do seu tempo. Sua versatilidade reforça os dizeres e ele deseja mais. Além da atividade multimídia, da longeva carreira e de apresentar o descontraído programa A Vida Segue, Paulo Alceu volta aos telejornais como âncora do Ric Notícias a partir de 8 de maio.
Nas linhas que se seguem, é o profissional que se apresenta. Uma reportagem não consegue reportar tudo, ela apenas daria pistas de sua história, um recorte interessante do que ele fez e faz. Mas nas linhas que se seguem, o personagem se descreve do seu jeito, a seu modo, com suas próprias palavras.
Em 1980, quando os ingleses declararam guerra aos argentinos, por conta da disputa de terras das Ilhas Malvinas, Paulo Alceu era um correspondente internacional da TV Globo. Comovido pelas memórias da carreira, o filme A Dama de Ferro, que conta a vida da ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher, arrepiou a pele do jornalista.
Ele se diz jornalista por identidade, paixão, entusiasmo, romantismos do seu tempo. Sua versatilidade reforça os dizeres e ele deseja mais. Além da atividade multimídia, da longeva carreira e de apresentar o descontraído programa A Vida Segue, Paulo Alceu volta aos telejornais como âncora do Ric Notícias a partir de 8 de maio.
Nas linhas que se seguem, é o profissional que se apresenta. Uma reportagem não consegue reportar tudo, ela apenas daria pistas de sua história, um recorte interessante do que ele fez e faz. Mas nas linhas que se seguem, o personagem se descreve do seu jeito, a seu modo, com suas próprias palavras.
Carreira
Repórter Ping-Pong - Sua relação com o jornalismo começou em 1973, quando você ingressou na TV Difusora de Porto Alegre. Já era um sonho ser jornalista ou você caiu de paraquedas? Quando começou esse sonho?
Paulo Alceu - Não foi bem de paraquedas, mas mais ou menos. Na verdade, meu sonho era ser médico, essa era a minha realidade naquela época. Eu queria ser médico e já sabia até a área que iria seguir que era a pediatria. Eu tentei a medicina durante três vezes. Sendo que na minha época o vestibular era de múltipla escolha, nos não fazíamos vestibular específico para uma carreia. Nós fazíamos vestibular e listávamos carreiras para pré-cursar.
No segundo vestibular que eu fiz, eu coloquei jornalismo e passei. Coloquei jornalismo por um detalhe, eu era do interior do Rio Grande do Sul, Lageado, e sair da rede de escola pública para enfrentar um vestibular sem passar pelos famosos cursinhos era muito complicado. Então fui a Porto Alegre para tentar fazer um curso para o vestibular já que no primeiro eu rodei na tentativa da medicina. E como meu pai era ligado a área da comunicação, ele fazia radionovela. Meu pai foi gerente de rádio e, até hoje, ele tem um complexo de comunicação em Lageado.
Meu pai tinha amigos da área e aí vem a famosa indicação do pai para o amigo. Como ele era muito rígido ele me disse: olha que não vou te sustentar em Porto Alegre ! Fazendo cursinho, você vai ter que trabalhar. E foi aí que eu entrei em televisão. Eu tive que trabalhar com jornalismo para pagar o cursinho na tentativa de chegar à medicina. E o que aconteceu é que no segundo vestibular eu acabo incluindo jornalismo e passei e comecei a fazer jornalismo.
Na pratica do jornalismo, eu acabei me encantando com a profissão, me apegando a ela e a medicina passou a ficar em plano secundário. Apesar de que eu tentei pela terceira vez medicina e pela terceira vez eu levei pau. Mas, também fui só para um descargo de consciência porque o segundo, esse sim, eu me preparei, não deu medicina, mas deu jornalismo e eu comecei em jornalismo como cabo man, segurando o cabo para o câmera movimentar a câmera dentro do estúdio, só que o cabo, na época, era do tamanho do meu braço, um pouco mais.
Foi ali que comecei a minha atividade profissional e foi a minha primeira revolta porque eu não gostei. Porque, na verdade, era para arrumar um emprego para o filho do Osvaldo Cato, então arrumaram um emprego só para eu estar empregado, mas eu não gostei da atividade. Por quê? Não pelo fato de segurar um cabo, nada disso. O importante era estar dentro da televisão, o fato era que eu queria sair para as ruas, não ficar em um ambiente fechado.
Eu queria circular, não ficar preso dentro do estúdio. Então eu fiz esse comentário para o diretor, amigo do meu pai, e ele me disse: – Já sei o que você vais fazer. Aí ele me levou para o jornalismo. Eu expressei para ele o que eu gostaria de fazer, mas eu não era jornalista, não sabia direito como a coisa funcionava. Eu estava só há uma semana lá segurando um cabo. Então eu fui ser assistente de cinegrafista e, a partir dali, começou a minha “carreira” jornalística, que significava, na linguagem popular, ser um pau de luz.
Ping - Na biografia disponível no seu site, sabe-se que você foi de pau de luz a chefe de reportagem. Como foi essa experiência de estar por trás das câmeras nos bastidores?
Paulo Alceu - Era uma atividade envolvente, tinha toda uma magia. Porque eu sou da época do filme, eu não sou da época do vídeo ou do HD, pelo contrário, eu estou vivendo tudo isso hoje, eu passei por todas essas fases, inclusive de você colocar álcool em uma latinha para esquentar o ambiente, para poder secar rápido o filme, depois colocar em uma copiadora e fazer a edição e colagem para ir para o telecine e poder rodar o filme e botar a reportagem no ar.
Então eu passei por todo esse processo, segurando a luz para o cinegrafista, logo depois eu fui cinegrafista e de cinegrafista eu passei a ser assistente de repórter que, na verdade, hoje chega a ser o produtor, só que o assistente de repórter é aquele que carregava tudo para o repórter.
Até o dia que eu cheguei a ser repórter, a diretora da época era a Vera Zílio e eu sempre fui muito bem assessorado, os meus colchões no jornalismo foram muitos bons. A Vera Zílio me colocou na reportagem, me mandando para Bueno Aires. Então eu comecei na reportagem fazendo uma matéria em Buenos Aires , porque o repórter que ia adoeceu, então disseram: - Manda o Paulo Alceu. Mas o Paulo Alceu tem experiência? Bem, ele já foi pau de luz, foi cinegrafista, assistente de repórter, um dia ele vai ter que ser repórter. Então vai ser agora.
Eu nunca esqueço que ela sentou na sala comigo e me fez a seguinte colocação: - Você já esteve no exterior? Bem era a minha primeira vez, eu conheço Riviera, ali em Livramento, do outro lado da rua, que é Uruguai. Então ela me disse: - Cuidado para a cidade não te engolir. E aquilo foi uma coisa que ficou batendo muito na minha cabeça, o que ela estaria dizendo com isso? Ou seja, cuidado para não te envolver em uma viagem como se tivesse passeando como um turista e cuidado também para não te emocionar vendo coisas que tu nunca viste e deixar em segundo plano teu trabalho de jornalista. Mas, deu para fazer tudo e deu para realizar um belo trabalhado lá, com tranquilidade e a partir dali eu segui minha carreira em frente.
Ping - No início de sua carreira, você transitou por várias funções que, na época, compunham o departamento de jornalismo. Porém, a que você mais se identificou foi a de repórter. Por que ser repórter e não político, advogado ou qualquer outra profissão mais rentável?
Paulo Alceu - Na verdade, naquela época, o foco não era o rentável, o foco não era querer ganhar dinheiro. O foco era a identificação com a profissão, tu tinhas uma identidade. Era algo que sintonizava com teu cotidiano, com as tuas necessidades, com as tuas vontades, com as tuas paixões. A profissão acabava sendo mais importante que a vida paralela, porque tu te entregavas para a profissão.
Na minha época, jornalismo era paixão, jornalismo era identidade, jornalismo era sacerdócio. Hoje não, hoje o foco é outro, é cursar um curso em uma universidade para, a partir dali, buscar um emprego que dê mais dinheiro e condições. Na época, a gente era meio tolinho para isso, a gente não ligava muito para salário. A notícia abastecia nosso cotidiano, a notícia era mais importante do que a preocupação de, no final do mês, ter dinheiro para colocar gasolina no fusquinha. Então, tinha todo outro envolvimento, embora não distanciado da remuneração. Na verdade, a gente não ganha mal, a gente deixava de ganhar bem.
Ping - O que você ainda não aprendeu a fazer na profissão? E o que você abomina e nunca vai fazer?
Paulo Alceu - Eu vou te falar uma coisa: na profissão, a gente aprende todos os dias, porque o jornalismo é muito estimulante e provocador. Então ele sempre te exige aprimoramento, exige leitura, pesquisa, conversas. Sempre costumo dizer que a universidade foi muito importante para mim, mas muito mais importante foi fazer a faculdade e em paralelo estar dentro de uma redação e conviver o dia-a-dia e participar do trabalho de uma redação.
Então hoje, por exemplo, no jornalismo, claro que tem coisas que tu gostas de fazer e outras que tu não gosta tanto. O que eu detestaria fazer, eu não sei dizer. Eu não gosto de polícia, que é um veio do jornalismo; eu não gosto de fazer esporte que é outro veio do jornalismo. Mas tanto um como outro servem para dar informações e você as transforma em uma notícia e apresenta ao leitor, ao telespectador e ao ouvinte.
Eu poderia dizer que eu abomino, abomino não, eu até respeito, mas eu não gosto é de trabalhar pela manhã. Se me disserem: a partir de agora tu vais fazer o SC no Ar! Ah, não vai dar certo! Deixa o Alexandre lá que ele está ótimo. Isso eu não consigo. Desde o início da minha profissão, sempre trabalhei de tarde. Existiram tentativas de me colocar de manhã, mas eu não consegui ser eu. E ficava me procurando. Quando eu me encontrava, era meio-dia. Isso é uma questão física até, de genética, o que for.
Na Capital
Ping - Você está há 20 anos em Florianópolis. Isso representa metade da sua carreira. Quais mistérios nossa Capital ainda esconde? Que problemas sociais ou políticos o jornalismo da nossa cidade não solucionou?
Paulo Alceu - Eu acho que o nosso jornalismo evoluiu muito de um tempo para cá. Ele ainda tem o ranço do jornalismo de uma cidade pequena, de um estado pequeno. Ele ainda tem algumas implicações diferenciadas de um jornalismo de uma grande metrópole que tem outro tipo de tratamento, porque hoje, aqui, por exemplo, principalmente no jornalismo político você passa a conviver com as pessoas que são notícia.
Ping - Isso é bom?
Paulo Alceu - Não! Eu lembro que Armando Nogueira sempre expressava isso: você pode conhecer, jamais se relacionar. Então não é bom, mas acontece, porque nós também temos vida social.
Aqui, o nosso jornalismo sofreu uma evolução, mas ele ainda tem que avançar muito mais. Ele tem ainda um caminho a percorrer. Ele ainda comete alguns deslizes, alguns erros, até por circunstâncias de espaço. Somos um estado pequeno, diferenciados dos vizinhos do Sul, que têm mais condições de pagar um salário mais adequado.
Aqui, já tem condições de pagar melhor. Não temos porque não exigir. Mas isso está relacionado ao mercado. É ele quem dita até que ponto ele pode evoluir, ou não. Agora, o nosso jornalismo, em si, tem que evoluir. Ele ainda não está num caminho em que a gente possa considerar ideal, mas ele está perseguindo e nós ainda temos o ranço do monopólio. O ranço de uma empresa poderosa, respeitável dentro do trabalho dela, mas isso caracteriza um monopólio e isso acaba criando um desajuste pro jornalismo. Não é bom! Tanto que na política, hoje, costumo dizer que a grande oposição da política hoje é a rede social. Não é o jornalismo!
Ping - Fale mais sobre isso.
Paulo Alceu - A rede social tem mais capacidade e competência de cobrar e de desafiar, de denunciar, do que o próprio jornalismo. O jornalismo tem alguns comprometimentos. O jornalismo que eu digo da grande empresa. A grande empresa tem um determinado comprometimento que por mais que ela não admita, ela tem. E a rede social não, ela é mais livre.
Você pode ir lá e dizer: olha, tem um buraco aqui na minha rua e cobrar. Por exemplo, a Ponta do Coral, que é uma discussão hoje aqui em Florianópolis. É um grande empreendimento aqui para a cidade? É. É um grande empreendimento, mas até que ponto ele pode sair, de repente, atropelando a legislação? Atropelando a lei? Claro que não pode! Porque voltaremos a ser àquela Florianópolis em que valia tudo.
Daí, vinham com aquele discurso: ah, empresário traz emprego. Mas traz emprego a que custo? Tem que ver isso. O que foi que a Ponta do Coral fez? Entrou na rede social. Ela está usando Twitter, Facebook, e se manifestando ali pra combater o contraditório. A rede social, hoje, é a grande oposição dos políticos, porque os políticos estão tudo se atrelando atrás de cargo e atrás de dinheiro. Há oito anos eu vi o deputado Ponticelli, hoje presidente da Assembleia, lascando pau no ex-governador Luiz Henrique e no seu vice, Pinho Moreira. Semana passada, eu o vi abraçado aos dois, no lançamento da BMW.
Não existe mais ideologia! Não existe mais vergonha na cara. E a rede social acaba sendo mais importante no processo, embora os jornais queiram ser tão importantes quanto, mas eles estão perdendo. Eles têm que começar a se rever.
Comentarista Político
Ping - Seu primeiro contato com a reportagem política aconteceu quando você passou pela TV Gaúcha. Foi amor a primeira vista ou você foi pegando gosto pelo jornalismo político depois?
Paulo Alceu - Eu não gosto de política!
Eu faço como profissional, não tenho uma identidade com a política, eu até tentei mais nunca consegui. A política foge muitas vezes da informação e ela fica muito restrita ao universo político. Eu sempre contestava muito o meu trabalho, pois eu achava que eu não estava dando informação para as pessoas eu estava, na verdade, dando informação para políticos. Eu sempre me questionava nisso, me criticava nisso. Eu achava muitas vezes que a minha informação era prejudicada porque era recadinho de político para político, e isto faz parte do universo político, é importante também, está inserido no contexto. Mas isto não é jornalismo, eu posso estar sendo até muito crítico, mas, eu ficava em dúvida até que ponto eu estou exercendo jornalismo ou estou exercendo uma função que eu não consigo identificar.
Então quando eu comecei a fazer política, lá no Rio Grande do Sul, na TV Gaúcha, o diretor era o Antônio Brito, que até veio a ser governador do estado. O Antônio Brito que anunciou a morte de Tancredo Neves e que veio a ser meu colega na TV Globo. Quando eu estava na TV Gaúcha ele era diretor, eu saí da TV Gaúcha brigado com ele, porque eu não queria mais fazer política e ele insistia que eu tinha que fazer política. Eu não gostava, achava horrível, achava que aquilo não tinha vida, era só blá blá blá e não saia daquilo. Foi quando eu fui embora para a TV Globo e comecei a fazer reportagem, e com aquilo eu me encantava, porque cada dia era um assunto diferente, um trabalho diferente, estimulava sua criatividade, e política não, é só político falou isso, político falou aquilo, muito mi mi mi.
A não ser quando a política entrou no campo investigativo, aí a gente começou a poder fazer a política como fiscalização, denúncia, crítica e cobrança. Só que tudo tem uma limitação, quando você coloca isso em pauta e começa a criticar muito, eles começam a ter reações. Eu tive problemas, problemas em um grande veículo, porque o governo se sentiu ofendido pelas minhas cobranças e eu acabei sendo prejudicado. Então tem caça às bruxas. A política tem um limite até onde você pode denunciar e chega uma hora que ela para no meio do caminho.
Existem políticos aí que se transformaram em Teflon, nada cola neles, e você fica trabalhando e mostrando, trabalhando e argumentando e as coisas não andam. E isto criava uma certa decepção, além de você não praticar o jornalismo na essência é a ditadura econômica. Não é a ditadura política ou a militar que tivemos aí e tudo. A pior ditadura é a econômica e é a que existe até hoje, ela é quem dita a regra, ela que determina, “ah mais veja bem o cara é anunciante, o cara é isso, o cara é aquilo”, faz parte do processo, mas eu acho que a gente tem que mostrar a cara.
Aquele cara nunca vai falar mal do fulano porque eles têm uma relação comercial, não sei o quê. É uma hipocrisia isto, tem jogo de interesse em tudo. É uma coisa na política que me irrita, mas há espaço de você dinamizar o trabalho e fazer algo diferente, criativo, com visão e seriedade. Mas você sempre vai encontrar os famosos obstáculos dos interesses.
Ping - Dizem que política e religião não se discute. Qual é a parte mais atraente de se relacionar com uma área do jornalismo tão polêmica?
Paulo Alceu - O jornalismo. O jornalismo que é o atraente! É exercer o jornalismo, buscar informações, capitar uma informação, ver qual informação é importante, perceber que algumas informações são, na verdade, intrigas pessoais, de recadinho de partido para partido para poder se estabelecer dentro do contexto. É legal você perceber isso, conseguir identificar isso que é estimulante. Ou conseguir uma bela de uma entrevista porque essa pessoa está dando informações que vão enriquecer quem está assistindo.
Ping - E a morte da Margaret Thatcher não lembrou você...
Paulo Alceu - Aaaaaah siiiiiiim, me lembrou da cobertura que eu fiz das Malvinas na época. Eu vi um filme da Margaret Thatcher. E até me arrepiei todo quando eu vi a cena em que o secretário do Estado Norte Americano, foi a Londres conversar com ela e pedir para ela não atacar as Malvinas, não declarar guerra contra a Argentina, os EUA ali estavam tentando resolver o impasse. E eu estava na Argentina trabalhando e esperando a resposta da Margaret Thatcher para ver se ela, de repente, podia ceder para os EUA.
E a tendência era acreditar que os EUA, um país mais forte, fizesse com que a Thatcher não mandasse atacar, e todos nós erramos. No filme, mostra bem quando ela levanta e nem olha para o secretário do estado, ela vira para o comandante de armas dela e diz – Declarada a guerra à Argentina! Vira as costas e sai. E graças a isso, ela derrubou uma ditadura de anos na Argentina, ditadura sangrenta e covarde. Na época, era o general Galtieri que comandava, já tinha passado o Fidela, Viola e aquelas turmas todas lá. Foi uma ditadura terrível.
Aquela cena me emocionou muito quando eu vi o filme. Eu vivi isto, eu fui parte desta história, porque eu estava na Argentina, fazendo a reportagem e esperando aquela resposta. Será que a Inglaterra vai vir mesmo e ... ela veio. E ela tinha ordem de bombardear o Mar del Plata e Buenos Aires, eles não brincaram não, estavam pronto para a guerra.
Tem até um foto em uma revista, Veja ou Istoé, que mostra ela com os “marineros” preparadíssimos para a guerra e a garotada argentina não, eram todos recrutas, tudo uns menininhos, morrendo de frio e fome, era um negócio maldoso o que fizeram. Bem ditadura mesmo. Eles levantaram a pátria, porque argentino é muito patriota eles falavam “Las Malvinas son de la Argentina ” e não sei o quê. Poxa, pelo amor de Deus. Olha o que fizeram.
A Vida Segue
Ping - Na análise do discurso, aprendemos a ler o não-dito. O que há nas entrelinhas do seu bordão, A vida segue?
Paulo Alceu - É simples. Eu acho que nunca vi um bordão tão objetivo: a vida segue! Não tem nada pro trás. Tem pela frente, porque a vida segue.
Ping - No programa, passam figurões da política local. E o jornalismo tem de ser revelador. Você procura apertar os teus entrevistados para que as entrevistas sejam reveladoras?
Paulo Alceu - Não, não. Esse programa é diferente. É diferente até de outros que eu já fiz. Programas de entrevista. É um programa muito mais descontraído, até pelo horário. Ele entra às 22h da noite e aos domingos. Então, acho que não é o momento de reportagens, ou de entrevistas mais conflitantes nem entrevistas que criam um certo nível e exigência. É uma coisa mais descontraída.
O vice-prefeito da cidade que Araquari, cidade que receberá a fábrica da BMW, veio ao programa e foi um bate-papo para saber que a cidade é a Capital do Maracujá, que tem 25 mil habitantes, saber que é uma cidade que está mudando as tradições e os costumes, então é um outro tipo de procedimento, um outro tipo de desenvolver o jornalismo. Mais para caracterizar a curiosidade.
Já entrevistei uma barista, chefe de cozinha e também já entrevistei políticos e percebi que ali, não cola.
Ping - O ex-prefeito de Florianópolis, Dário Berger, esteve lá uma vez, não é?
Paulo Alceu - O Dário Berger esteve porque tinha o gancho do final do mandato dele. Ele estava meio agressivo. Ele queria expor o ponto de vista dele. Ele foi até deselegante em determinados momentos na entrevista. Não é o momento para esse tipo de assunto. A Vida segue é um programa onde a vida segue.
Ping - Paulo, tens a concorrência do Fantástico que é para um público de massas...
Paulo Alceu - Ah, o Fantástico sempre foi um problema na minha vida. Eu tinha um programa aos domingos na TV Manchete e competia com o Fantástico. Eu já tive um outro programa, nesse horário também, e competia com o Fantástico e, agora, A Vida Segue.
Ping - Tem ainda o Pânico na Band, que é onde está o público jovem...
Paulo Alceu- Que programa idiota. Deus me livre! Eu assisti um dia. Eu nem vi o meu. Eu pensei: pó, vou ver o Pânico na Band. Eu já vi o pânico em outras épocas, que eu achava interessante. Ele era um CQC um pouquinho mais debochado. Agora, está uma idiotice. Mas tudo bem, tem gosto para tudo! Acho que os jovens têm uma cabeça um pouco melhor do que aquilo ali.
Ping - E tem o Silvio Santos no SBT que é sucesso entre as donas de casa.
Paulo Alceu - O Silvio Santos tem outro público! O Silvio não é um público para a Vida Segue. O público de A Vida Segue, é o do Fantástico. É aquele público que quer ver alguma coisa diferente. Hoje, por exemplo, e em vários lugares que eu fui, as pessoas me falaram do menino que faz cerveja. E aquilo me chamou atenção. Po, me disseram que não dá Ibope. Que não tem audiência.
Tem gente buscando um outro tipo de programa. E é gente jovem, porque não estavam vendo o Pânico. Porque virou pânico mesmo. Acho o seguinte: tem que ousar em televisão e criar em televisão e não transformar. Eles estão ousando mesmo. O meu gosto, também não é o meu programa. Já o Fantástico, é aquela história, você vê alguma coisa que gosta, outra você já sai. Hoje, é democrática. Já tem televisão que nem precisa ter controle, você fala e ela muda.
Ping - Um passarinho verde me contou que você vai transmitir um jornal a partir das sete horas, na bancada da Ric. É isso mesmo?
Paulo Alceu - Teu passarinho verde falou errado. Não é às sete horas, é quinze para as oito.
Ping - Fale sobre o programa.
Paulo Alceu - Fui convidado a voltar para a bancada. Eu sempre fiz bancada. Vou apresentar o Ric Notícias. Será a partir de maio, com a mudança da programação da Ric Record. Vou apresentar o Ric Notícias junto com a Rafaela Arns. É um jornal que eu já participo, fazendo comentários e agora, vou fazer apresentação com comentário, tentando fazer um jornal um pouco mais falado e descontraído. E não aquele jornal de cabeça-matéria, cabeça-matéria, cabeça-matéria.
O telespectador não é mais da década de 90. Ele está no terceiro milênio. Temos que respeita-lo. O telespectador não recebe mais, ele quer participar. E a participação que ele tem é percebendo que a pessoa que está do outro lado, está conversando com ele e não impondo pra ele uma informação. É isso que vamos tentar fazer no Ric Notícias.
Ping - E a Vida Segue, seguirá?
Paulo Alceu- Sim. Ela vai continuar. A Vida Segue continua!
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