Duas conversas me chamaram
atenção nesta semana. Em ambas eu estava dentro de um ônibus, em filas
quilométricas. Na primeira, voltava do trabalho. Era por volta das 17h20min e o
trânsito da Beira-Mar Norte estava caótico, como de costume. Sentados em um
banco atrás de mim, um homem e uma mulher discutiam fervorosamente a qualidade
do sistema de transporte público.
A conversa durou quarenta
minutos, o mesmo tempo que eu levei para chegar ao Terminal de Integração do
Centro. Entre as reclamações estavam o preço das passagens, falta de horários,
qualidade dos ônibus e do atendimento das empresas. Chegamos ao Ticen e cada um
foi para o seu canto, entraram em outros ônibus e seguiram em direção a suas
casas, faculdades ou empresas. Às 18h15min, eu estava novamente dentro do
ônibus, indo para a Palhoça.
O trânsito estava mais do que
caótico. Parados na fila da BR – 101, eu tinha uma discussão calorosa sobre o
conformismo. Essas duas conversas se encontram em uma encruzilhada: o que
fazemos além de reclamar? Eu não sei. Todo mundo sabe que Florianópolis tem uma
das passagens de ônibus mais caras do Brasil, que o trânsito piora ano após ano
e que a qualidade do transporte público vai de mal a pior.
Todo mundo vê as filas e
desperdiça horas e horas nelas. Todo mundo sabe que é preciso uma solução para
desafogar o trânsito da ponte, do centro e da Beira-Mar, e que mais um elevado
não vai ajudar em nada. Mas
o que fazemos além de reclamar e falar mal de Deus e o mundo? Lembro quando
ocorreu, em 2010, um dos movimentos passe livre aqui na cidade.
Estudantes foram às ruas
reivindicar que a passagem não aumentasse para R$2,95. Os jornalistas Fernando
Evangelista e Juliana Kroeger produziram o documentário Impasse, e
mostraram os bastidores das manifestações, além de entrevistas com a população,
empresários, representantes do governo. O documentário da dupla é o que temos
de mais concreto para mostrar as mobilizações sociais na Ilha de hoje.
Depois disso, algumas manifestações
como o Ocupa CIC e o Ocupa Udesc tiveram pouca duração e repercussão fora dos
círculos estudantis. Pergunto-me: somos nós que estamos desinformados a ponto
de não saber ou não entender o que esses movimentos significam? São eles que
perdem o gás por ver quer a pouca repercussão não vai gerar grandes mudanças? É
errado desistir de ações políticas quando se vê uma estagnação? E por que
acontece essa estagnação? Por que não se consegue grandes mudanças?
Não há dúvidas de que a mídia
demoniza os movimentos sociais, mas também seus mobilizadores deixam a desejar
no quesito persistência. Eu mesma sou uma que tentou criar um Diretório
Acadêmico no curso de Jornalismo da Unisul, sem êxito. Como mobilizadora,
deveria persistir e persistir e persistir e persistir com meus colegas até que
o Diretório fosse oficializado. Mas esbarramos nas burocracias, TCC’s, falta de
tempo, estágios. Perdemos o fôlego.
É complicado. Não sei se somos
conformados demais, burgueses demais, elitistas demais. O fato é que nos
silenciamos e deixamos as coisas erradas acontecerem como se fossem aceitáveis.
Nossa geração deveria ter a faca e o queijo na mão para mudar o mundo e apostar
mais em nossos ideais. Mas nossa revolta e inquietação se acalmam. Um bom
emprego, um salário suficiente, uma felicidade, passageira, faz com que todo o
resto fique distante demais.
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