quarta-feira, 15 de maio de 2013

Elitização silenciosa

Thaís Teixeira

Duas conversas me chamaram atenção nesta semana. Em ambas eu estava dentro de um ônibus, em filas quilométricas. Na primeira, voltava do trabalho. Era por volta das 17h20min e o trânsito da Beira-Mar Norte estava caótico, como de costume. Sentados em um banco atrás de mim, um homem e uma mulher discutiam fervorosamente a qualidade do sistema de transporte público.

A conversa durou quarenta minutos, o mesmo tempo que eu levei para chegar ao Terminal de Integração do Centro. Entre as reclamações estavam o preço das passagens, falta de horários, qualidade dos ônibus e do atendimento das empresas. Chegamos ao Ticen e cada um foi para o seu canto, entraram em outros ônibus e seguiram em direção a suas casas, faculdades ou empresas. Às 18h15min, eu estava novamente dentro do ônibus, indo para a Palhoça.

O trânsito estava mais do que caótico. Parados na fila da BR – 101, eu tinha uma discussão calorosa sobre o conformismo. Essas duas conversas se encontram em uma encruzilhada: o que fazemos além de reclamar? Eu não sei. Todo mundo sabe que Florianópolis tem uma das passagens de ônibus mais caras do Brasil, que o trânsito piora ano após ano e que a qualidade do transporte público vai de mal a pior.

Todo mundo vê as filas e desperdiça horas e horas nelas. Todo mundo sabe que é preciso uma solução para desafogar o trânsito da ponte, do centro e da Beira-Mar, e que mais um elevado não vai ajudar em nada. Mas o que fazemos além de reclamar e falar mal de Deus e o mundo? Lembro quando ocorreu, em 2010, um dos movimentos passe livre aqui na cidade. 

Estudantes foram às ruas reivindicar que a passagem não aumentasse para R$2,95. Os jornalistas Fernando Evangelista e Juliana Kroeger produziram o documentário Impasse, e mostraram os bastidores das manifestações, além de entrevistas com a população, empresários, representantes do governo. O documentário da dupla é o que temos de mais concreto para mostrar as mobilizações sociais na Ilha de hoje. 

Depois disso, algumas manifestações como o Ocupa CIC e o Ocupa Udesc tiveram pouca duração e repercussão fora dos círculos estudantis. Pergunto-me: somos nós que estamos desinformados a ponto de não saber ou não entender o que esses movimentos significam? São eles que perdem o gás por ver quer a pouca repercussão não vai gerar grandes mudanças? É errado desistir de ações políticas quando se vê uma estagnação? E por que acontece essa estagnação? Por que não se consegue grandes mudanças?

Não há dúvidas de que a mídia demoniza os movimentos sociais, mas também seus mobilizadores deixam a desejar no quesito persistência. Eu mesma sou uma que tentou criar um Diretório Acadêmico no curso de Jornalismo da Unisul, sem êxito. Como mobilizadora, deveria persistir e persistir e persistir e persistir com meus colegas até que o Diretório fosse oficializado. Mas esbarramos nas burocracias, TCC’s, falta de tempo, estágios. Perdemos o fôlego.

É complicado. Não sei se somos conformados demais, burgueses demais, elitistas demais. O fato é que nos silenciamos e deixamos as coisas erradas acontecerem como se fossem aceitáveis. Nossa geração deveria ter a faca e o queijo na mão para mudar o mundo e apostar mais em nossos ideais. Mas nossa revolta e inquietação se acalmam. Um bom emprego, um salário suficiente, uma felicidade, passageira, faz com que todo o resto fique distante demais.

Nenhum comentário: