sexta-feira, 17 de maio de 2013

Audiência pública na Câmara de Florianópolis debate o combate a homofobia

Leonardo Contin

Nesta sexta-feira, 17 de maio, é celebrado o Dia Mundial de Combate a Homofobia. A origem da data remete ao ano 1990, quando a Assembleia Geral da Organização Mundial da Saúde declarou que “homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”, retirando o termo da Classificação Internacional de Doenças.

Audiência pública discutiu as dificuldades enfrentadas
pelo público
LGBT em Santa Catarina


Para discutir sobre a importância da data e a realidade enfrentada pelo público LGBT, ocorreu na última quinta-feira, 16 de maio, na Câmara de Vereadores de Florianópolis, uma audiência pública proposta pela Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Pública, que tem como presidente o vereador Tiago Silva (PDT).

Compareceram a audiência representantes de entidades ligadas ao movimento LGBT e organizações governamentais que tratam da defesa de seus direitos. Tiago Silva lamentou a pequena quantidade de vereadores presentes no ato (apenas os vereadores Lino Peres, do PT, e Ed, do PSB, marcaram presença) e relatou as dificuldades que os LGBT's têm para realizar suas denúncias de agressão junto aos órgãos públicos.

“Não há uma porta de entrada para denúncias de quem foi agredido. Os gays pagam seus impostos da mesma forma como um heterossexual, mas não conseguem ter seus direitos garantidos da mesma maneira.”

Ele questionou também o fato de o projeto da união civil entre pessoas do mesmo sexo (de autoria da ex-deputada Marta Suplicy, do PT de São Paulo) estar parado desde 1995 na Câmara dos Deputados.

"Enquanto houver parlamentares como Marco Feliciano no Congresso, este tipo de projeto não vai avançar. Feliciano mostra uma face racista, machista e homofóbica do Brasil.”

Tiago disse reconhecer o trabalho das igrejas no Brasil, mas gostaria de ter o mesmo tipo de reconhecimento e respeito dos religiosos. Aproveitando o ensejo, falou da importância da criação da Coordenadoria e Conselho da Diversidade na Prefeitura de Florianópolis (ainda inexistente), para que sejam pensadas políticas públicas de eficácia a este público.

Representando a União Brasileira de Mulheres (UBM), a assistente social Simone Lolatto destacou que os avanços até hoje conquistados pelos LGBT's e pelas mulheres se devem, em grande parte, ao enfrentamento destes grupos, radicalizando, indo para as ruas, conselhos, participando efetivamente da luta. Lolatto constatou, contudo, que é preciso avançar muito mais, pois os membros do movimento LGBT continuam a sofrer violências todos os dias.

“Não é tolerância que se pede, mas respeito. É preciso uma equipe técnica qualificada, consistente para implementar um plano de políticas públicas para o público LGBT.”

Kelly Vieira, que representava a Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade (ADEH), disse sentir que os órgãos de acolhimento de vítimas de violências não recebem a todos da mesma forma. “As instituições deveriam ser a favor de todos os seres humanos.”

Carla Ayres, da Associação Brasileira de Lésbicas, lembrou que a homofobia não se constitui apenas na violência física. “É, sim, qualquer tipo de discriminação, seja ela psicológica, física, com palavras ou qualquer forma de preconceito.” E denunciou que no Brasil, em 2011, foram registrados 6.809 casos de violações contra os LGBT's.

“Deste número, quase 80% foi provocado por vizinhos ou familiares dos violentados. Pelo menos 49% dessas agressões foram cometidas contra travestis, o público mais vulnerável.” Carla apresentou um dado ainda mais negativo, o registro de 278 mortos, também em 2011, por violências ligadas à homofobia.

Segundo Tiago Silva, depois do advento da Lei Maria da Penha, foi registrado um aumento considerável do número de denúncias de mulheres agredidas. E que, da mesma forma, sendo criminalizada a homofobia e tendo organizações capacitadas para o recebimento das denúncias, o número de casos de agressões ao público LGBT também chegaria com mais facilidade ao poder público – o que poderia inibir a ação dos agressores.

A luta, de fato, não é simples. Mas só com a organização e participação popular os direitos – e principalmente o respeito – serão conquistados.

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