quinta-feira, 11 de abril de 2013

Não se reprima!

Cristina Souza

Ilustração de Gessony Pawlick Jr.
Eu poderia fazer esse post novamente sobre Feliciano e as novas besteiras que ele tem disparado por aí. Poderia falar do fato dele ter um pensamento sexista, além das besteiras sobre Deus ter matado John Lennon, etc. Mas... ZzZzZzZzZZzZzZzZ. Como sei que as besteiras ainda vão longe, fica para outro dia.

Falando em pensamento sexista, algo me chamou muito a atenção dia desses. Um dos motivos por que adoro ter amigos homens é que nossas conversas me trazem ideias de textos. Outro dia, estávamos eu e meus amigos jogando papo pela faculdade, quando passou uma guria. Um deles exclamou: “Essa aí ó, mó fácil. Comi esses dias”. Eu, é claro, logo perguntei pra ele se ela era fácil pelo simples fato de ter feito sexo com ele. Sim, disse ele, afinal mulher séria tem que se fazer de difícil. As vadias não são para namorar. Só revirei meus olhos. Tãããããão século XIX! 

Afinal, por que os homens ainda insistem nesse pensamento? A mulher que faz sexo na primeira noite é vadia, é fácil, não serve para namorar. Serve para o sexo e fim. Mulher para namorar é aquela difícil, que não “dá” na primeira noite, essas sim são de valor. Qual valor? Valor para quê mesmo? E o mais engraçado de tudo, é que quando eu pergunto se eles não gostam igualmente de sexo, sexo por sexo, eles me respondem com um sorriso sarcástico: claro que sim. Mas, homens podem, não se tornam vadios. Na minha opinião, os que pensam assim tornam-se vazios.

Homens e mulheres sentem a mesma vontade de fazer sexo. Então por que para homens é certo e natural e para as mulheres não? E pior: por que as mulheres aceitam – e até julgam as outras – como se isso fosse natural? Não, não é natural. E ao alimentar esse pensamento, você mulher, está contribuindo para que essa ideia machista ainda faça a cabeça – e a cama – da nossa sociedade.

Veja bem: não estou aqui falando que você tem que sair fazendo sexo à toa, se não é isso que você quer. Os valores são de cada um, mas isso tem que ser decidido por você e não pelos outros. Só cabe a você, mulher, decidir sobre a sua vida sexual. Sem ter que reprimir suas vontades, que são fisiológicas inclusive, porque os outros não acham certo. Se você não acha, tudo bem, mas que isso parta de você.

E meus caros amigos do sexo masculino, se para vocês ser vadia é ter liberdade para decidir sobre o próprio corpo, sobre suas vontades, sem medo de ser julgada ou taxada, sou uma vadia, pois faço aquilo que EU acho certo. Antes vadia (detesto essa palavra pejorativa, aliás), que vazia. E tenho dito.

“Então vamos combinar um basta definitivo àquela conversa de que homens são de Marte, onde a sacanagem rola solta, e mulheres são de Vênus, onde é preciso tomar um vinho antes. Ninguém é de ninguém. Como o centenário Nelson Rodrigues vaticinou, “se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém”. Especialmente no caso de “uns” e “outros” serem mulher. Aí o buraco é mais embaixo. Além de mudar de calçada para evitar o tal cumprimento, ainda vai ouvir algum impropério lá do outro lado da rua: “maçaneta”, “piranha” e “periguete” estiveram nas hashtags machistas das última décadas.”
(Revista TPM, 05/09/2012)

Ilustração: o inconfundivel traço de Gessony Pawlick Jr.

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