Cristina Souza
Ilustração de Gessony Pawlick Jr. |
Eu
poderia fazer esse post novamente sobre Feliciano e as novas besteiras que ele
tem disparado por aí. Poderia falar do fato dele ter um pensamento sexista,
além das besteiras sobre Deus ter matado John Lennon, etc. Mas... ZzZzZzZzZZzZzZzZ. Como sei que as besteiras ainda vão longe,
fica para outro dia.
Falando
em pensamento sexista, algo me chamou muito a atenção dia desses. Um dos
motivos por que adoro ter amigos homens é que nossas conversas me trazem ideias
de textos. Outro dia, estávamos eu e meus amigos jogando papo pela faculdade,
quando passou uma guria. Um deles exclamou: “Essa aí ó, mó fácil. Comi esses
dias”. Eu, é claro, logo perguntei pra ele se ela era fácil pelo simples fato
de ter feito sexo com ele. Sim, disse ele, afinal mulher séria tem que se fazer
de difícil. As vadias não são para namorar. Só revirei meus olhos. Tãããããão
século XIX!
Afinal,
por que os homens ainda insistem nesse pensamento? A mulher que faz sexo na
primeira noite é vadia, é fácil, não serve para namorar. Serve para o sexo e
fim. Mulher para namorar é aquela difícil, que não “dá” na primeira noite,
essas sim são de valor. Qual valor? Valor para quê mesmo? E o mais engraçado de
tudo, é que quando eu pergunto se eles não gostam igualmente de sexo, sexo por
sexo, eles me respondem com um sorriso sarcástico: claro que sim. Mas, homens
podem, não se tornam vadios. Na minha opinião, os que pensam assim
tornam-se vazios.
Homens
e mulheres sentem a mesma vontade de fazer sexo. Então por que para homens é
certo e natural e para as mulheres não? E pior: por que as mulheres aceitam – e
até julgam as outras – como se isso fosse natural? Não, não é natural. E ao
alimentar esse pensamento, você mulher, está contribuindo para que essa ideia
machista ainda faça a cabeça – e a cama – da nossa sociedade.
Veja
bem: não estou aqui falando que você tem que sair fazendo sexo à toa, se não é
isso que você quer. Os valores são de cada um, mas isso tem que ser decidido
por você e não pelos outros. Só cabe a você, mulher, decidir sobre a sua vida
sexual. Sem ter que reprimir suas vontades, que são fisiológicas inclusive,
porque os outros não acham certo. Se você não acha, tudo bem, mas que isso
parta de você.
E
meus caros amigos do sexo masculino, se para vocês ser vadia é ter liberdade
para decidir sobre o próprio corpo, sobre suas vontades, sem medo de ser
julgada ou taxada, sou uma vadia, pois faço aquilo que EU acho certo. Antes
vadia (detesto essa palavra pejorativa, aliás), que vazia. E tenho dito.
“Então
vamos combinar um basta definitivo àquela conversa de que homens são de Marte,
onde a sacanagem rola solta, e mulheres são de Vênus, onde é preciso tomar um
vinho antes. Ninguém é de ninguém. Como o centenário Nelson Rodrigues
vaticinou, “se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém
cumprimentaria ninguém”. Especialmente no caso de “uns” e “outros” serem
mulher. Aí o buraco é mais embaixo. Além de mudar de calçada para evitar o tal
cumprimento, ainda vai ouvir algum impropério lá do outro lado da rua:
“maçaneta”, “piranha” e “periguete” estiveram nas hashtags machistas das última
décadas.”
(Revista
TPM, 05/09/2012)
Ilustração: o inconfundivel traço de Gessony Pawlick Jr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário