sexta-feira, 12 de abril de 2013

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Sexta-feira, 12 de abril de 2013
Caro companheiro,

Começo do começo. Assim: simples, direto, quebrando com essa mania que quase peguei de você de encaixar as coisas em temas e assuntos fechados. Não preciso de título, subtítulo, lead, (#insira aqui o elemento pré-textual que mais lhe apetecer) para delimitar o que pretendo tratar, aliás, isso me parece coisa de quem não sabe com firmeza o que quer dizer. Qual o sentido de revelar logo de cara do que se trata? É como contar o final do filme antes mesmo de assisti-lo... Perde a graça! E não venha confundir minha conversa com nariz de cera, enrolação, ou com qualquer uma dessas coisas que você está acostumado a ler, criticar, revisar, editar e (fingir) não publicar.
 

Queria que você entendesse esse meu silêncio, às vezes longo, e que quase sempre só é rompido pelo ruído dos meus dedos no teclado ao publicar em algum blog de poucas visualizações no calar da noite. Você, ao menos, faz alguma ideia de quem está falando? Duvido muito... Afinal, às vezes nem sei se sou eu quem possui a minha própria voz enquanto falo. Sou sempre lido por alguém, ou citado em algum lugar.

Talvez, nesse momento, você não leve essa carta a sério, pode até estar pensando que entrei em alguma crise de identidade, ou idade, aconselho não chamar de crise, já que não é nem um pouco passageiro. Chame de desilusão, amadurecimento, troca de pele, renovação, decepção... Cansei de esperar você!

Estou farto das suas citações baratas e tendenciosas, das suas palavras banalizadas, e dessa sua escrita que parece sempre sair de um (não tão grande) dicionário que delimita o que pode ou não pode ser dito. Cansei dessa sua imagem de fachada (fechada), que sempre padece às pressões do que os grandes querem de você, dessa sua personalidade fraca, limitada, que segue a hegemonia e ponto final. E ainda se diz imparcial... Seus textos são sempre arranjados de citações, sempre imitadas das 'vozes oficiais', nunca originais.

Não parece sequer lembrar da nossa história juntos, do início, quando éramos jovens e queríamos sacudir os governos, criar realidades, mudar as coisas e quem sabe o mundo! E realmente fizemos isso tudo, antes do café da manhã...

Hoje você se esconde atrás de pirâmides que se inverteram pra facilitar sua rotina cada vez mais corrida. O que aconteceu com você? O que aconteceu conosco? Comigo? Perdi minha identidade, minha força, minha vida pra você. Cada vez que você escreve uma manchete e ignora tantos contextos e tantos porquês mata um pouquinho de mim. Adeus jornalismo! Espero, de verdade, que um dia possamos caminhar juntos novamente, mas, mesmo sofrendo, hoje, te deixo seguir o caminho que você escolheu trilhar. Vou passar uns tempos na casa da poesia, afinal, ela pelo menos me aceita como sou.   
Com carinho, Autor
(Aos cuidados de Ana Maria Ghizzo)

 “Vai pra outro lugar! Ninguém é obrigado a ser jornalista se não consegue ser jornalista de verdade...” 
Ruy Fernando Barbosa

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