terça-feira, 2 de abril de 2013

Má codificação da mensagem

Interpretação errônea do discurso da Presidente Dilma Rousseff traz pressão de baixa sobre o futuro do mercado de juros

Bianca Queda


Interpretar um discurso falado pode ser produtivo quando se pensa nas experimentações da língua. Porém, destacar ou discutir, com a mais próxima exatidão, as palavras que se ouviu ou viu, mesmo que dentro de um contexto aceitável, pode não ser tão simples assim.
As percepções de cada indivíduo se dão de forma distinta, e é justamente a partir destas diferentes percepções que começam a existir as divergências na interpretação. Dentro de um país democrático, como o Brasil, a diferença de opinião faz parte do processo de discussões, não somente por causa da liberdade de expressão, mas também pela pluralidade política brasileira. Contudo, há uma diferença entre a divergência e a má interpretação.
Antes de se obter uma opinião sobre o assunto, é preciso analisar com aptidão o mérito em questão, sem agregar conceitos pré formados ao que foi exposto. Uma tarefa árdua para a maioria dos indivíduos. No campo da análise do discurso, esses conceitos que pré determinamos em cada situação vêm de nossa memória discursiva, bagagens que adquirimos ao longo de nossas vidas, e que nos trazem sentidos e significações nos discursos.
Por isso é tão difícil falar qualquer coisa, e não somente quando se fala para muitas pessoas. Um simples diálogo entre dois amigos pode causar entropia e má codificação da mensagem. Porém, quando se tem uma maior quantidade de receptores, a probabilidade de várias acepções derivarem do sentido original é muito maior. Ainda mais quando o emissor da mensagem trata-se de uma figura pública. Neste caso, a pluralidade de interpretações a partir de discursos pré existentes é significativamente maior.
O governo brasileiro, que tem como ícone a Presidente da República, quando toma suas decisões políticas, concebe um cenário quantitativo de impactos sociais e que influenciam diretamente a opinião pública. As medidas adotadas são noticiadas pela mídia para que, a partir delas, cada cidadão brasileiro possa construir seu próprio sentido. Logo, cada palavra dita deve ser estudada com cautela para que o mínimo de entropia exista. Mas, nem sempre isso é possível.
A presidente Dilma Rousseff, após dar uma declaração na coletiva de imprensa da 5ª Cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na última quarta-feira, 27 de março, teve sua fala criticada pelos economistas brasileiros, que reagiram com críticas às declarações da presidente. Em seu discurso, Dilma apontou que não acredita em políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento econômico.
Calma Dilma. Não precisa ficar chateada.
Equipada com seus tripulantes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao seu lado e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na retaguarda, a presidente afirmou: "Esse receituário que quer matar o doente, em vez de curar a doença é complicado. Vou acabar com o crescimento no País? Isso está datado. Isso eu acho que é uma política superada." Este discurso de Dilma, aos olhos dos economistas, trouxe pressão de baixa para o mercado futuro de juros.
Segundo nota divulgada pelo Blog do Planalto, as declarações da Presidente foram mal interpretadas, “Foi uma manipulação inadmissível de minha fala. O combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do meu governo”, disse a presidente alegando também que os agentes do mercado financeiro interpretaram erroneamente seus comentários como expressão de leniência em relação à inflação.
Há várias maneiras de se dizer algo. Carlos Drummond em seu escrito, Reverência ao destino, disse que falar é completamente fácil quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. E a presidente, mesmo com todo seu discurso planejado e com todas as palavras arquitetadas, teve sua mensagem mal codificada perante o mercado financeiro.

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