Cristina Souza
Tenho um problema quando vou até
o centro de Florianópolis: eu nunca consigo fazer só o que eu tenho que fazer e
voltar para casa. Deixe-me explicar: o centro da cidade, principalmente depois
das seis horas da tarde, possui um ar cheio de mistérios que muito me encanta.
Enquanto as portas das lojas fecham e as pessoas correm freneticamente de volta
para suas casas, as luzes amarelas, do mesmo tom das cervejas que preenchem o copo, deixam tudo mais interessante.
Nessa terça-feira, eu tinha que dar
uma passada rápida no brechó. Era para ter sido rápida mesmo, só queria ver se
lá tinha alguma novidade. Depois que descobri os brechós, em especial os que
vendem melissa, objetos retrôs e afins, nunca mais os abandonei. Não encontrei
nada de “novo” na loja e segui em frente, mas entrei em uma rua que fugia da
rotina. Lá, descobri um turco que vendia Shawarma por cinco reais e porção de
fritas no mesmo preço! Claro que não resisti e jantei por ali mesmo, uma
Shawarma muito gostosa (principalmente para meus bolsos). Onde mais
se come bem por cinco reais, se não nos becos escondidos pelo centro da
cidade?
Na próxima tentativa de ir
embora, encontrei uma loja de bijuterias ainda aberta. O chinês, que estava na
porta, me convidou para entrar. Mais curiosa com seu sotaque carregado do que
com os produtos que oferecia, aceitei o convite. Comprei umas coisinhas (cinco
reais também, lindos anéis!) e fiquei ouvindo um pouco da sua vida. A loja era
nova e ainda havia pouco movimento, mas ele tinha fé que iria mudar logo. Não
pude conversar muito mais porque sua esposa estava esperando, tinha que ir
buscar os filhos. Agradeci e continuei caminhando, observando meu lindo anel
novo. Saldo total: dez reais, barriga cheia, anel no dedo e uma sensação boa na
cabeça.
Parei na praça XV de Novembro
para tomar um café. Lá, seu Zé, que estava ao meu lado, pediu um cigarro e
reclamou que o café estava amargo. Eu reclamei que estava doce, afinal, por que
raios as pessoas já vendem café com açúcar? Ele reclamou da aposentadoria que
era uma mixaria e eu da dificuldade de se manter sozinha sendo apenas uma estudante.
Ele reclamou da política, e eu do futebol. Depois ele do futebol e eu da
ignorância dos policiais. Seguimos reclamando mais um pouco, até que ele teve
que ir, afinal o transporte público de Florianópolis não estava nada bom.
Eram quase dez horas. Minha
tentativa de fazer as coisas de maneira rápida e ir dormir cedo havia ido por
água abaixo. Acendi mais um cigarro. Ainda no centro escrevi essa crônica. Não dava
reclamar das horas de sono que desperdicei. Ficar acordada e descobrir essas
histórias escondidas em cada canto no centro de cidade foi muito melhor.
Imagina o que ainda existe por lá ainda e ninguém presta atenção?
Foto: Cristina Souza
Um comentário:
Bela Crônica, compartilho do mesmo sentimento, quando visitei a Ilha da Magia em setembro passado, adorei o efeito do centro da cidade após as 18 horas, algo que me encantou e me marcou...
Parabéns pelo texto
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