terça-feira, 9 de abril de 2013

12 horas em Miami

Um recorte latino inserido no território americano torna a cidade culturalmente híbrida

Bianca Queda

Certo como o nascer do sol ao leste, as manhã equatoriais de Miami são sempre agradáveis, com temperatura amena e vento leve. Ainda mais para a pequena camada privilegiada que vive em Miami Beach. Às 8h já se nota que uma pequena fila de trânsito começa a formar nas ruas, com carros de última linha. O veículo mais popular parado no insignificante tráfego é o modelo New Beetle da Volkswagen. Ao redor das movimentadas avenidas, que diferente do Brasil são construídas com concreto, há vários cafés.

A peculiaridade é que a maioria desses cafés são latinos e não somente pelo cardápio típico hispano. Os pratos do menu são todos apimentados, as pessoas que consomem e trabalham no local também são caracteristicamente latinas, têm sotaque espanhol, corpo robusto e pele morena. Se você deseja tomar um chá gelado, ao contrário de outras cidades estadunidenses que entenderiam o pedido por Ice Tea, marca tipicamente americana, nesses cafés tem que se pedir um Té Helado.

Enquanto os miaminenses tomam seus picantes cafés da manhã, as televisões ligadas estão exibindo programas matinais mexicanos, estilo o programa Ver Mais (beijo professora Rosane) da RIC Record, só que todo em espanhol e com uma pitada de humor latino. Após passar o horário do rush, só se percebe nos grandes calçadões de Miami, mulheres da socialite correndo à beira-mar, com roupas de ginástica, corpos esculturais e cabelos escovados. Parece que acabaram de gravar uma propaganda de tênis para a Nike.

Ao se afastar do mar e se aproximar do Centro da cidade, as corridas são outras. Milhares de turistas enlouquecidos correm com muitas sacolas nas mãos pelos famosos Outlets, espalhados ao redor da cidade e que vendem roupas a preço de banana. A diferença de preço dos Shoppings Malls para os Outlets é absurdamente impressionante, quando as novas coleções chegam, as peças que sobraram da coleção passada vão direto para as Garments Racks dos Outlets.

Roupas de lojas como Tommy Hilfiger, GAP, Guess, Hugo Boss, Juicy Couture, Ralph Lauren, têm seus preços despencados pela simples mudança de estação. Nestas horas, o hemisfério sul pode sentir-se privilegiado. Como está sempre uma estação atrás dos nortenhos, a moda ultrapassada no hemisfério norte é a novidade para os consumidores que estão abaixo da linha do Equador. É possível pagar bem menos e usar a última tendência.

As tardes em Miami são curtas. Pela proximidade do centro do Globo, o sol começa a se recolher perto das 17h30min. E quando a noite cai o que parecia ser a consumista Beverly Hills, torna-se a louca Los Angeles. As largas calçadas da Collins Avenue, que tanto foram pisadas pelos consumidores de plantão, se transformam em um clipe musical do Snoopy Dog com muitas pessoas, a maioria negros, esbanjando roupas de grife como Gucci, Dolce Gabbana, Burberry e Giorgio Armani. Homens com calças largas, bonés e correntes de ouro são acompanhados de mulatas com curvas acentuadas e corpos avantajados. Bebidas alcoólicas, roupas de grife e carros luxuosos dominam a avenida pelo resto da noite.

Os letreiros, propagandas e diálogos paralelos nas ruas em espanhol fazem com que Miami pareça um camping de luxo no meio do México. Com culturas, hábitos e até mesmo uma língua latina predominante, em Miami você pode esquecer que está num território americano. Só fica evidente a sensação de estar nos EUA quando, pelas ruas da cidade, você se depara com algum obeso mórbido em seus carrinhos adaptados.

Nenhum comentário: