quarta-feira, 6 de março de 2013

Um adeus à Cidade Real

Os dois meses chegaram ao fim. Foram rápidos, especiais, entusiasmantes, engraçados e, às vezes, um pouco tristes. Eles correram como se fossem os últimos, o que não deixa de ser verdade, afinal, jamais outros dois meses serão iguais a esses aqui de Londres.

A primeira casca de banana que encontrei no caminho foi a língua. Com meu inglês básico, até que consegui achar esta ou aquela rua, saber qual ônibus pegar, comprar uma coisa ou outra. Mas, convivendo com pessoas de todos os lugares do mundo que têm hábitos e culturas totalmente diferentes, percebi como a fala é essencial. Jornalista tem, aliás, acredito que deva ter, um instinto de curiosidade. Quando vi aquele caldeirão de etnias, esse instinto apitou no meu cérebro.

Não escorreguei. Desviei das casquinhas e segui sem olhar para trás. Conheci japoneses, coreanos, turcos, tailandeses, italianos, suiços, russos, britânicos, equatorianos... Com um inglês improvisado, sem muita gramática e com pouco vocabulário, consegui conversar sobre o tempo, festas, passeios, Brasil, mundo, política, futebol. Encerro esses dois meses de intercâmbio com a certeza de que alcancei um objetivo batalhado há muito tempo: falar inglês.

Porém, outras cascas apareceram no caminho e, infelizmente, nelas eu escorreguei. No The Cavern, um dos primeiros pubs em que os The Beatles se apresentaram, diversas bandas e artistas tocavam os sucessos dos meninos de Liverpool. Mas quando a Rock Republik entrou o palco foi algo surreal. Os meninos eram absurdamente bons e eu deveria ter perguntado a eles como se sentiam ao estar no mesmo palco, que anos atrás mostrou ao mundo os The Beatles. Troquei duas palavras com o vocalista e só consegui pegar um cartão para contato.

Uma Visita a Liverpool foi um dos textos que escrevi com mais emoção desde que comecei no Estopim. Além disso, percebi que não seria um crime escrever na primeira pessoa. Libertei-me disso e pude trazer minha visão sobre o que vivi em Londres, mostrando as pessoas que lá encontrei e os lugares que por lá passei e foram tantos.

Comer e beber

Quando se visita um outro país pela primeira vez, a gente tenta extrair dele tudo o que pode. Isso não é diferente na lendária Inglaterra e na apaixonante cidade de Londres. Mas, se adaptar aos londrinos não é uma missão fácil. A começar pela famosa pontualidade. Tem que correr para não perder o horário da aula, do trem, do ônibus e ajustar os relógios a um horário confiável. Há também o breakfeast (café-da-manhã) que é praticamente um almoço. No prato original, come-se ovos, bacon, salsicha, pão, cogumelos e feijão.

Eu gosto experimentar novas culinárias, mas dispensei esse prato sem o menor remorso! Só me arrisquei no fish and chips, também tradicional refeição britânica. É, literalmente, um peixe com batatas-fritas. A carne daqui é horrível, muito dura e acho que os londrinos não conhecem outros temperos se não a pimenta. Salvaram-me, nesses dois meses, os restaurantes chineses, o Mc'Donalds, o Subway, o supermercado e a Candem Town, descrita no pulo dos teus olhos ao parágrafo seguinte.

Candem Town é uma área, um bairro, no norte de Londres. Lá, está o bar que Amy Winehouse frequentava, oThe Hawley Arms. Essa localidade tem um dos mais interessantes, diferentes, curiosos e fantásticos comércios de rua, com um mercado internacional de comida. Em Candem, compra-se muita coisa por preços muito baixos, e come-se absurdamente bem por menos de £10 (10 Libras). Lá, é possível almoçar em Portugal, África do Sul, França, Turquia, Paquistão, Itália, China, Japão, Coréia, Tailândia, Brasil. Um turismo gatronômico imperdível.

É difícil os brasileiros se acostumarem com as cervejas quentes. Na verdade, elas vêm em temperatura ambiente, e são deliciosas. Não dá para comparar uma Brahma em temperatura ambiente com uma London Pride, por exemplo. Só encontrei essa cerveja em um pub, o St. Georges Tavern, e nos supermercados. Mas, com certeza, é umas das melhores que já experimentei. Outra cerveja, tão boa quanto, que só quem for ao Ye Olde Cheshire Cheese - um pub com apenas 300 anos de existência - pode experimentar é a Old Brewery Bitter, que custa £2,90 e é totalmente diferente de todas as cervejas que você um dia provou!

Londres além dos pubs e do Big Ben


Nem só de comida e cerveja vive o homem. Os Titãs cantaram a pedra: “a gente não quer so comida, a gente quer comida diversão e arte...” Elas não faltam por aqui. As dezenas de museus – a maioria gratuitos – oferecem um leque artístico gigantesco da Inglaterra e do mundo. O British Museum, Museum of London, Victoria&Albert Museum e o Tate Britain são passeios obrigatórios para quem pretende conhecer a história britânica e os trabalhos de artiscas locais.

Outros museus incríveis são o Science Museum, Tate Modern, The Photographer Gallery – que nesses meses expôs trabalhos de foto-colagem e disponibilizou uma galeria para o brasileiro Geraldo de Barros mostrar seu trabalho – National Gallery, além do Imperial War Museum que estará fechado até julho de 2013 para reformas.

No guia de turismo que comprei antes de viajar, há um tópico que diz o seguinte: Como um londrino. Nessa sessão, o guia traz dicas de como se comportar como um típico londrino, onde ir, como ir, a que horas ir. Li atentamente cada sugestão, mas foram todas inúteis. Não somos londrinos e jamais teremos os mesmos hábitos que eles. Acho que isso torna Londres tão encantadora. Seu caráter cosmopolita faz com que a gente se sinta em casa, mesmo a quilômetros de distância.

Não é fácil dizer adeus à cidade de seus sonhos eir embora. Não é fácil voltar para a rotina, ver os mesmo rostos e ouvir sempre a mesma língua. Todas as experiências adquiridas, certamente valeram muito. A volta terá o gosto de missão cumprida e deixará a vontade de ser, por mim, repetida milhares de vezes. Quem sabe outros países, ou até mesmo um cantão desse Brasil. Acredito que aqui, nesses dois meses, aprendi, finalmente, o significado de Carpe Diem. Agora, saio de Londres com a certeza que ela não sairá de mim.

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