quinta-feira, 28 de março de 2013

Pessoas me dão preguiça

Cristina Souza

Preguiça das pessoas e desses joguinhos sociais, saca? Bom, deixe-me ser clara: toda essa coisa montada, esse script que deve ser seguido quando conhecemos alguém. Visualize: você se arruma, chega na festa. Olha para os lados, vai até o bar, retoca o batom vermelho e dança mais um pouco. De repente, de camisa xadrez e barba por fazer (já que, agora, o lema é faça amor e não a barba), está ele. Olham-se, você desvia o olhar, e dança como se não tivesse percebido a figura.


Olha de novo, ele sorri, você bebe seja lá o que estiver bebendo e ele se aproxima. A abordagem varia de acordo com o lugar que você está - espero que não seja uma balada sertaneja. Essas coisa de "agora fiquei doce" -. Você reza para que ele não venha com um papo muito furado. Aliás, você reza para que ele tenha papo, que não venha já te segurando, querendo te beijar. Afinal, as pessoas tem essa mania hoje em dia. Elas querem primeiro beijar para, talvez, depois se conhecerem. Triste!

Trocam algumas palavras, ele fala algo engraçadinho e você sorri. Seu sorriso é elogiado. Vão para outro lugar, porque ali não da para ouvir direito. Aham, sei. Ele tem até uma tatuagem legal no braço e parece ser bem bonito de perto – ah não, nada tem a ver com as duas doses de tequila - então você vai.

Talvez vocês conversem mais um pouco, talvez não... Mas, vamos imaginar que sim. Então, logo começa aquela auto publicidade toda – isso me cansa muito, muito, muito. É aquela coisa, você é acadêmica de (insira seu curso aqui), faz estágio, rala pra caramba, não liga para coisas fúteis (apesar de estar usando um sapato mega caro), assiste filmes de Tarantino e gosta de ler (mas não diz que é fã de Nicholas Sparks).

Ele diz: Jura?? Elogia seu curso, faz alguma piada sobre você ser muito inteligente, diz que surfa, anda de skate, toca violão e que no próximo ano vai fazer intercâmbio para a Cochinchina, que por acaso é o lugar que você sonha em visitar. Você quer ir viajar o mundo para fotografar, e adivinhe só! – ele ama fotografia. Risadas juntos, ele pega na sua mão. Beijam-se, apertam-se, sorriem, beijam-se de novo.

Então ele tem que ir, tudo bem. Aí ele pega seu número e diz que vai te ligar. Amanhã mesmo, porque quer falar sobre uns lugares ótimos na Cochinchina para fotografar. Você passa seu número, faz uma piada qualquer enquanto ele segue com os amigos. Então, você vai ao banheiro com as amigas – conta tudo nos mínimos detalhes, imagina, tanta coisa em comum! E assim a noite segue, quase com o mesmo roteiro. No outro dia ele não liga – mas você já sabia disso. De repente, ele começa a parecer não tão interessante e sua cabeça dói. De noite, você nem se lembra mais sobre a Cochinchina e suas fotografias.

Entende o que eu quero dizer? Cadê a naturalidade? Por que temos que ficar nos inventando? Tão simples ser direto. Tão simples ser você. Isso te deixa menos interessante? E se você simplesmente falasse que nunca ouviu falar de Cochinchina nenhuma, mas adora viajar para o interior de São Paulo? Ou então, em vez de dizer que é super fã da banda que ele acabou de mencionar – e você nunca tinha ouvido falar antes – falar que gosta mesmo é de ouvir Los Hermanos, e adoraria conhecer um pouco mais sobre a tal banda. Que tal rir das incompatibilidades? Que tal não dar seu número, pois você sabe que ele não vai ligar, e mais: anotar o dele e não ligar. Ou ligar, se tiver vontade, porque não? Não temos que seguir sempre o mesmo script.

E isso que é o bom, reinventar, inovar, sair do mesmo. Entende por que ando cansada desse joguinho social? Ah, legal mesmo é falar, fazer e sentir o que der na telha. Agir livremente, sem ficar pensando em seguir um padrão só porque é assim que deve ser feito. Quero mesmo é fazer como eu bem entender, sem precisar ficar pesquisando sobre as Cochinchinas da vida. Se o gosto não é o comum, que me aceite assim, ué! Senão aceitar, respeite. Tomara que existam pessoas que estejam cansadas como eu.

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