quarta-feira, 27 de março de 2013

A democratização da cultura

Thaís Teixeira



No relógio, passava das oito da noite. Um táxi conseguido às pressas me levou até o CIC – Centro Integrado de Cultura. Na metade do caminho, o motorista perguntou: “O que está acontecendo hoje lá?” eu respondi que era a abertura da Maratona Cultural, e que a Orquestra Camerata Florianópolis se apresentaria naquela noite. Depois disso, não sei se por não haver mais perguntas a fazer ou por não saber do que eu estava falando, o motorista se calou. Na chegada, disse que se precisasse de um carro para a volta era só lhe telefonar. Salvei o número no celular e sai do táxi.

Algumas pessoas se aglomeravam em volta do carrinho de pipoca na entrada. Grupos de conversa, fora do CIC, se formavam e eu imaginei que, talvez, não tivesse tanta fila para pegar os ingressos gratuitos e disponibilizados uma hora antes do espetáculo para o público. Logo percebi meu engano. A fila dava duas voltas na recepção e não dava pra saber onde era o começo e o final. Nem a entrada do Teatro Ademir Rosa, onde a Camerata se preparava para estrear sua temporada 2013, era possível de enxergar.

Na esperança de conseguir um lugar, fui em busca de um dos organizadores da Maratona Cultural perguntar como eu faria para entrar, já que estava credenciada. A moça me levou até a bilheteria – que até então, eu nem fazia ideia de onde era – e reagiu quando eu comentei:

- Nossa, que loucura está isso aqui!
- É mesmo, nem me fale! E olha que fizemos o máximo para organizar! Isso devia ser ao livre!

Concordei na hora, e imaginei uma apresentação da orquestra no Parque da Luz, no Centro da Cidade, e infelizmente falta atenção e cuidado – a exemplo de grandes concertos gratuitos ao ar livre que ocorrem todos os anos em cidades como Nova Iorque e Londres.

21h10min o maestro Jeferson Della Rocca entrou no palco com os outros músicos. Meus olhos ficaram vidrados nas mãos que flutuavam no ar e, com doses de técnica e amor, davam aos músicos a receita para ecoar em todo o teatro as fascinantes melodias de Ludwig van Beethoven que prenderam a atenção de todos durante a primeira parte do espetáculo.

Admito, não sou fã de música clássica, só que os meus ouvidos ficaram maravilhados com aquele som. Não conheço a obra de Beethoven, e pra falar bem a verdade, faz pouco mais de um ano que conheci a Camerata – até então nunca tinha ido a um concerto. Mas lá estava eu, admirando, prestigiando e principalmente, com vontade de estar ali e de querer ir a muitos outros concertos depois.

A volta do intervalo foi ainda mais arrepiante. Com a participação do violinista Oliver Yatsugafu, o repertório escolhido de Max Bruch era emocionante. Para finalizar, após uma chuva de aplausos e o pedido de bis, a partitura Romance, do mesmo Bruch, foi dada de presente a todos que estavam lá.

Enquanto Yatsugafu fazia seu último solo da noite, pensava com meus botões o porquê de espetáculos como esse não serem oferecidos gratuitamente, pelo menos duas ou três vezes ao ano. Aliás, não falo apenas de concertos, mas também das peças de teatro, que na Maratona Cultural foram a diversos pontos da cidade.

Uma vez, conversando com Horácio, comentamos sobre o que as pessoas falam em relação à falta de opções mais culturais na Ilha. Estávamos esperando o início da peça Coisas de Sua Cabeça, interpretada pelos atores Marcos Wainberg e Roberto Lopes. Nossa conclusão: Opções não faltam, mas já o dinheiro para bancar. O ingresso antecipado custava R$ 50,00, a inteira. R$ 25,00 a meia-entrada e na hora R$ 60,00 a inteira e R$ 30,00 a meia.

O incentivo de projetos como a Maratona Cultural e a grande quantidade de pessoas que, durante um final de semana, aproveitaram as atrações oferecidas mostra que se tivéssemos mais recursos financeiros, espetáculos como esse da Camerata Florianópolis, poderiam ser, mais vezes, apreciados. Público, com certeza, não faltaria e aí atingiríamos algo que deveria estar na cartilha de todos os governos: a democratização cultural. Afinal, independente da condição financeira ou classe social, todos têm os mesmos direitos.
Foto: Pelo enquadramento perfeito, só pode ser do Cristiano Prim

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