segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A rebeldia da comunicação

Jesus Cristo deixou a Terra há 1980 anos. Depois do fatídico episódio da crucificação que matou alguém capaz de transformar água em vinho, o ser humano teve que aprender a viver sozinho no mundo, contando, no máximo, com o alento da fé divina.
Era um desafio enorme andar com as próprias pernas na Terra, mas em 2013 anos, o homem foi capaz de mudar para melhor o mundo em que começou a viver sabe-se lá como e porquê. Uns dizem que foi um presente de deus, outros que somos a evolução dos macacos. Em 2013, ainda não existe uma versão unânime para a explicação da nossa origem, apenas essa dicotomia entre as quais podemos optar e até fazer propaganda.

Em 2013 anos, o homem conseguiu criar várias maneiras para facilitar sua existência. Quando Jesus Cristo pisou aqui, não existia ar-condicionado para refrescar o quarto dos casais e nem guarda-chuva para proteger os vistosos penteados das mulheres. Agora, eis a quantidade de invenções e suas diversas utilidades prontas a satisfazer nossos deleites, caprichos e necessidades.

O homem de hoje precisa ser melhor inventor que o da semana passada. Alguns são tão bons criadores quanto o possível criador dos céus e da Terra. Esses sujeitos têm projetos na cabeça que mais cedo ou mais tarde deixam de ser apenas simples ideias, pois são partilhadas com outras pessoas e depois de discussões e maturações os planos se solidificam, se materializam, se generalizam e se tornam hábitos que mudarão, para melhor, a vida no mundo que crucificou Jesus.

Duas criaturas com essas características são marcantes na história da comunicação. Johannes Gutenberg, o criador da prensa, e Mark Zuckerberg o criador do Livrodacara. Se um maluco decidir falar sobre a comunicação, fazendo um recorte do período entre esses distintos criadores há fontes de pesquisa disponíveis. O autor precisará de uma equipe grande de pesquisadores para isso e talvez deva separá-los em quatro grupos: impressos, rádio, televisão e internet.

Ainda assim, é provável que o cansaço esgote as forças e a perseverança do idealizador desse projeto. É que a comunicação em 2013, é um bebê ainda em fecundação que provoca dores não apenas na barriga, mas também na cabeça de quem ousa pari-la.

A culpa tem que ser dada a alguém. E a mais nova causadora do drama da comunicação é a internet. Não faço ideia de quem tenha sido o seu criador (o Google responde), mas ele, ou ela foi alguém capaz de, nesse ato, mais uma vez na história, materializar uma ideia, generalizá-la, torná-la um hábito comum às pessoas e com isso mudar, para melhor, o mundo.

Para melhor! Existe um clichê do qual farei uso agora: com a internet a informação é mais democrática. As pessoas têm acesso a qualquer notícia, a qualquer momento, em qualquer lugar do mundo. Essas são algumas das vantagens que o homem criou para si. Essa era uma das premissas da criação da prensa.

As invenções humanas, entretanto, não oferecem apenas benefícios. Elas são sempre imperfeitas. Oras, tudo bem que podemos contar vantagem perante todos os outros animais porque sabemos e sabemos que sabemos. Mas dotados dessa distinta capacidade adquirimos o hábito de explorar a bel prazer o mau costume das pessoas que não desenvolveram o intelecto.

Alguns homens sofrem de déficit de caráter e fazem com que aparentes avanços da comunicação, que têm impacto na história da humanidade, tenham duas faces, uma boa e outra ruim. Esses homens é que atualmente desqualificam a imprensa em todas as suas plataformas e destroem a credibilidade do jornalismo, mostrando para o seu público informações de pouco valor e com abordagens minimalistas, ou sem abordagem, o que é pior.

Vou construir uma simplória e rudimentar árvore genealógica da comunicação. Depois, podem cortá-lapara fazer madeira ou papel. Gutenberg é o grande patrono. Foi ele quem pariu a imprensa que nasceu com o propósito de democratizar a informação. Mas anos depois de o pai da prensa subir para o reino dos céus, a criança ficou sob a tutela dos jornalistas, que a mantiveram por muito tempo confinadas nas redações de jornal impresso. Na sequência, a guarda foi compartilhada com o rádio e, por último, com a televisão.

A comunicação virou uma adolescente rebelde e foi com a criação da internet que melhor pode conhecer o mundo, vivendo não apenas controlada por jornalistas, mas também por advogados, garis, donas de casa, pedreiros, arquitetos, sambistas.

Nesses tempos, não apenas os cidadãos dotados de bom caráter, como também os deficitários dessa virtude, usam a internet para encher o mundo de bobagens. Nesse momento da história da comunicação, o Facebook é um importante personagem. Muitas vezes mocinho, quase sempre vilão.

Não apenas o Livrodacara, mas outras redes sociais geraram as mudanças que percebemos hoje na comunicação e perturbaram a tranquila vida do jornalismo. Antes disso, o twitter, o orkut, e, claro os blogs, deixaram em estado febril os anciões da informação. E a febre traz alucinações, talvez por isso assistimos, vemos e lemos tanta porcaria na mídia.

Mas a internet ainda é uma novidade e por isso causa tantas mutações na maneira como produzimos e consumimos informações. É muito recente a utilização dela pelos grandes veículos de comunicação e, portanto eles ainda estão aprimorando sua qualidade. Resta-nos ter paciência nesse processo, sabendo que muitas tragédias serão repercutidas à exaustão e que muitos paredões do Big Brother hão de ocorrer.

Façamos uso da imaginação para rir e perceber que poderia ser pior: a televisão está transmitindo, em rede nacional, o incêndio de Roma por Nero. Da sua bancada, o âncora questiona a incompetência do homem que ainda não criou extintores de incêndio. Que grande vacilo dessa raça que só é capaz de solucionar seus problemas quando uma tragédia dessa magnitude ocorre!

Imaginem também se Maria, isso a mãe de Jesus, tivesse um Facebook. Vamos adiante com a ilustração: ciente de que seu filho ressuscitou, a moça atualiza sua timeline: Jesus ressuscitou! Quantos seriam os curtires, os compartilhamentos? E os comentários então? Que momento!

Tem mais: Getúlio Vargas enviou para todos os jornais um release dizendo que só sai do Catete morto. O texto estava tão bem escrito que nenhum jornalista desse brasilzão conseguiu mexer em uma frase, mas muitos o assinaram como se fosse seu. Que fenômeno! Getúlio dispara contra a própria cabeça de desgosto.

Não acabou: Moisés pede que um amigo filme a abertura do Mar Vermelho. O vídeo alcançou tantos acessos no Youtube que Moisés foi assassinado algumas semanas depois acusado de bruxaria.

Sócrates tem um blog onde deixa mensagens filosóficas. Ninguém comenta seus posts e ele decide beber cicuta. Antes disso, tirou a página do ar. Platão que se vire deixando suas ideias à posteridade.

Agora, numa daquelas raras pérolas da internet, pois nem tudo está perdido, encontramos um tweet de @pulitzer: o jornalismo é a profissão que requer o conhecimento mais largo e profundo e os mais firmes fundamentos de caráter.

Epílogo

Nessa semana, nenhum epílogo foi escrito.


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