domingo, 3 de fevereiro de 2013

Notícias de outro planeta

Reporto minhas últimas experiências da viagem à Galáxia k7x 22, especificamente ao planeta k7p 33, a pedido dos diretores do Estopim. Desde que cheguei por aqui, as coisas continuam a se apresentar estranhas demais.

K7p 33 é um planeta de clima árido; os rios se secaram há algumas centenas de anos. Há pouca água, pouca vida, poucas árvores – quase todas derrubadas pela insaciável exploração da madeira. A paisagem lembra os maiores desertos do planeta Terra.

Grandes torres de aço sugam água dos lençóis freáticos. Essa é a única maneira de se obter o desejado e escasso líquido, problema que já gerou diversas guerras. No distante planeta, a comunicação entre os habitantes é aterradora; muitas vezes resulta em violência. Todos andam com os nervos a flor da pele. Nunca se sabe o motivo das discussões, mas, virou, mexeu, alguém é internado com traumatismo craniano por ter sido atingido por um bastão.

Nesta semana, várias naves de transporte público - são chamadas de naves, mas na verdade não passam de ônibus velhos - foram incendiadas por arruaceiros a mando de organizações criminosas, que teimam em confrontar a fragilizada defesa pública. Devido à grande probabilidade de confusões e violência, sua população, muitas vezes, evita sair às ruas.

Os locais de grande aglomeração não são inspecionados da maneira correta, as propinas aos funcionários responsáveis pela fiscalização são constantes. É comum incêndios destruir estabelecimentos e mortes em brinquedos de parques de diversão.

Devido aos habituais incêndios, os donos das danceterias, propositadamente, constroem apenas uma saída e dão ordens expressas aos seguranças do recinto para cobrarem as comandas de consumação, sem importar os riscos do fogo incontido. Lucro em primeiro lugar!

K7p 33 tem um nome, é planeta Arret. Os Arretáqueos possuem características físicas muito distintas dos humanos, se parecem mais com enormes sapos, tem hálito intragável, peidam e arrotam muito – estes dois hábitos demonstram que estão satisfeitos ou felizes. O personagem de Guerra nas Estrelas, Jabba the Hutt, é uma sumidade por aqui.

O planeta Arret também tem sua própria cultura de massas. As músicas têm letras de apenas uma frase, ou grunhidos seguidos um do outro, em que todos cantam juntos e empolgados. As fêmeas requebram bastante, e dão risada-grunhido, com a diferença de que, quando rebolam muito, soltam peidos. Os machos geralmente ficam encostados em postes ou vigas que sustentam o local, encenam o charme, bebem bastante e arrotam.

Na televisão, algumas opções. Mas a maioria dedica suas atenções para uma emissora, que parece ditar os rumos de todas as discussões das famílias em suas casas. O investimento é voltado para produções com o mesmo enredo, que se repetem inúmeras vezes ao dia, com a diferença de trocarem os atores na atuação. No meu caso, nunca percebo a diferença. Há inúmeras edições de revistas que abordam os capítulos dessas produções, inclusive de um estranho programa onde sapos gigantes de braços musculosos e sapas de rabos enormes discutem e festejam confinados dentro de uma enorme caixa de metal cheia de luzes.

A política, similar com a terráquea, é uma democracia. Três poderes. Os políticos geralmente tomam decisões arbitrárias e se lixam para a opinião pública. As votações mais importantes e de interesse do povo são secretas, as identidades e os votos são ocultados para melhor atender aos seus próprios interesses - que geralmente são prostitutas, sopa de mosca com lesma, e dinheiro, muito dinheiro.

Na última semana, um aclamado político, conhecido por suas amantes e seus conluios de desvio de dinheiro público, foi eleito presidente da “Casa das Leis” pelos seus colegas e asseclas. A eleição, é claro, foi secreta, e na véspera de um final de semana, para assim ser esquecida pelos habitantes que começam a beber logo que se acaba a jornada de trabalho.

A única bebida produzida é forte e tem gosto de gasolina, basta um trago para se sentir alcoolizado. Está em torno de 6% mais cara devido ao aumento dos impostos. 

E para finalizar, a festa mais aguardada está para chegar: o Purteral. Uma tradicional comemoração parecida com o Carnaval, com duração de quatro dias e palco de inúmeras tragédias.

Na próxima semana, me sinto muito aliviado, não farei mais reportagens em Arret. Volto pra Terra, especificamente para o Brasil. Um lugar muito mais organizado e tranquilo do que Arret para se viver...


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