sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Dramas do futebol

Clubes menores sem estrutura e jogadores com problemas de saúde 

O esporte favorito do brasileiro é, sem dúvidas, o futebol. As pessoas vivem discutindo sobre os seus times nas mesas de bar. Os esportistas brasileiros são reconhecidos pelo talento e pela veneração da mídia. A “alegria e ousadia” do jovem Neymar é sempre manchete das matérias esportivas. Mas o futebol brasileiro possui um lado bem menos retratado pela mídia: as dificuldades, a falta de condições de trabalho e os problemas de saúde dos jogadores de times menores.

Na quarta-feira, dia nove de janeiro, um jogador morreu após sofrer uma parada cardíaca num treino. O volante Roque Alves de Lima Neto, conhecido como Neto Maranhão, tinha 28 anos e era um dos principais reforços do Potiguar de Mossoró para o campeonato estadual do Rio Grande do Norte.

O jogador passou mal e caiu desacordado durante o treinamento. Os companheiros de time tiraram as camisas e abanaram para tentar ajudar. Integrantes do Potiguar tentaram fazer massagem cardíaca e respiração boca a boca. Os jogadores carregaram Neto Maranhão para fora do gramado, ele foi levado para um hospital, mas já chegou sem vida. Não havia médicos presentes no treinamento e o gerente de futebol do Potiguar, José Neto, sabia que ele teve um mal-estar ano passado, quando jogava no Biguaçu. Segundo o dirigente, Neto Maranhão passaria por uma bateria de exames na quinta-feira, um dia depois da fatalidade.

Neto Maranhão havia negado que tinha problemas de saúde para antigos companheiros no Maranhão. Ele alegou que, em setembro de 2012, no Biguaçu, teve um desmaio porque a glicose havia baixado, mas que não era nenhum problema cardíaco.

Outro caso conhecido foi de Serginho, que em 2004, morreu em campo num jogo contra o São Paulo. O São Caetano, clube que Serginho defendia, sabia dos problemas cardíacos do jogador. O clube foi punido com a perda de 24 pontos no campeonato brasileiro daquele ano.

O caso de Serginho foi mais noticiado, pois era um time maior e considerado mais estruturado. foi numa partida da primeira divisão, mas quantos jogadores de times menores passam por situações como essa. Outra coisa: a vida de uma pessoa vale o número de pontos feitos por um time de futebol?

O fato de jogadores com histórico de problemas de saúde insistirem em praticar esportes é simples. Além da paixão pelo esporte, na maioria das vezes, presume-se que é seu único sustento. Como a maioria não tem muita escolaridade ou formação, a única coisa que eles sabem fazer é jogar bola. Só afastar o jogador dos times não é a solução. É preciso dar suporte e acompanhamento para que ele tenha condições de vida melhores e saudáveis. Um exemplo é o jogador Paulo Ramos, que jogou no Grêmio e no Vila Nova de Goiás. Ele foi afastado dos gramados desde que descobriram um problema cardíaco, sem o suporte dos times, ele faleceu após jogar uma “pelada” no interior de Goiás.

O problema é quando os clubes aceitam jogadores que possuem problemas desse tipo sem dar a eles auxílio e o devido tratamento. Os médicos do Flamengo, detectaram uma arritmia cardíaca no meio-campo Renato. O clube afastou o jogador para que ele fizesse uma cirurgia que garantisse sua volta aos gramados sem que ele sofresse nenhum mal-estar. Recentemente, o Vitória da Bahia tomou as mesmas providências com o jovem jogador Willie.

Claramente, o caso de Neto Maranhão foi uma fatalidade que poderia ter sido evitada se o clube tivesse tomado medidas de segurança. Treinos pesados em campos precários sem médicos presentes é um risco que muitos jogadores brasileiros sofrem. A maioria dos jogadores que defendem times menores e com menos estrutura acabam treinando e jogando em campos piores que a várzea, sem ambulâncias, sem médicos e/ou até mesmo sem massagistas. Os salários são baixos e nem sempre são pagos em dia. Muitos não vivem só de futebol, tendo que trabalhar em outras áreas para sustentar suas famílias. 

O esporte amador e profissional precisa ser revisto no Brasil. O futebol brasileiro não se resume a times grandes e a craques.


Nenhum comentário: