quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O gênese do verbo amar

No princípio era o verbo, e o verbo me soava esquisito. Brecava-me entre os dentes, apesar senti-lo, de hálito quente, ao pé de meu ouvido. Na característica dos trava-línguas, era sentenciado a engasgar, em toda vez que o sentia subindo, tentava mas não podia alcançar um sincero verbo intransitivo. 

Todas as coisas foram feita por meio dele - as artes e os livros - nos invadindo as orelhas, como singelo e conspícuo, aparecendo tão inocente nos filmes, banalizando o pulsar cardíaco. O gênese do primeiro verbo, usado a esmo, dissecado em melodramas e idílios, mentindo a realidade do vocábulo, edificando uma versão postiça do verbo divino. 

Na conjugação de dois peitos, fácil pronunciar a graça do particípio, ou o elucidativo pretérito imperfeito, deficiente por existir somente no já ocorrido; difícil é soltar um eu te amo, sem a artificialidade que estão acostumados nossos ouvidos. Não falar só pela boca, mas deixar o verbo exalar pelo corpo que já o tenha acometido. 

Amar, palavra estrangeira, que a minha boca soa construída, sutil manejar de língua  que no degredo do poeta, sempre acompanha a rima. Verbo egoísta que comporta na frase um sujeito só; artificial nas horas em que precisa ser dita, muda, entalada na garganta, quando quer ser expelida. 

Sutil vilania, da língua que esconde a palavra querida, carcere da boca, que não cospe o que desejaria. Meu Deus, como é difícil amar sem um exclusivo verbo que se defina.
Gessony Pawlick Jr.

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