quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Não quero ser repórter!

Palavras, linhas e parágrafos que explicam essa opção condenada por todos aqueles a quem confidenciei

Tem um monte de gente que vazou desta página pensando que eu ia fazer um texto para jornalistas. Eles não estavam errados, realmente vou, mas, entendo que deveriam ter ficado, pois vou explicar uma escolha que nasceu, ou "naisceu" - como dizem os cariocas -, depois que ouvi uns nhé, nhé, nhé na redação. E os bastidores, nesse caso, é o que eu trazia para eles.

Não quero ser repórter. A primeira vez que eu disse isso foi dentro da academia. Diante da minha insensatez a professora respondeu justamente o esperado: os melhores editores foram bons repórteres. Retruquei: o jornal perde um excelente repórter e ganha um péssimo editor. Depois dali, a aula nem valeu mais a pena.

A reação da professora foi idêntica a dos colegas da redação para quem confidenciei meu projeto de carreira. São uns jornalistas com quem costumo trocar ideias e de quem ouço incessantes e sinceras lamúrias, se é que o paradoxo é possível.

Não quero e não quero e pronto. E se o fizer não será com o mesmo prazer da sonhada edição. E a culpa é dos meus olhos e da minha percepção. Escolhi o jornalismo por acreditar que realizaria grandes viagens, conheceria histórias bonitas de se contar, mudaria a história da política com uma excelente descoberta, ou jornalisticamente abordando, com um furo, mas...

Esse era o sonho, entretanto, qual repórter tem reais condições de vislumbrar tantos sucessos na carreira? Os malucos. Eu não. Eu sonho com a edição. Ainda pretendo participar da construção da notícia, mas em outras etapas. Na pré-notícia e na notícia pronta. O resto é com o repórter.

Deixem-me ampliar a história: quero chegar à redação e me reunir com outros operários da edição, jornalisticamente abordando (novamente), os editores. Isso. Quero ser logo um editor de área. Não sei se da Geral, da Política, ou Variedades. Certamente não será do Esporte, jamais da Polícia.

Na mesa de reunião, às 10h quero imaginar o jornal do dia seguinte. Eu e outros editores sabemos que, às 14h, o jornal será outro e que, amanhã, o leitor não terá sequer uma notícia daquelas que imaginamos às 10h. Mas e daí? A cartola e a linha de apoio da matéria serão minhas e se o repórter for preguiçoso a minha criativa cabeça também terá que parir um título convincente ao leitor.

Vejo meus colegas repórteres já um tanto cansados, tristonhos e com umas olheiras feias. Só em algumas situações é que os olhos deles brilham. É quando sabem que viajarão atrás da notícia, mas quão raro é esse acontecimento. Aliás, por isso brilham os olhos deles.

Essa escolha não é um sinal de desânimo. O sonho do bom jornalismo permanece vivo dentro do meu coração, esse órgão que pulsará pela empresa, quando eu mudar minha função na engrenagem, jornalisticamente abordando (pela última vez) quando eu pensar a pauta.

E daí? Quero queimar uma parte da trama e isso não comprometerá o enredo do filme. Aliás, o lugar em que pretendo estar no auge da carreira justifica minha escolha e o mais interessante é que, como não confio em vocês não vou contar que lugar é esse.

Nícolas David

Nenhum comentário: