segunda-feira, 30 de julho de 2012

Flores de plástico

Uma crítica aos grandes nomes que insistem sobreviver

Devo confessar, desde já, um segredo público: Meu estado de boêmio inveterado.

Deveras, não nasci, nem fui concebido no carnaval, nem ao menos tive um começo lúdico para ser iconizado como um nascimento boêmio. Sou simplesmente um filho da noite, uma herança comportamental, de madrugadas que dormia cansado, por esperar meus pais voltarem de suas noitadas, em roupas de gala e perfumes adocicadamente agradáveis. Tenho um desejo pela noite, e uma pré-adolescência marcada por amanheceres na rua, de trôpegos tropeçares, de uma alegria infinda, com muito vinho a rondar minhas têmporas doloridas.

De um saudosismo inato, tendo como primeira situação de conforto, o lírico estar no bar, me fiz um mimesis da década de 1920. Minha pompa, construí de expoentes dos tempos de nossos pais e avós; me fiz um bêbado, consideravelmente lúcido e perturbado, a buscar a beleza que Toulouse Lautrec trazia com tanta emoção as telas. Hoje, me vejo perdido, entre tantos bares sem propósitos, com embriagadas reuniões sem razão, andando por gigantescas avenidas de bares, ínfimos ou desgastados.

Lembro meu primeiro dia na faculdade, quando uma professora proferiu em alto e bom som "Os grandes nomes estão mortos", e desde então, após ter argumentado a seu favor, vi cada vez mais claramente a sobrevivência da socialigth ilhéu.

Vivo, de certo modo, e já vivi, mais intensamente, no supra sumo do glamour ilhéu, ouvindo, pelos cantos dos ouvidos, as falsas honras e as falsas virtudes que apareciam nas colunas sociais. Vi as eternas poses de bonecos feitos de talco e pó de arroz, disfarçando suas imoralidades como um romance de Bocaccio ou de Balzac. E ainda vejo, hoje, além desses manequins da nova época, burlescos ventríloquos de cera, tomando shoppings, empórios e cafés, parcamente habitados. 

São sobreviventes de uma high society cada vez mais morta, na elegância das cerâmicas rachadas, tentando passar seus melindres a suas proles, hipocritamente construídas, que em nada herdaram a finesse de seus pais, somente o ostentativo e fútil modo de viver. São duas gerações de brancos lírios de plástico, uma na parca essência decorativa, na mesquinhez de não deixar morrer os legados passados; e outra de lindos vasos extravagantes, com pétalas manchadas de pó, no ranço daquilo que nunca mudou de lugar.

São ruas e avenidas, cheirando ao talco gasto de antiquários, sobrevivendo do ouro de nomes que só se fazem notar nos tablóides sociais das páginas marrons. Tristes figuras de uma época sem fidalgos. Nobres decadentes como em um conto de Eça de Queiroz, provando que a história se repete. Deixando para os olhos uma beleza plástica com uma profundidade histórica que não pode ser revivida, e para o futuro, sobrenomes em empresas e mausoléus, de prováveis novas gestões.

Os grandes nomes não estão mortos, estão resistindo, nos mesmos restaurantes, em uma senil existência, em um saudosismo e uma rotina que não querem largar, acumulando o pó nos clubes e cafés da beira-mar e de seus poucos recantos, marcando heranças físicas de sua geração construída por suas pratas. Como um dia, talvez nós, com novos nomes, de novos feitos, também estaremos, igualmente remoendo nossa velhice e a grandeza de um passado cômodo de nossa boêmia nem tão elegante.
Gessony Pawlick Jr.

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