domingo, 1 de julho de 2012

Bicho do mato

Não sei por que, mas é extremamente difícil se relacionar com um novo grupo de pessoas que têm a rotina para conviver. Entrar e fazer parte de uma turma onde ninguém te conhece é como ser um espermatozoide escolhido para fecundar o óvulo, quando há uma porção de outros espermatozoides tão bons - ou fracassados - quanto você. É complicado convencer e se mostrar capaz de cumprir determinado papel dentro de um local desconhecido e com pessoas estranhas. 

Será preconceito pelo fato de que o patinho feio é loiro e não pertence ao mesmo círculo de amigos, nem ao mesmo curso com as mesmas ideias e mesmos conhecimentos? Ou, será uma desconfiança, um descrédito na boa desenvoltura de um diferente? Mais uma vez, não sei. 

O espermatozoide precisa estar bem nutrido e precisa se preparar para conseguir chegar à frente dos outros. Ele precisa ser o mais rápido, bem como ser dotado de uma convicção imensa de que vencerá na longa corrida ao óvulo. Ele precisa estar ciente de sua capacidade e ter um pulso forte para não desistir no meio do caminho. Precisa mostrar a todos o quanto é digno do nascimento e, por conseguinte, da palavra falada e quem sabe escrita. 

Dessa forma, o sujeito deve se nutrir de conhecimento sobre o grupo que enfrentará, conhecer seus prontos fracos. No contra-ataque, os outros lhes encherão a caixa de e-mail com críticas - ora construtivas, ora pejorativas. Mas, a ideia de vitória, servirá para receber de peito aberto o que os desconhecidos dizem, para converter tudo o que há de negativo a seu favor e assim, expor sua dignidade de exercer tal atividade a todos que por um motivo qualquer, simplesmente, duvidam.

Na teoria, é tudo tão fácil que me enoja. Enquanto na prática é tudo tão complicado que chega a ser desesperador. Bom se fosse ridiculamente fácil essa coisa de chegar à patota, dotar-me de conhecimento sobre ela e estar preparada pra receber críticas e depois transformá-la em algo bom. Pelo menos, o difícil toma todo o meu tempo e paciência para tentar fazer bonitinho, tornando o suor o primeiro passo para a gratidão. De nada adianta explodir positivismo se, na verdade, o que nos resta é sermos realistas e aceitarmos as coisas como elas são.

Aceitar que há uma porção de pré-requisitos para se entrar em um grupinho, e ainda se mostrar disposto a por em prática tais requisitos. Venha o que vier, o importante é ser você e dane-se o que os outros pensam. É hora de estapear a cara de cada um, esfregar sua personalidade esdrúxula sem medo... Porque, afinal, de que adianta agradar fulaninho e ciclaninho? Que engulam o sapo ou aprendam a gostar!

Cabe ainda um parêntese para explicar as dificuldades que tive para escrever esse texto meia boca. Perdi todo o material que levei a semana inteira para construir, depois que meu computador decidiu que era hora de dar uma pane. Isso me leva a pensar que a memória é um tanto ineficiente, pois, muitas vezes, não guarda palavras usadas há poucos minutos.

Bons são os livros, que independente do tempo passado, eternizam as palavras e as guardam tão fielmente que só uma tragédia acabaria com o que nos disse Mario Quintana, Caio Fernando Abreu, Martha Medeiros, uma vez que suas literaturas não se limitam a internet e sim a uma porrada de livros espalhados pela história. Nós, reles cibernéticos, podemos ter a memória escrita reduzida a um erro tosco do computador. Espero que em algum momento da vida possamos ter a segurança da eternidade literária em nossos ditos meia boca, como este.

Marcelle Costa Oliveira

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