quarta-feira, 18 de julho de 2012

A mentira de Juarez

Trazida pelo Instituto Internacional Juarez Machado, a exposição Soixante-dix, a mais nova e falsária do performático artista - afinal Juarez já alcança a marca de seus 71 anos, quase 72 - chega a Florianópolis como uma irônica comemoração a sua velhice, um deboche aos novos habitantes de seu mundo (esses velhos, raquíticos e reclamões). Nesta quinta-feira, o MASC recebe a Soixante-dix que mostra, além dos novos quadros, artefatos de sua vida, desde rascunhos e croquis, passando por roupas, até velhas pinturas e esculturas do artista.

Ao contrário da senilidade que Juarez afirma ter, sua forma esbanja jovialidade por meio do humor presente, tanto em personalidade como nas últimas obras. Com cabelos grisalhos, barba cerrada e, impecavelmente vestido, o multi-artista, amante do champagne e, para delírio do Estopim, um dos integrantes d’O Pasquim, nos recebe no MASC onde lançará, oficialmente no Brasil, a dita exposição.

Sem sofás ou conversas de chá-da-tarde, saímos andando pelos corredores abarrotados de quadros, esculturas, fotos e o escambau, enquanto Juarez explicava as intensões e interpretações de suas novas pinturas, que têm como foco colorido, personagens que lhe representavam, mas nem sempre a sua imagem. Ao justificar seus auto-retratos, não somente desta coleção, fala:

"Sempre me coloco nas telas, não há nenhuma vaidade nisso", e completa, "o único poder do artista é parar o tempo, e quando ele se pinta, consegue congelá-lo e ganhar mais vida."

Mais tarde, confirmou em forma de anedota, a vaidade que disse não ter, quando em frente a um quadro em que um casal de noivos partilhava de suas feições. “Meu sonho é casar comigo mesmo... A gente se dá tão bem."

Sobre o trabalho, conta-nos que não existe feriado, pinta até mesmo no Natal, além de trabalhar em várias telas ao mesmo tempo, diz ser algo que engrandece, afinal necessita de muitas pesquisas e estudo. Juarez também faz questão de falar sobre algumas coleções passadas e sua vivência, como Diários de Bordo, Veneza, Ilha de Santa Catarina e Châteaux Bordeaux, permeando um pouco das curiosidades descobertas em cada uma.

Por 40 minutos, passeamos por sua história, seu objetivo em Soiante-dix era nítido: debochar de velhos da sua idade, e não fazer uma retrospectiva de sua existência. Brinca com situações, desde proibições da velhice até presentes de aniversários, enquanto para encher linguiça, como ele mesmo disse, uma outra parte da exposição mostrava sua vida e uma intensa paixão pelos 38 atelieres que já teve, reunindo, de forma saudosa, outros tantos momentos e trabalhos marcantes.

Fizemos aquele percurso de três corredores com o melhor anfitrião para o universo único que no MASC foi construído. Juarez Machado este joinvilense que estudou belas artes em Curitiba, morou 20 anos no Rio,  de Janeiro, junto a sociedade intelectual das décadas de 1960 e 1970, e finalmente, fixou-se em Paris; conduz-nos pela sua vida e apresenta um essência única e incopiável, de um humor nocivo e jovem.

Na saída, convidou-nos a voltar na abertura da exposição para tomarmos um vinho juntos. Veremos ainda se é homem de palavra, ou se mais uma mentira como o nome da exposição.

















Ilustrações: Gessony Pawlick Jr.
Gessony Pawlick Jr. e Thaís Teixeira

Nenhum comentário: