sexta-feira, 29 de junho de 2012

O cinema esquisito de Alejandro Jodorowsky

Alejandro Jodorowsky é um cineasta chileno nascido em 1929. Ele era palhaço de circo e trabalhava com marionetes na infância. Em 1953 mudou-se para Paris e estudou mímica e 5 anos depois gravou o seu primeiro filme chamado "La Cravate". A estréia dele nos cinemas foi com o seu segundo filme, "Fando e Lis". Foi bastante conturbado com direito à vaias e quebra-quebra no festival de Acapulco, no México. As pessoas não entenderam muito bem a proposta do filme e ficaram chocados com a violência e com o conteúdo politicamente incorreto. O seu terceiro filme, chamado "El Topo", de 1970, foi bem aclamado nas Américas por causa de John Lennon, que se declarou fã do trabalho de Jodorowsky.

Ele gravou poucos filmes, mas todos causaram comoção à quem assistiu. Temas polêmicos são sempre presentes, como: magia, sexo, escatologia, bizarrices, personagens circenses, conflitos religiosos, sangue, violência, sacrifício, viagens espirituais.
Três dos principais filmes de Alejandro Jodorowsky são: El Topo (1970), A Montanha Sagrada (1973) e Santa Sangre (1989).

O resumo das obras: El Topo (1970) - Um filme de "spaghetti western" passado em um mundo sangrento e repleto de fanatismo, simbolismo e de culto às armas. O filme têm duas partes. No início, o pistoleiro El Topo ("a toupeira", em bom português), interpretado pelo próprio Alejandro Jodorowsky, vagando à cavalo com seu filho pequeno Brontis (que não usa nenhuma roupa além de um chapéu e eventualmente, uma arma) por uma cidadezinha cujos habitantes foram trucidados. Ele resolve ajudar as pessoas e vai atrás dos assassinos. Depois de realizar a sua missão, ele salva uma mulher que era mantida como escrava pelo líder dos assassinos. Ela o convence a ir atrás dos quatro mestres das armas para ele se tornar o maior pistoleiro do mundo. No caminho ele encontra mulheres, anões deformados, pistoleiros com características distintas, cavernas e desertos. É um filme polêmico, com várias mudanças de rumo e totalmente fora do convencional.

A Montanha Sagrada (1973) - Quando se pensava que não poderia haver nada mais bizarro e controverso que El Topo, eis que surge "A Montanha Sagrada". O Jodorowsky cineasta cruza com o Jodorowsky mago e ele retrata tudo regado à muito misticismo, ocultismo e anormalidade. O simbolismo religioso é representado de forma eficaz e a retratação das crenças humanas sobre o invisível é primordial para a confecção dessa obra tão complexa. O filme já inicia afirmando que a adoração e que o divino são criações meramente humanas, já causando polêmica. Animais são esfolados e sacrificados numa procissão enquanto um circo conta a história de como os astecas "pagãos" foram derrotados pelos espanhóis católicos, numa representação com lagartos e sapos obesos. O protagonista é um homem qualquer, inocente e ignorante quanto aos acontecimentos ao seu redor, vivendo numa tumultuada metrópole. Ele acaba conhecendo um mago no topo de uma enorme torre, que faz o protagonista passar por uma série de rituais transormadores, para que ele possa alcançar o topo da Montanha Sagrada. O filme é muitas vezes tratado como uma "viagem" do diretor. Uma "bad trip" religiosa, ideológica com requintes de ficção científica que deixa a história quase que indecifrável. Muita gente se deixou levar pela "viagem" e até assistiu o filme sob efeito de psicotrópicos (populares na década de 70), mas todos os que assistiram "A Montanha Sagrada" haviam algo para comentar depois, afinal, é uma experiência quase que indescritível. Jodorowsky conseguiu o efeito "falem bem ou falem mal, mas falem de mim" nos espectadores com essa loucura cinematográfica.

Por último: Santa Sangre (1989) - Um filme de outra época, diferente dos outros dois. Esse filme de suspense/horror retrata o nascimento de um serial killer. O filme começa mostrando a infância de Fenix, um mágico mirim num circo comandado por seus pais, uma mulher fanática religiosa dona de um templo com uma piscina de sangue que idolatra uma deusa considerada pagã e um homem alcoólatra e abusivo que trai a esposa com a "mulher tatuada". Fenix se apaixona por uma menina surda-muda, mas acaba vivenciando uma tragédia familiar que o faz enlouquecer. Após anos internado num hospício, Fenix, agora adulto (interpretado por Axel Jodorowsky, filho do homem), recebe a visita de sua mãe, que perdeu os dois braços numa briga com o marido e acaba se tornando um assassino manipulado por ela, que tem ciúme doentio do filho. Com cenas chocantes, como o sacrifício de um elefante e com personagens circenses bizarros, como um anão chamado Alladin, o filme é um prato cheio para os fãs do mago Jodorowsky.

Um diretor tão polêmico e inspirado como Alejandro Jodorowsky, com filmes chocantes e reflexivos, não é falado pela grande mídia. Por isso, é importante relembrar suas obras e ressaltar a importância delas. Uns amam, outros odeiam, mas assistí-las é imprescindível para a formação cultural e intelectual dos jovens que se interessam por cinema, simbolismo e, claro, controvérsias. Espero que esse texto tenha dado a curiosidade para que pessoas busquem esses filmes e formem uma opinião a respeito deles.
Felipe Kowalski

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