sexta-feira, 11 de maio de 2012

Tic-Tac

O tempo não perdoa ninguém. Isso é fato. Todos estamos envelhecendo, mas envelhecer não significa ficar mais experiente. Muitas vezes agimos com a inocência de uma criança impulsiva, repetimos os mesmos erros, nos lamentamos por passar mais um ano sem conseguir realizar feitos, objetivos antigos.

Olhar pra trás e reviver memórias é sempre uma experiência dolorida. Nos remoemos por termos tido momentos ruins e sentimos falta dos momentos bons. O tempo não perdoa, o vento leva tudo embora... 

Quantos sorrisos passaram desapercebidos? Quantos momentos foram substituídos por outros mais marcantes e, de certa forma, apagados da memória, como se nunca tivessem acontecido? É, o tempo não perdoa, a memória que fica torna os anos com menos de 365 dias... 

Enquanto um grão da ampulheta cai, um momento futuro se torna presente e então passado, num piscar de olhos. Há um motivo pra passagem estreita da ampulheta ser o presente enquanto as partes de cima e de baixo são mais amplas. Pensamos (e, conseqüentemente, vivemos) muito mais no passado e no futuro do que no presente. É um ato inconsciente e inconsequente. O tempo faz isso com a gente, como se nossa mente fosse um rato caindo na velha armadilha da ratoeira. O tempo não perdoa, nos prega peças que caímos o tempo todo. Caímos no buraco negro do tempo, todo o tempo. Os relógios antigos incomodam com os tiques-taques barulhentos. Lembro de ter dificuldades para dormir com o som dos ponteiros, emitindo um som cada vez que perdemos um segundo de nossa preciosa e falsamente imaculada vida. Ah, quantas noites perdidas, como se fosse torturado com aquele som, parecia que uma torneira pingando dentro da minha cabeça, e o registro não poderia ser fechado, estava de mãos atadas. O tempo não perdoa ninguém, nem trabalhadores, nem vagabundos. 

Mas a vida, ah... a vida. O tempo que faz com que ela surja é o mesmo que ceifa ela, impiedosamente. Quanto eu vivi e deixei de viver? Eu me perco com os pés na terra, mas minha mente no ar. Quantas vezes me flagrei olhando pela minha janela, madrugadas eram o cinema que a minha memória gostava de assistir, revendo os clássicos da minha vida, sempre rebobinando a fita para rever mais uma vez, para apontar os erros que cometi, como um crítico daqueles bem ferrenhos. E ainda existia a imaginação, vendo cenas que não existem no passado, talvez exista no futuro, mas não vivi e nem estou vivendo as cenas que minha imaginação me proporciona quando olho para o céu estrelado. O tempo passa enquanto vivo no mundo paralelo, do passado e do futuro. O tic-tac continua enquanto viajamos no tempo. O tempo não perdoaninguém, nem sonhadores, nem realistas. 

Cabe a nós decidirmos como devemos usufruir do tempo que nos resta. Isso o tempo não pode controlar. No mais, o tempo não perdoa... As reticencias significam que algo mais vem aí, o tempo... O tempo não para. 

Felipe Kowalski

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