Há algumas semanas resolvi que trocaria o carro pelas caminhadas para cumprir meu labor diário. Morando a apenas 6km de meu trabalho e na ausência de um transporte público rápido e eficiente – quem mora no continente e trabalha em outro bairro do continente, necessita ir até a ilha com um ônibus e retornar com outro coletivo, gastando no mínimo uma hora do dia para completar este percurso -, percebi que esta seria a melhor maneira de contribuir para diminuir o congestionamento na cidade, além de colaborar com a redução de CO2 emitido pelo automóvel.
Que grata surpresa sentir o calor do sol na pele em seus primeiros raios da manhã. E encontrar pessoas sorrindo nas ruas, na frente das casas, saindo para o trabalho ou para a aula: algumas chegam até a soltar um tímido “bom dia” – juro que não sinto nenhuma saudade das caras feias e mal humoradas dos motoristas a cada vez que pedia passagem para entrar em uma rua ou mudar de pista, quando ia de carro. Sem falar nos benefícios para o corpo: uma caminhada de meia hora pela manhã e meia hora à tarde, deixam a pessoa bem mais disposta – aquela moça que vende iogurteiras Top Therm na TV diria, sem pestanejar: “é muita qualidade de vida, gente!”
Seria, não fosse o verdadeiro estado anárquico que encontrei pelo meu caminho. Ausência de faixas de pedestres e motoristas que não respeitam aqueles que estão colaborando para a diminuição do tráfego. Malabarismos constantes e desvios de rota a todo momento para não levar tombos em buracos e nas calçadas – sempre penso nas pessoas mais velhas e deficientes físicos quando vejo o tamanho do degrau que existe entre uma calçada e outra. Não há um padrão: cada morador faz a sua calçada da altura que bem entender, sem fazer uma continuação entre a calçada do vizinho e a da frente de sua casa. E o que de pior vi até hoje nessa aventura diária: esgoto correndo a céu aberto todos os dias, a qualquer hora do dia, no meio da rua e em cima da calçada, entre as ruas Paula Ramos e São Cristóvão, na marginal da Via Expressa. Ratos, baratas, água suja e o mau cheiro fazem parte do cenário diário. Uma paisagem nada paradisíaca da capital apontada por muitas instituições como a de melhor qualidade de vida do Brasil.
A certeza que tenho, quando cruzo com tais infortúnios, é apenas uma: prefeito, vereadores e deputados vão para o trabalho, todos os dias, de carro.
Crédito das fotos: Leonardo Contin da Costa
Leonardo Contin da Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário