quarta-feira, 9 de maio de 2012

O início de uma paixão

No ano de 1968, as ruas do Brasil eram tomadas por estudantes, operários, intelectuais, artistas e tantos outros protestavam através de inúmeras manifestações. Grupos de oposição, Grupos de Organizações de Esquerda, que defendiam a luta armada, e os Movimentos Estudantis, eram duramente reprimidos pelos militares.

O mundo vivia uma ebulição de revoltas populares e surtos culturais, o movimento estudantil era mais forte do que nunca e o jornalismo mais apaixonante e fascinante. Jornais eram feitos aos borbotões. Movimento, O sol, O pasquim, Opinião, Ex, Em Tempo e muitos outros fizeram história na luta contra a ditadura e, principalmente, na história do jornalismo.

Esquerdistas, revolucionários, anti-ditadura e intelectualizados, os jornais alternativos mostravam ao país um jornalismo isento de interesses econômicos e mercadológicos. Primava-se pela informação, não como um negócio, mas uma arma ideológica. Usava-se da notícia para gerar discussões e políticas sociais, fazer denúncias, politizar uma parte da sociedade que estava inerte.

Hoje, não há mais ditaduras nem surtos culturais. O movimento estudantil está apagado, e as revoltas populares não fazem parte da cena. O jornalismo apaixonante e revolucionário também foi jogado para escanteio. Acabou a guerra ideológica que movia essas causas e jogamos a sociedade de cabeça no capitalismo.

As redações tornaram-se indústrias da notícia e os jornalistas operários conformados. A maioria dos estudantes de jornalismo entra e sai da universidade com o único pensamento: de se inserir no mercado de trabalho, mercado este que sufoca as ideias, a paixão e visão crítica de mundo.


O modo de produção Fast Food, jeito de fazer jornalismo americano, e também o nosso, impede que tenhamos um jornalismo de qualidade, mais crítico, a serviço da comunidade e não dos interesses econômicos dos donos da mídia. A notícia instantânea, a falta de discussão em cima da informação, o tempo recorde para a produção das matérias, visto que o mais importante é a quantidade e não a qualidade é o que impera hoje.

Nas décadas passadas Tom Wolfe, Gay Talese, Trumam Capote e outros fugiram dessa produção mercadológica e nos presentearam com o New Journalism. Mas e agora? Quem tem ousadia de reinventar o jornalismo como eles fizeram? Quem furaria o sistema e traria de volta às páginas dos periódicos as grandes reportagens e a voz do povo? Quem serão os nossos Tom Wolfe, Gay Talese, Trumam Capote?

Não precisamos de grandes causas como as que moviam as gerações de 1960, 1970 e 1980, nem de ditaduras e censura para sermos contestadores. Isso é desculpa da preguiça e do comodismo. Precisamos sim é de coragem e paixão para fazer a diferença e deixarmos de ser operários conformados.

Ainda em 1968, os muros de Paris gritavam "O que nós queremos, de fato, é que as ideias voltem a ser perigosas". Fazem mais de quatro décadas que as pobres ideias não fazem cócegas nem em uma mosca. Quem sabe já está mais do que na hora de soltar o bicho.

Thais Teixeira

Um comentário:

Clodovil disse...

perfeito, hoje nao se verifica esse afã na classe estudantil, o sentimento de conformidade ,passividade e alienação é predominante, e se não forem os estudantes, a força revolucionária em potencial, a mudar os rumos da política, defender os direitos sociais, expurgar as lideranças corruptas, quem fará isso? os jornais, impressos, televisivos, são partidários e enviesados, e acho que a omissão estudantil, frente a esse cenário, acaba se configurando em conivência...