Estudantes de jornalismo costumam ser pensadores, mas só na universidade. Na redação isso muda. São muito críticos quando falam dos políticos, ou depois de assistirem às gafes dos colegas. A Carta Capital e o quadro Top Five do programa CQC, transmitido pela TV Bandeirantes, são doutores no assunto. O Observatório da Imprensa nasceu para isso. Aos olhos dos futuros jornalistas esse tipo de apontamento é fantástico. Aplaudir o dinossauro Alberto Dines e o OI é o mínimo que se pode fazer.
É bem verdade que jornalista erra muito. O autor desse texto, por exemplo, ainda não pegou a fórmula para cravar o roteiro e as sinopses de cinema a fim de bem servir seus leitores, em uma página de serviço, no principal jornal de Santa Catarina. Mas, saber que esses erros existem e corrigi-los não basta. Prefiro dizer aos interlocutores que eles poderiam acompanhar um noticiário melhor elaborado por nossas linhas editoriais e jornalistas. Mas nossos leitores sequer têm a vez de julgar a imprensa brasileira. Está tudo pronto. Nada de vara de pesca, em vez disso, peixe fresco.
Tenho essa propriedade para falar de jornalistas formados (em formas) e de jornalistas em formação porque convivo com duas espécies de profissionais: os dinossauros do Diário Catarinense e as mulas ainda em formação da Universidade do Sul de Santa Catarina, a Unisul. Na universidade, sou mais atuante do que no jornal, mas em ambos eu analiso o modo como meus colegas conduzem suas carreiras.
Não quero comparar a qualidade dos que estão chegando a desses que aí estão. Em certos aspectos seria desleal. Os profissionais que já atuam têm a seu favor a experiência, a agilidade. São precisos os macacos velhos. Já adquiriram técnica (algumas raras exceções até somam técnica a outras ferramentas, e isso resulta em jornalismo). Em contrapartida, os universitários, os bons universitários, estão livres das formas, estão experimentando. Eles demoram muito para escrever uma reportagem, se esquecem os nomes das fontes, mas a falta de forma torna suas matérias diferentes, surpreendentes.
Pretendo colocá-los no mesmo cesto, chacoalhar bem para se misturarem e trocarem ideias. Depois, chamar-lhes a atenção para outra questão. Dinossauros e mulas têm que escrever para despertar a visão crítica da sociedade. Quando se faz jornal há uma preocupação com o impacto da edição. Nas aulas de Análise do Discurso – lá na Unisul – contaram para nós, as mulas, que existe um leitor virtual criado por quem escreve. Temos que agradá-lo quando sentamos a bunda na cadeira para digitar, digitar, digitar e digitar.
Pois bem, se os jornalistas e as mulas têm consciência de que precisam agradar a um leitor virtual, que seja de boa fé. Para ser ainda mais utópico: que seja para formar leitores críticos, como um dia foram as mulas. Formar leitores críticos e formar opinião são posturas distintas.
A professora Cremilda Medina estragou a festa quando nos contou em Notícia _ um produto à venda que o buraco é mais embaixo e que, há bastante tempo é praticado um jornalismo responsável por mudar a conta bancária de muita gente. Quanto mais eu leio a imprensa, mais eu sinto prazer em ler literatura. Lá, as pretensões são claras: narrar a ficção. Já a imprensa segue outra fórmula: narrar a história, baseada na verdade. Mas a verdade é tão suja que é melhor brincar com o interlocutor. Fazer jornalismo sem reflexão. Destruir a credibilidade de uma profissão.
Mulas! Dinossauros! Dinossauros e mulas. Diariamente, nós temos um tesouro em nossas mãos. Ele está bastante desvalorizado, é verdade. Mas poderá chamar-se joia rara depois que os dinossauros se reinventarem e que as mulas ocuparem as redações.
Nícolas David
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