segunda-feira, 30 de abril de 2012

A arte de protestar

Buzine pela cultura!
Às 13h30min o táxi conseguido às pressas parou na entrada do CIC (Centro Integrado de Cultura). Curioso, o motorista perguntou "O que está acontecendo aqui?" em resposta ouviu: uma manifestação cultural.


Há cinco dias, coletivos de artistas, estudantes e outros ligados à arte e cultura ocupavam a parte interna e externa do CIC em um movimento intitulado OCUPA CIC, que surgiu na segunda-feira, 23 de abril, após a tentativa de entregar a a carta reinvidicatória desenvolvidada pelo Fórum Catarina de Cultura, que pede, principalmente transparências nas decisões e nos investimentos feitos na área de cultura e explicações sobre a não-realização do Edital Elisabete Anderle, ao presidente da Fundação Catarinense de Cultura, Joceli de Souza. Na ocasião, o presidente se recusou a receber a carta e deixou o prédio do CIC. No dia seguinte, terça-feira, 24 de abril, Joceli aceitou a entrega do documento através de uma comissão de cinco manifestantes. Contudo, o ato de entrega não significa mudanças efetivas e imediatas.

Manifestar e protestar são atos civis de contestação, maneiras de mostrar o descontentamento com as políticas do governo. O Ocupa CIC veio para mostrar que é ainda possível fazer manifestações pacíficas e, principalmente, que é preciso lutar.

Barracas, faixas, debates, aulas, apresentações teatrais e expressões artísticas marcaram esses cinco dias de ocupação. Baderna, tumulto, brigas? Não há indícios que houve. Tem-se uma ideia muito moralista de manifestações e isso acontece um tanto pelo o que é noticiado na grande mídia, que condena protestos de maneira explícita ou implícita, outro tanto pela falta de consciência de grande parte da população sobre o que significam esses movimentos populares para o País. São pessoas que acreditam num valor maior que ao individualismo e, ainda, vão para as ruas lutar por aquilo que acreditam ser justo.

A sexta-feira do dia 27 de abril marcou o fim da ocupação simbólica. O grupo da percussão animava as mais de cem pessoas que se encontravam na parte externa do Centro. Malabares, palhaços, fitas, danças e sorrisos também compunham o cenário. Em momento algum se viu qualquer resistência por parte do Estado, o que caracterizou ainda mais a pacifícidade da manifestação. Apenas dois policiais civis acompanharam o grupo para fazer a proteção nas ruas e facilitar o trajeto. Pelo caminho a percussão e os manifestantes eram incansáveis. O sol quente não desanimava nem os mais velhos, que, empolgados, cantavam, pulavam e dançavam.

A primeira parada do grupo foi na Casa da Agronômica, residência oficial do governador do Estado e Santa Catarina. Lá, a artista e professora de artes cênicas da UDESC, Fátima Lima, 52 anos, leu o manifesto dos artistas e ao final gritou "Governador, cadê você? Viemos aqui só pra te ver!". O grito ganhou coro e força, mas não foi suficiente. Para Fátima, essa forma de protesto "É a única maneira de se fazer ouvir pelas autoridades do Estado. Estamos mostrando que tem uma quantidade grande de gente que têm suas demandas e que eles não escutam".

Quinze minutos de descanso, tempo necessário para os jornalistas avançarem em suas fontes e tomarem depoimentos. Márcio Cabral, diretor e ator, foi uma das vítimas e não escapou do Estopim. Natural de São Paulo, mora há 10 anos na ilha. Acredita que "Se o Estado incentivasse mais financeiramente a cultura o acesso seria facilitado". É a primeira vez que vê esse tipo de manifestação cultural e, apesar da boa repercussão que ele acredita que o Ocupa Cic terá, sempre existe o outro lado "A população condena essas manifestações, acham que é baderna". Alto, magro e com a barba grisalha encerra falando que "A arte é política".

Corroboram com a última fala de Márcio os movimentos culturais que explodiram no início dos anos 60. O que foi a contracultural se não um manifesto? A luta pela paz, a crítica aos meios de comunicação de massa, como a televisão, a discordância com os princípios do capitalismo e da economia de mercado. Uma crítica social e cultural que se propôs discutir politicamente através da arte da música, pintura, teatro, cinema e outras expressões culturais.

A caminhada do Ocupa Cic seguiu pelo meio da av. Beira-mar Norte. A ausência de cartazes foi rapidamente resolvida e papéis de caderno com "Buzine pela Cultura" começaram a surgir nas mãos dos manifestantes. A maioria dos carros acatou o pedido e o som das buzinas com a percussão casou muito bem sonoramente. O percurso que ainda teve o Shoppin Beiramar e a Fundação Franklin Cascaes como pontos de parada, acabou no TICEN (Terminal de Integração do Centro) onde continuaram as apresentações artísticas.

O fim do movimento não é previsto. Os próximos passos serão mapear pontos a acampamento na cidade e promover debates políticos e teóricos abertos a todos. Daniel Olivetto, 32 anos, é artista da companhia de teatro Experimentus e diz que o objetivo dessas mobilizações é que o governo realize uma assembleia pública para discutir com toda a sociedade as questões levantadas na carta. "Qual é a verba destinada a cultura? Quanto é o valor investido na cultura? A gente não está pedindo emprego. A gente quer que o dinheiro seja aplicado corretamente na cultura. O que a gente está fazendo não é pra gente, é para a sociedade".
É, Titãs já disse um dia " A gente não quer só comida/ A gente não quer só comida/ A gente quer comida/ Diversão e arte/ A gente não quer só comida/ A gente quer saída/ Para qualquer parte/ A gente não quer só comida/ A gente quer bebida/ Diversão, balé/ A gente não quer só comida/ A gente quer a vida/ Como a vida quer/ Bebida é água!/ Comida é pasto!/ Você tem sede de quê?"
Crédito das fotos: Thais Teixeira
Thaís Teixeira

Um comentário:

Anônimo disse...

Renato já disse um dia:
"Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Quem acredita sempre alcança!"
Moro na palhoça e não tinha conhecimento dessa manifestação até ler este post. Como foi dito no próprio , se não há incidentes com a segurança pública , dificilmente é noticiado. Creio que levará muito tempo pra população perceber que essas manifestações são para o bem do todo.
Parabéns pelo post.