sábado, 19 de maio de 2012


         Com a lucidez de mercado que nos é indispensável, fechamos gratuitamente, um pacote de novos escritores para o Estopim. O acordo estabelecido nos corredores do Hospital Unisul foi com gente careca de tanto administrar; gente homem e gente mulher; gente loura, que por sinal ri alto; gente grisalha, por causa das Ciências Políticas; cidadão que vai emagrecer um bocado por dizer sim à vida de professor; sujeito que não sabe se o Brasil vai bem ou mau politicamente e, por isso, é calvo; gente nova, moço que também se encontra careca de tanto falar de cinema; enfim, gente que vai ganhar e gente que já tem cabelos brancos, alguns, como mostrado, que não têm mais nada, mas sobretudo gente que usa trança para disfarçar a calvície. Não perca! Eles permanecerão em nossas páginas pelo exíguo espaço de uma semaninha. Esperamos que com eles esteja uma criança insana chamada criatividade, já que em nossos bolsos ela não se encontra.
A Patota

Por que ser produtor de cinema?
Daniel Marés



Há quem tenha mais habilidades técnicas do que outros no cinema. A eles cabem as funções de diretor de fotografia, técnico de som, editor. Há quem tem os conhecimentos da linguagem, da forma, do conceito. Estes viram roteiristas, diretores. Os sensíveis e alternativos são diretores de arte, figurinistas, maquiadores. Os que não são nada disso, que não sabem fazer nada disso, mas são cínicos, descrentes e paranóicos, esses, ah, esses viram produtores.

Eita figura mais necessária com uma função tão ingrata. Não há louros para a produção, não há prêmios, não há gratificações. Só há cobranças. É o motivo dos cochichos pelos cantos das locações. Mesmo assim, o produtor é responsável por tudo que está acontecendo. Todos estão ali, tudo esta no lugar porque alguém tem a capacidade de realizar várias tarefas ao mesmo tempo.

Os eletricistas e maquinistas ajustando a iluminação de acordo com os comandos do diretor de fotografia. Os cenógrafos e cenotécnicos montando o cenário. Elenco passando o texto diante dos olhos atentos do diretor. Para quem vê de fora, parece tudo uma bagunça, uma desordem total. Mas ao contrário do que parece, o set está andando bem.

Em meio a este circo, uma figura olha tudo mais atentamente que os demais. Alguma coisa não deu certo; alguém fez algo errado que precisa ser resolvido em pouquíssimo tempo. Algo foi esquecido; alguém deveria ter feito algo e não fez; atraso no horário, na alimentação, no transporte. Neste momento, o produtor pensa consigo “o que diabos estou fazendo aqui?!” Com tantas opções de profissão, tantos empregos estáveis e com benefícios, por que eu escolhi estar aqui, numa função tão...

O produtor não participa efetivamente do processo criativo. Para isso, o diretor sempre conta com o fotógrafo e o diretor de arte, mas nunca com o produtor. A ele cabe a triste tarefa de trazer para o chão as ideias do diretor e roteirista, mas impossíveis de serem realizadas. Por falta de verba, de técnicos e de tempo. Corta, corta, corta, diria o produtor ao ler o roteiro junto com o diretor.

“E se no lugar do exército a cavalos tivéssemos um pequeno grupo de cinco ou seis caras, uma milícia?”, “em vez de se passar na Itália, esta cena poderia ser numa cidade do interior do Brasil?”, “sem helicóptero, não teremos helicóptero”, “não, não podemos ter aquele ator”, e aí as coisas vão se ajustando de forma que o trabalho da produção caiba nas modestas condições orçamentárias do filme.

Não, o produtor não é “o cara” na realização de um filme. Não estou aqui tentando “endeusar” a figura. Não, o trabalho do produtor não é maior, ou mais importante que as outras funções, que os outros profissionais. O produtor é mais uma engrenagem nesta maquina maluca da realização fílmica. E a resposta a pergunta “por que alguém quer ser produtor de cinema?” é fácil responder: porque nós adoramos essa pressão toda. Porque estar num set de filmagem é uma sensação única. Um set nunca é igual a outro. As pessoas são outras, os problemas são outros, e as soluções também. O prazer de ver as coisas funcionando, cada um na sua área, cada um desempenhando o seu papel, a sua função, todos com um objetivo: o filme. 

Mas o que mais me motivou a escrever este texto foram as inúmeras vezes em que tive que explicar aos amigos que não são da área “o que mesmo que faz um produtor?” Sempre respondo: “o produtor FAZ o filme. O produtor e o diretor. Os outros são técnicos”.

Daniel Marés

Um comentário:

Ana Paula Mendes disse...

Caramba, Dani. Não me identifiquei com quase nada, e não concordo com sua visão de o que é um produtor de cinema! Taí uma figura que sim participa do trabalho criativo do filme! O produtor de verdade tem sim sensibilidade e conhecimento técnico para exercer sua função. Ele precisa disso. O produtor, acima de tudo, é um diplomata. E claro que existe reconhecimento! É só lembrar que o Oscar de Melhor Filme é entregue ao produtor... E pode-se ter a noção da importancia dessa figura no processo inteiro de se fazer um filme - criativo e financeiro. Enfim... Besos!