sexta-feira, 18 de maio de 2012


         Com a lucidez de mercado que nos é indispensável, fechamos gratuitamente, um pacote de novos escritores para o Estopim. O acordo estabelecido nos corredores do Hospital Unisul foi com gente careca de tanto administrar; gente homem e gente mulher; gente loura, que por sinal ri alto; gente grisalha, por causa das Ciências Políticas; cidadão que vai emagrecer um bocado por dizer sim à vida de professor; sujeito que não sabe se o Brasil vai bem ou mau politicamente e, por isso, é calvo; gente nova, moço que também se encontra careca de tanto falar de cinema; enfim, gente que vai ganhar e gente que já tem cabelos brancos, alguns, como mostrado, que não têm mais nada, mas sobretudo gente que usa trança para disfarçar a calvície. Não perca! Eles permanecerão em nossas páginas pelo exíguo espaço de uma semaninha. Esperamos que com eles esteja uma criança insana chamada criatividade, já que em nossos bolsos ela não se encontra.
A Patota

Pavio curto
Valmir dos Passos


Como sou lá de Criciúma, terra de gente que fuça o chão atrás de carvão (esta riminha chinfrim não foi intencional), acho que tenho uma relação diferente com o estopim. É que o desmonte da rocha exige umas bananas de dinamite e, grudadinho nelas, vai o pavio branco que carrega a chama fatal.

O foguista ou queimador, peão encarregado de fazer o fogo, ou seja, carregar a dinamite e mandar tudo pro ar, sabe bem os riscos do negócio. É ofício de gente grande.

Agora essa gurizada do Jornalismo inventou de mexer com estopim. Minha memória dos tempos de mina (que trabalhei em mina, sim senhor!), traz inquietação. O que será que esse povo quer explodir?

Aí me pediram para escrever alguma coisa. Irresponsáveis! Só posso cobrar deles o que prometem: uma explosão de criatividade, rebeldia e talento.

Com estas armas, conquistadas com o trabalho e seriedade que o pensamento crítico exige, esses moços e moças tem muito trabalho por fazer. Há muito o que se detonar neste mundo. E não é necessário sair da trilha da comunicação social para se encontrar rochas, obstáculos, entulhos e todo tipo de enrosco merecedor de uma bela explosão.

Mandem paro o espaço todas as formas de preconceito enraizadas nas mídias. Coloquem a baixo os impérios de comunicação (e seus serviçais). Ataquem o pseudojornalismo de exaltação, o venal, o engraçadinho (nada contra a comédia). Desmistifiquem o jornalismo verdade, isento e imparcial. Chamem pra briga os assessores da mentira, os maquiadores de fatos, anunciantes do caos, inventores de capas, adoradores de manchetes, os vendeiros da informação, os bajuladores do patronato.

Façam tudo com muita elegância. Façam tudo com radicalidade. Aproveitem a mocidade e bebam dessa fonte maravilhosa de indignação, entusiasmo e otimismo. Agreguem à mocidade o conhecimento libertário que a academia pode facilitar. Mergulhem com vigor na história, bebam na teoria social, produzam e degustem da cultura popular, da cultura erudita, da cultura do mundo. Mas mandem pro inferno os clichês modistas, os badulaques de butiques, os movimentos de galera, os cacarecos da indústria cultural.

Não esqueçam de afirmar o amor, a solidariedade, o respeito às diferenças. Acima de tudo, emprestem seus estopins aos povos em luta, aos movimentos de libertação, às minorias do mundo, os segregados, amaldiçoados, os párias, os desvalidos, os maltrapilhos. Juntem-se aqueles que nada tem. Aqueles que a escola não viu, que a universidade não aceitou, o mercado degradou. Esse povo chora baixinho, não escreve, não tem blog, email, computador.

Moços e moças do estopim, não falo pra vocês. Uso esse gostoso espaço, agradecendo a oportunidade, para falar com aqueles que ainda vivem a cultuar o poder, o glamour e a esterilidade do pensamento hegemônico.

Vocês, moços e moças do estopim, nos encorajam, professores (grisalhos ou carecas), na insistência de educar. Estamos atentos.

Valmir dos Passos

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