Com a lucidez de mercado que nos é indispensável, fechamos gratuitamente, um pacote de novos escritores para o Estopim. O acordo estabelecido nos corredores do Hospital Unisul foi com gente careca de tanto administrar; gente homem e gente mulher; gente loura, que por sinal ri alto; gente grisalha, por causa das Ciências Políticas; cidadão que vai emagrecer um bocado por dizer sim à vida de professor; sujeito que não sabe se o Brasil vai bem ou mau politicamente e, por isso, é calvo; gente nova, moço que também se encontra careca de tanto falar de cinema; enfim, gente que vai ganhar e gente que já tem cabelos brancos, alguns, como mostrado, que não têm mais nada, mas sobretudo gente que usa trança para disfarçar a calvície. Não perca! Eles permanecerão em nossas páginas pelo exíguo espaço de uma semaninha. Esperamos que com eles esteja uma criança insana chamada criatividade, já que em nossos bolsos ela não se encontra.
A Patota
Maria T. do Sacramento
Houve um tempo em que o homem acreditou que Deus o conduziria ao futuro. Depois chegou a razão iluministas e o homem depositou sua confiança no Estado. Nele depositou também a esperança da justiça e da liberdade. O espírito desse tempo vem embalando o homem, há mais de um século, para que não se acorde do sonho de uma sociedade de iguais. No lugar de revigorar as forças desse crente, para lutar por uma melhor ordem social, prefere mantê-lo acorrentado ao sonho.
Essa distância entre o tempo de uma liberdade convicta pelo repúdio à uma tradição, Maquiavel desenhou com a aquarela do Renascimento, o poder sem escrúpulo e sem moral. Exaltou a ambição do político com a crença e a lealdade à razão do Estado.
No decurso desse longo sono, o mundo não parou, os problemas se acumularam e os danos, grandes demais para serem omitidos.
O despertar chegou a ser anunciado pelos que acreditavam em uma pós-modernidade. A globalização foi cantada como uma "aldeia global" e o desabamento do socialismo, submetido a uma cruel prova de força do neoliberalismo. Por outro lado, a dignidade humana e a igualdade como os pilares de sustentação do Estado democrático de direito, tornou-se o maior desafio dos novos tempos. Os cidadãos que deixam seus países para lutar pela sobrevivência nas democracias modernas, não são tratados como iguais. A xenofobia destruiu o sentimento público e as promessas de dias melhores viraram slogan de campanhas políticas em todo mundo.
Os conflitos entre Israel e Palestina, os conflitos étnicos nos Bálcãs atingiram a dignidade dos povos sérvios, croatas, eslovenos, macedônios, albanês e húngaros. O avanço do fundamentalismo islâmicos para o norte da África, do Oriente Médio e do Sul da Ásia, a derrocada do despotismo no Oriente e o rastro de destruição, a vingança dos americanos ao atentado às torres gêmeas colocam em cheque a convicção do direito como proteção à igualdade e à dignidade humana.
Durante o mandato de Nicolas Sarcozy, o parlamento francês aprovou a lei que proíbe o uso do véu islâmico integral, como a burca ou o niqab em lugares públicos. O acontecimento foi comemorado pela ministra de justiça, daquele país, como êxito da democracia e da república.
Podemos acreditar em uma democracia que veda o direito do homem adorar seus deuses, respeitar suas crenças, ser diferentes em gênero, não ter igualdade no acesso à saúde, à justiça, ao trabalho e para aqueles com necessidades especiais continuar no último lugar da fila?
Richard Sennett, responderia esta pergunta citando Balzac ao definir a cidade de hoje como a expressão da psique humana totalmente emancipada das obrigações estáveis e dos deveres. A corrupção, a delinquência juvenil, o abuso do poder, a substituição da família pela cidadania, da autoridade paterna pelas algemas, da brincadeira nos finais de tarde pelo comércio ambulante das drogas, o abuso e a violência sexual no lugar do carinho e da proteção substitui a moral. Esse é o retrato cotidiano, A Comédie Humaine diria Balzac.
O que deveria ser a solução dos problemas sociais tornou o homem em um ser civil, artificial,vazio, sem esperança, sem futuro. O discurso da igualdade e da dignidade humana tornou-se uma hipocrisia quando isola as contradições da democracia, segregando as raças, confinando os pobres e desempregados em guetos, favelas e em comunidades isoladas enquanto esconde a corrupção, blinda os fortes, as prisões lotam e a cidade se torna palco dos sem teto, dos crimes e da contraversão.
O medo, o único sentimento que restou a esse ser civilizado, transformou a sociedade na guerra de todos contra todos como diria Thomas Hobbes.
Maria T. do Sacramento
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